Estamos vivendo um momento de muita apreensão em nosso país. Em poucos meses, escolheremos os nossos novos representantes que conduzirão o Brasil nos próximos anos. Cada um de nós procura chegar perto daqueles que podem ser eleitos, e, como representantes classistas, tentamos mostrar as nossas angústias, anseios e o que o setor necessita para voltar a ser forte e remunerador.
A empreitada é árdua. Muita coisa deve ser considerada, como a economia interna e externa, políticas públicas, opinião dos consumidores e perspectivas macroeconômicas. A esperança nos move nesse momento, e é imprescindível o compromisso e empenho de todos.
É notório que o Brasil precisa de mudanças. Poderia citar aqui inúmeros episódios que se passaram em nosso país nos últimos quinze anos e que mancharam a nossa história. Por um lado, isso fortaleceu algumas das nossas instituições que, hoje, tem mais força, segurança e apoio para fiscalizar e tomar as atitudes necessárias para o cumprimento das leis. Por outro lado, mostra que o sistema político nacional precisa de urgentes alterações.
Não podemos aceitar o “mais do mesmo”. Precisamos de mentes novas e abertas aos desafios atuais, que possam fazer uma política limpa, pensando no País e não nos próprios interesses ou do partido. Esse desafio cabe a nós eleitores. Está na hora de perguntarmos o que John Kennedy perguntou, em 1961, para seu povo: “O que você pode fazer pelo seu país?”.
A política desastrosa fez com que os brasileiros ficassem céticos em relação ao futuro do País. Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem segundo a qual 62% dos nossos jovens, se pudessem, deixariam o País, alegando falta de oportunidade, insegurança e frustração com a administração pública nacional. Não era de se espantar.
Hoje, o Brasil conta com o significativo número de mais de 13 milhões de trabalhadores desempregados. O Brasil não está contratando. O aparelhamento do governo, baseado e administrado por ideias sindicalistas, fez com que o empregador pensasse duas vezes na hora da admissão, quando não, fechasse as portas das empresas por injustiças trabalhistas praticadas contra o empregador. Esse período da nossa história parece estar com os dias contados devido à atualização da CLT, que não está como deveria, mas já mostra uma equidade maior entre colaborador e empresário.
Trazendo esse cenário para o nosso setor, vimos uma atividade extremamente importante para o País parada por falta de investimentos e de insegurança quanto ao futuro. O setor sofreu muito com a política de preços da gasolina praticada pelos governos populistas anteriores, que vislumbravam apenas a continuidade no poder e deixou o nosso país à míngua.
Quando pensávamos que a Petrobras estava no caminho certo, voltando a ter interesse do investidor estrangeiro, aumento do seu capital, mostrando ao mundo que era uma grande empresa em retomada de crescimento, vem mais uma vez o governo e interfere na sua política, o que refletiu imediatamente no setor sucroenergético.
Temos a esperança no RenovaBio, que pode trazer uma transparência maior ao setor, trabalhar com a meritocracia e gerar uma receita extra para os industriais. É imprescindível que o produtor de cana entenda, participe e ganhe com esse processo juntamente com as usinas.
Não podemos mais ver os números astronômicos de certas unidades industriais que crescem, ampliam sua capacidade de moagem e capital, investem em tecnologia de produção, e o produtor de cana não participa desse processo e fica cada vez mais endividado, com a sua cana remunerada por um sistema inteligente, que é o Consecana, porém ultrapassado. O diálogo deve ser constante, para que possamos chegar a um valor justo da matéria-prima, tanto para as indústrias como para os fornecedores.
Aliado a todo esse processo, temos o dever de mostrar ao consumidor o que realmente é o nosso setor. Estamos sendo assombrados constantemente pelo carro elétrico como sendo mais limpo e eficiente. Será que é verdade? A agência ambiental da Europa diz que se a estimativa de 80% de veículos elétricos se concretizar até 2050, o aumento na demanda por energia elétrica irá aumentar 25% em relação à demanda atual nos 28 países-membros da União Europeia.
