Me chame no WhatsApp Agora!

Marcos A. Petean Gomes

Diretor Executivo da Gênica Inovação Biotecnológica

OpAA86

Insumos biológicos: pilar estratégico da agricultura tropica
Os trópicos oferecem um privilégio singular: produzir o ano todo e, em alguns cultivos, realizar múltiplas safras. Mas esse ambiente impõe desafios — pragas, doenças, degradação do solo e perda de nutrientes. Superar essas barreiras e manter a competitividade global é um feito que o agricultor brasileiro conquista com tecnologia e resiliência.
 
Enquanto países com clima temperado são menos propícios à ocorrência de pragas e doenças e geralmente estão sobre solos mais férteis — e, em alguns casos, contam com suporte estatal —, o Brasil avança pela inovação e crescimento vertical. Entre as transformações mais marcantes, o uso de insumos biológicos, tanto fitossanitários quanto nutricionais, torna-se uma das revoluções mais bem-sucedidas do agronegócio mundial. Nenhum outro país alcançou tamanha escala e diversidade de aplicação.
 
A cana-de-açúcar é pioneira nesse processo:por mais de 50 safras, os produtores de cana--de-açúcar adotam o uso de biodefensivos em seu manejo — desde clássicos como Metarhizium anisopliae e Cotesia flavipes até formulações modernas com consórcios microbianos para o controle de nematoides e doenças e melhor aproveitamento de nutrientes. Na última safra, mais de 9 milhões de hectares foram tratados com bioinsumos. Em soja e milho, a adoção chega a 40–50%.
 
No manejo de nematoides, a transformação é ainda mais expressiva: majoritariamente, o manejo desses patógenos é feito com bioinsumos. Seja em cana-de-açúcar, milho ou soja, mais de 80% dos nematicidas utilizados são biológicos, refletindo a maturidade técnica e a confiança nessas soluções. No manejo de pragas da cana-de-açúcar, os biológicos também se consolidaram no controle de Diatraea saccharalis, Mahanarva fimbriolata e Sphenophorus levis — desafios intensificados pela mecanização da colheita, mas que encontram nos bioinsumos uma alternativa altamente eficaz, conferindo maior efeito residual e ação complementar aos métodos convencionais.
 
Entre todos os segmentos, o que mais cresce é o de biofungicidas, hoje peça central no manejo preventivo de doenças foliares. Com crescimento acima de 60% ao ano, o mercado deve ultrapassar US$ 1 bilhão até 2030, impulsionado pela busca por ferramentas eficazes e sustentáveis, que ofereçam maior efeito residual e contribuam para o manejo da resistência de patógenos — um desafio especialmente relevante em regiões tropicais.
 
O avanço dos biológicos, ao contrário do que muitos pensam, não nasce da agricultura orgânica, mas da agricultura convencional de larga escala, que busca rentabilidade, produtividade e eficiência. São usinas e produtores altamente tecnificados que lideram essa transformação, integrando rotação de culturas, uso de compostos orgânicos e bioinsumos em programas estruturados de manejo. Os resultados são sistemas produtivos mais rentáveis, resilientes e sustentáveis, sustentados por fundamentos econômicos e agronômicos sólidos.
 
Estamos apenas no início dessa jornada. Os biológicos de primeira geração, baseados em biomassa microbiana, abriram caminho. Agora desponta uma nova era, sustentada por moléculas orgânicas, metabólitos, peptídeos e tecnologias baseadas em RNA, que unem o efeito imediato e a estabilidade da química à seletividade e sustentabilidade dos biológicos. Essa convergência científica cria um horizonte promissor, no qual o Brasil tende a se consolidar como protagonista global.

Nos últimos anos, a evolução das formulações e dos organismos adaptados à aplicação em larga escala ampliou a confiança e a praticidade no uso de biológicos. Agora, a fronteira da inovação avança para moléculas orgânicas e metabólitos de alta performance, capazes de expandir o espectro de uso, reduzir limitações operacionais e abrir espaço para a internacionalização da tecnologia brasileira. 

O País já exporta formulações e cepas biológicas, e o futuro passa por produtos ainda mais estáveis e com maior vida útil, consolidando o Brasil como referência global em inovação aplicada à agricultura tropical.

Em bionutrição, os avanços também são expressivos. Microrganismos fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fósforo já são amplamente utilizados, e novas abordagens aprofundam o entendimento sobre a ecologia microbiana do solo, permitindo aplicações mais precisas e adaptadas a cada ambiente. Essa frente representa uma das maiores oportunidades de descarbonização do agro, sobretudo pela redução no uso de fertilizantes nitrogenados de base fóssil. 

Estudos apontam possibilidades de reduções de até 40% no uso de nitrogênio mineral, sem perda de produtividade — um marco em eficiência e sustentabilidade. Outro ponto estratégico é a redução da dependência de insumos importados, como fertilizantes minerais e defensivos químicos, sujeitos a volatilidades externas.

Fortalecer a indústria nacional de biológicos é também fortalecer a soberania e a sustentabilidade do agro, tanto econômica quanto ambiental. Para nós, sustentabilidade vai além do aspecto ecológico: trata-se de sustentabilidade produtiva, que assegura autonomia e competitividade.
 
As empresas que lideram essa evolução já entenderam que inovação com propósito é o verdadeiro diferencial competitivo. Investir em pesquisa aplicada, compreender as dores reais do campo e transformar ciência em soluções de valor será essencial em um ambiente de crescente concorrência e novos entrantes.
 
A mentalidade do produtor brasileiro é hoje uma das mais avançadas do mundo no uso de biológicos. Nenhum outro país combina escala, diversidade e intensidade tecnológica como o Brasil — resultado da confiança crescente do setor produtivo nessas soluções.
 
Produtividade, rentabilidade e segurança sustentam a confiança crescente nos insumos biológicos e fazem do Brasil um protagonista global em inovação agrícola sustentável. E esta é apenas a primeira etapa de uma grande jornada — um caminho em que economia e sustentabilidade avançam juntas para alimentar o mundo, gerar energia e regenerar o planeta.