Atualmente, o setor sucroenergético brasileiro utiliza ferramentas modernas de sistemas de gestão integrada, na qual, a partir das informações levantadas pelos softwares, é possível fazer diagnósticos aprofundados sobre as medidas necessárias para reduzir custos e aumentar a produtividade.
Entretanto, quando visualizamos especificamente o desempenho da moagem, vemos que esses sistemas coletam muitos dados, porém analisam nada ou, de fato, quase nada dos fatores que influenciam em um melhor resultado, isto é, uma maior extração e capacidade.
O Brasil é líder mundial em capacidade de moagem, e, apesar disso, a informação e conhecimento de como chegamos a esse desempenho são escassas, pois está nas mãos dos consultores especializados e poucas empresas privadas, passando longe de universidades e institutos de pesquisa setoriais.
Em nenhum lugar no mundo, encontramos usinas moendo tanto como no Brasil, com tão vantajosa relação Capex versus capacidade, aliada a ótimas eficiências. Exemplifico isso quando comento com produtores das Américas, da África e da Ásia que "temos usinas moendo mais de 24.000 toneladas de cana por dia, com extração média de safra entre 96,5 e 97% em uma única linha de seis moendas 90", e a primeira reação deles é de incredulidade.
Temos competentes consultores na área de extração de caldo no Brasil, com especial menção aos oriundos do CTC (Centro de tecnologia Copersucar) dos anos 1970, 1980 e 1990, que era um centro de desenvolvimento tecnológico setorial, inclusive trazendo engenheiros estrangeiros que, em parceria com engenheiros brasileiros, tiveram grande importância em nosso desenvolvimento, resultando em elevado ganho de escala e eficiência.
Encontramos, nos sistemas das usinas, dados abundantes referentes ao desempenho da moagem, dos laboratoriais aos operacionais. Porém, para que servem tantos dados, se apenas são utilizados, quando muito, para ver quanto moeu e se os números de extração e umidade do bagaço não estão bons, chamando, assim, a atenção do encarregado da moenda.
O acompanhamento de forma mais aproximada e contínua pode resultar em relevantes ganhos de eficiência, relacionando os diversos dados disponíveis com o conhecimento em engenharia de moagem, analisando os resultados da correlação entre eles, dos mais básicos, como embebição e extração, aos mais complexos, como taxa de utilização da capacidade de moagem das moendas, relação entre a rotação da regulagem e rotação efetiva de trabalho, como também a relação dos ângulos dos frisos e o desempenho em moagem e extração.
Esse acompanhamento contínuo pode detectar pequenas variações na eficiência e possibilita identificar os itens que influenciaram nos resultados, gerando rápidas soluções. Porém esse conhecimento em engenharia de moagem não está nos atuais ERPs e sistemas supervisórios, mas apenas com os colaboradores das usinas e ainda mais concentrados nos consultores.
Vendo essa lacuna nos sistemas atuais, consideramos que o setor está atrasado no desenvolvimento de um sistema específico para acompanhamento do desempenho da moagem, focado em engenharia de moagem, que é alimentado com os dados já disponíveis, correlacionando-os e comparando-os com o histórico de safras passadas, possibilitando realizar benchmarking, gerando, assim, ganhos de produtividade e elevação da eficiência da alocação dos recursos na área de extração de caldo.
Temos como ideal o desenvolvimento de um sistema que trabalhe com um banco de dados seguro e ilimitado em nuvem, rodando numa linguagem ágil, que possa ser configurado para atuar de forma independente pela usina, ou com o gerenciamento de seus consultores.
A interface gráfica deve possibilitar análises e comparações do impacto das variações de cada item que possam influenciar no desempenho, correlacionando-os, inclusive, com o histórico de safras passadas, em especial a influência dos resultados agrícolas no desempenho da moagem. Esse sistema ideal deve também dispor da análise automática de ensaios das moendas, retornando os pontos de deficiência e recomendando análises pontuais, gerando diagnósticos dos pontos a serem melhorados.
O banco de dados e as ferramentas de análises desse sistema devem também possibilitar que as usinas possam medir o impacto no desempenho e consequente perda ou ganho de faturamento de decisões, hoje difíceis de avaliar, como a postergação da troca de pentes ou martelos de desfibradores gastos, a diminuição ou aumento da taxa de reposição de solda, o impacto de impurezas minerais e vegetais no desgaste e consequente desempenho, entre outros.
Umas das lições que ficarão da atual pandemia é a necessidade da possibilidade do uso de ferramentas de TI para trabalhos que, hoje, são realizados de forma presencial. Um sistema ideal de moagem on-line deverá também permitir aos consultores que seja analisado, de forma diária, o desempenho de seus clientes, detectando pontos de melhora e indicando ensaios que poderão ser analisados rapidamente, de forma remota e automática, sem a necessidade de se estar presente na usina.
O uso de ferramentas de inteligência para a área de extração de caldo é o caminho necessário para o setor sucroenergético brasileiro continuar seu desenvolvimento e se manter na liderança. Porém é necessária uma maior integração entre as ferramentas já disponíveis com o conhecimento e
expertise em engenharia de moagem.