Diretor Agroindustrial da Usina São Martinho
Op-AA-28
O fato de a cana-de-açúcar somente poder ser propagada vegetativamente confere a essa cultura características próprias no seu plantio. Desde a origem dos cultivos no Brasil, o seu plantio tem sido efetuado, inicialmente, de forma manual, com posteriores auxílios de operações mecanizadas. Durante muito tempo, permaneceu como operação semimecanizada, com abertura e fechamento do sulco, assim como a aplicação de insumos na forma mecanizada, com a colheita, a distribuição e a picação em toletes da muda efetuadas manualmente.
Por razões de difícil explicação, a colheita da cana teve a sua mecanização antecipada em relação ao plantio mecanizado. Com o crescimento da colheita mecanizada, as empresas foram, gradualmente, diminuindo o contingente de mão de obra e se viram forçadas a mecanizar o plantio, parcial ou totalmente.
Existe, hoje, uma diferença de domínio de tecnologia entre colheita e plantio, com vantagem para a primeira. Durante os últimos quinze anos, os equipamentos de colheita evoluíram sensivelmente, o preparo das áreas foi aperfeiçoado, e ocorreu um grande crescimento na capacitação das pessoas que fazem a gestão e a operação da colheita e a manutenção dos equipamentos.
Agora, chegou a vez de mecanizar o plantio. O mesmo processo de aprendizado e desenvolvimento pelo qual a colheita passou será experimentado pelo plantio. Preparar o campo, eleger e desenvolver sistemas e equipamentos e, fundamentalmente, educar as pessoas envolvidas na operação são os alvos das empresas do setor neste momento.
O grande desafio do plantio mecanizado começa pela colheita mecanizada da muda. A gema, os primórdios radiculares e o colmo seccionado devem ter a maior integridade possível. A qualidade final do plantio é a função direta da qualidade da muda. Inicialmente, toda a atenção estava voltada para a gema, mas, com o tempo, constatou-se que, com um sistema radicular reduzido, a resistência do broto recém-emergido é muito diminuída e, com danos nos toletes, as infecções proliferam rapidamente. A proteção química dos toletes contra fungos ainda não está dominada.
O planejamento da formação dos viveiros deve levar em consideração a distância em relação à área a ser plantada, a variedade, sua sanidade e também a idade, que pode ser decisiva no sucesso do plantio. Localizar os viveiros próximos das áreas de plantio exige planejamento refinado, com um ano de antecedência.
A MEIOSI (método intercalar rotacional ocorrendo simultaneamente) mecanizada é também uma nova e excelente opção, facilitando a logística de abastecimento das plantadoras e minimizando os custos. A partir de uma boa semente, temos que distribuí-la de forma adequada para obtermos uma população final satisfatória. Aí reside o segundo grande desafio do plantio mecanizado.
Para diminuir os danos nos toletes e na área de exposição, foram escolhidos toletes de 400mm, o que dificulta a sua distribuição. Em nome dessa má distribuição, aumenta-se a quantidade, diminuindo a autonomia da plantadora e aumentando a área de viveiros. Tudo de forma a aumentar os custos da operação. Quantidades elevadas de muda por área nos levam a grandes compartimentos nas plantadoras, com reflexos negativos na operacionalidade, na potência requerida, no raio de giro e no retorno após chuvas.
Outros fatores, como preparo do solo, abertura do sulco, aplicação de fertilizantes, inseticidas e a cobertura dos toletes, são igualmente importantes, porém, já considerados dominados, uma vez que eram executados no plantio manual. A partir da forma mecanizada, os cuidados diferenciados não terminam com o fechamento do sulco.
A brotação dos toletes que passaram pela colhedora, pelos transbordos e pela plantadora necessita de cuidados especiais, uma vez que, comprovadamente, apresenta menor vigor, menor resistência ao déficit hídrico e grande suscetibilidade aos herbicidas. Sempre mostrando evidentes sintomas de fitotoxidade quando a aplicação não é realizada em pré-emergência total. Vale ressaltar também que a brotação é muito mais afetada pela concorrência de ervas daninhas.
A adoção do piloto automático adicionou muita qualidade ao plantio mecanizado, não somente pelo paralelismo das linhas, mas principalmente para facilitar a operação nas manobras de cabeceira. Com a necessidade iminente da opção pelo plantio mecanizado, provocada também pelas novas fronteiras de expansão da cana onde a mão de obra não existe, até pela baixa densidade demográfica, novas tecnologias deverão ter uma evolução mais rápida.
A expectativa é que as maiores mudanças acontecerão para obtenção de algo parecido com uma “semente de cana”. Ou seja, substituir os pedaços de colmo que têm papel importante na proteção da gema e primórdios radiculares de infecções, como barreira mecânica e de reserva de nutrientes, por proteção e também reserva química.
A partir do momento que obtivermos um minitolete com forma mais próxima de uma esfera, além de diminuirmos a massa a ser transportada e plantada, sua distribuição será extremamente facilitada. Poderemos, então, estabelecer, para cada variedade, a cada época, uma quantidade de gema por metro linear e trataremos o plantio como uma semeadura perfeita, com resultados em população e uniformidade ideais.