E adivinhe como é produzida a energia elétrica europeia? Quase metade (48,1%) vem das usinas térmicas, movidas a combustíveis fósseis. E no Brasil não é diferente. Os nossos veículos necessitam ser atualizados para trabalharem sob uma melhor performance, eficiência e autonomia, e temos, com o etanol, um passo gigantesco à frente. Precisamos focar na política de utilização do nosso combustível. Sabemos que as entidades fazem, e muito, para que o governo possa enxergar essa realidade. Falta o outro lado aderir à causa, que trará, sem dúvida, nova esperança ao setor.
Por mais que tentemos planejar o nosso futuro de uma forma independente, é imprescindível que o setor comece a pensar coletivamente. Enxergamos, muitas vezes, algumas situações regionais em que as unidades industriais dão passos gigantescos, e o produtor de cana continua estagnado, ou, até, perdendo o seu patrimônio para honrar os seus compromissos financeiros. A nova fase dessa cadeia deve ser totalmente integrada. Devemos utilizar o Consecana para determinar o valor da cana-de-açúcar e, aliado a ele, devemos discutir regionalmente entre associações e usinas qual o valor justo para a matéria-prima.
O conceito de produtor integrado deve ser incorporado nessa cadeia tão complexa, e que os lucros, os prejuízos e todos os riscos inerentes ao negócio sejam compartilhados entre as partes. A dependência é mutua, e nada mais justo que ambas possam andar de braços dados compartilhando riscos. Feito isso, teremos um setor mais profissional, produtivo e atraente para os produtores.
Além das questões regionais, os dois lados devem lutar juntos pelas questões macroeconômicas da nossa atividade. Vivemos em constantes discussões em relação à utilização do etanol como combustível limpo e sustentável do País. Essa agenda deve ser comum, compartilhada e discutida com as esferas governamentais e os organismos internacionais.
A luta pela adoção do etanol como combustível principal deve ser de ambas as partes, alocando esforços, participando de discussões e ajudando na difusão da tecnologia. Outra questão importante é em relação ao açúcar. Os valores internacionais do produto estão em patamares muito baixos, o que traz baixa remuneração tanto para as indústrias como para os produtores de cana. Sabemos que alguns países asiáticos subsidiam os seus produtores, fazendo com que exista uma injustiça na aferição dos preços.
Recentemente, estivemos em Roterdã para um encontro da WABCG e, de uma forma enfática, um trader internacional experiente foi implacável com os produtores de beterraba: “Ou se diminui a área de plantio de forma deliberada, ou o mercado fará isso de forma cruel”. Outra questão importante é em relação à propaganda contrária ao consumo de açúcar que vem crescendo ao redor do mundo e que interfere negativamente no setor.
Será que o vilão é mesmo o açúcar? Será que os nossos jovens não estão deixando de se exercitar e cada vez mais ficam em suas casas, ociosos, utilizando equipamentos eletrônicos? São perguntas que devem ser respondidas em conjunto, indústrias e produtores, para que não sejamos taxados como vilões.
Enfim, a nossa atividade precisa ser reinventada. Devemos nos aproximar de legisladores que escutem a nossa voz, entenda todo o nosso processo, enxerguem e desenvolvam políticas de longo prazo com segurança jurídica, para que investidores possam voltar a se interessar pelo setor e que ele volte a crescer e gerar divisas para o Brasil.
Precisamos fortalecer a parceria indústria-produtor, desenvolvendo um novo Consecana, atualizado com a realidade do setor e que possa fazer com que ambas as partes caminhem juntas, dividindo os riscos da atividade e trabalhando de forma integrada. Acreditamos muito nesse negócio e temos a certeza de que, juntos, poderemos ser os grandes desenvolvedores do setor sucroenergético. Isoladamente, pouca coisa irá mudar.