Não há como negar que o clima está mudando, no entanto, dizer que essa mudança é causada pelo homem ou se trata de um ciclo natural da evolução do planeta Terra é uma pauta para outro momento de discussão.
Mas o fato é que as anomalias climáticas, que antes apareciam em menor frequência, com ciclos aproximados de 10 anos, hoje estão se tornando cada vez mais corriqueiras. E não estão mais caracterizadas apenas pela falta ou pela péssima distribuição das chuvas, mas também vêm acompanhadas por extremos na temperatura ou por baixas temperaturas, fato que ocorreu na safra 2021/2022, onde em várias regiões do estado de São Paulo ocorreram três fenômenos de geada seguidos ou por fortes ondas de calor, como ocorreu na safra 2024/2025. E persistem em acontecer no início do ano de 2025.
Infelizmente, o setor sucroenergético ainda é muito dependente da precipitação, o que leva a grandes variações na nossa produtividade. Ou seja, em anos em que temos alta pluviosidade e essa é mais bem distribuída, temos safras com alta produtividade; entretanto, quando temos anos com baixa pluviosidade ou com chuvas mal distribuídas, consequentemente apresentamos enormes quedas de produtividade, ou como dizemos, anos com “quebra na safra”.
Apenas lembrando que tão ou até mais importante que a quantidade de chuva é a sua distribuição durante o ciclo da cana-de-açúcar. As mudanças climáticas que nos levam a estas oscilações na produtividade estão nos desafiando cada vez mais a “fechar a conta”, pois a produtividade não é apenas um número a ser apresentado, mas sim é a base de todo o nosso planejamento industrial e agrícola.
Recentemente, apresentado no Irrigacana na cidade de Ribeirão Preto-SP, o Pecege mostrou um dado alarmante. O custo de produção da cana-de-açúcar na safra 2021/2022 aumentou aproximadamente de 49% em relação à safra 2020/2021, tendo como o grande responsável por esse aumento, a quebra de produtividade dos canaviais causada pela severa estiagem.
Além da queda da produtividade afetar o custo de produção da cana-de-açúcar, também afeta toda a cadeia. Pois com menos matéria-prima e para evitar que a indústria fique ociosa, o setor agrícola se vê obrigado a tomar certas decisões como colher canaviais novos com menos de 12 meses, aumentar o raio médio de colheita, arrendar mais áreas e plantar em áreas
mais distantes. Todos esses fatores reduzem os lucros das empresas.
Uma das grandes alternativas para se mitigar as mudanças climáticas é através do uso da irrigação, mas não somente com o objetivo de “molhar” o canavial quando não tiver chuvas suficientes, mas sim utilizar a água como um insumo de produção. E isso quer dizer planejar como, quando e onde será utilizada essa água.
Mesmo sendo muito necessária e antiga – há registros de utilização da irrigação desde 3.100 AC – o setor parece que acordou somente agora para o uso da irrigação, mas, apesar do grande número de adoções de equipamento nos últimos anos, a área irrigada de cana-de-açúcar no País ainda é muito pequena, representando apenas 17% de toda área plantada. Atualmente, temos vários sistemas de irrigação disponíveis no mercado, como o autopropelido, o pivô e o gotejamento, cada qual com sua característica, benefícios e limitações.
Inserir o uso da irrigação na matriz produtiva é, sem dúvida, a melhor opção para se reduzir os efeitos das mudanças climáticas e as oscilações na produtividade. Em dados apresentados em um plano diretor de irrigação, foi demonstrado que, ao se lastrear 60% de todo o canavial, com a adoção de vários métodos de irrigação, em uma usina de médio porte, além de reduzir as oscilações de produtividade, pode-se aumentar a produtividade média em 11,9%, reduzir os custos de produção em 3,73% e reduzir o raio médio operacional em 25,1%.
Casos práticos já são observados no cotidiano, onde uma usina 100% irrigada localizada em Minas Gerais anunciou que nessa última safra aumentará a sua produtividade média, enquanto a grande maioria dos produtores da região terão redução.
Além de evitar as quebras, o irrigante pode diminuir as oscilações que ocorrem também dentro da mesma safra. É muito normal os canaviais colhidos no início de safra serem de maior produtividade, pois o déficit hídrico ainda é baixo, no entanto, à medida que a safra evolui, essa produtividade tende a cair devido ao aumento do déficit hídrico. É nessa hora em que se deve adotar o uso da irrigação.Além disso, sugerimos irrigar os canaviais mais próximos à indústria, verticalizando-se a produção. Havendo maior produção mais próximo da indústria, o raio médio de transporte cai e, junto a ele, os custos de CTT (Colheita, Transbordo e Transporte).
Devemos aceitar que o clima está mudando e que não podemos mais confiar nele para realizar as tomadas de decisões. A evolução da tecnologia da irrigação juntamente com todos seus benefícios estão disponíveis para serem utilizados.
A reflexão a fazer é: se hoje estão ocorrendo as oscilações climáticas, o que leva a grandes desafios agronômicos e a oscilações na nossa produtividade, e, se dependemos da produtividade para fazer todo o nosso planejamento e se a irrigação pode nos ajudar a estabilizar essas oscilações, por que não utilizar esta solução?