Diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel
Op-AA-44
Não tenho a pretensão de explicar, neste espaço, a crise em que o setor sucroenergético está metido. Primeiro, porque não seria a pessoa mais indicada para tal e, em segundo lugar, porque acho mais produtivo discutir as soluções para sairmos desta... vivos!
Depois de um momento de euforia, a partir da crise econômica de 2008, tivemos uma coincidência de fatores negativos – clima, políticas públicas, endividamento, falta de acesso a crédito, queda no mercado de açúcar, aceleração de custos de produção, escassez de mão de obra qualificada, entre outros, somados à grande transformação no sistema de produção com a mecanização da colheita e do plantio – que seguem até agora, reduzindo as margens e desafiando a sobrevivência e o crescimento do produtor de cana.
Como responder com a devida urgência a esse cenário? A resposta parece simples: aumentar a produtividade e reduzir os custos. Há gente que não acredita, mas não há um só dia na vida de um agricultor que não acorde com esses objetivos em mente. Mas produtividade não é apenas ter mais cana por unidade de área, ou melhor, açúcar por unidade de área, enquanto este ainda é o nosso principal produto e a forma como somos remunerados.
Precisamos aumentar a produtividade dos equipamentos, insumos e, acima de tudo, das pessoas envolvidas no processo de produção, se realmente quisermos reduzir nosso custo unitário e maximizar os resultados. Nos últimos anos, muito foi feito nessa direção. Classificamos os solos e depois os ambientes de produção para melhor alocar as variedades desenvolvidas pelos nossos competentes programas de melhoramento, bem como definimos o melhor manejo da colheita; alteramos o layout de nossas lavouras favorecendo toda a mecanização, aumentando as horas efetivamente trabalhadas e reduzindo consumo de diesel; ajustamos aos espaçamentos de plantio as bitolas dos tratores, transbordos e outros equipamentos, minimizando a compactação na linha de cana; incorporamos o uso do piloto automático, garantindo paralelismo no plantio e repetibilidade para as operações de colheita e tratos culturais; intensificamos o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, de modo a combinar o melhor método de controle, seja mecânico, químico ou biológico; modificamos a nutrição com melhor manejo de corretivos e a utilização de novas doses de macro e micronutrientes, atendendo às necessidades específicas de cada local com o auxílio de equipamentos de agricultura de precisão; praticamos a rotação de culturas nas áreas de reforma de cana, colhendo os benefícios agronômicos, econômicos, sociais e ambientais da prática; investimos em sistemas informatizados para melhorar os controles operacionais e financeiros, resultando em informações mais seguras e a tempo para a tomada de decisões; treinamos e capacitamos um enorme contingente de colaboradores, que também foram devidamente remunerados por produtividade e participação nos resultados; atuamos na melhoria do ambiente de trabalho, mitigando riscos e oferecendo condições para o desenvolvimento das pessoas; cuidamos dos nossos resíduos, desde o descarte das embalagens dos produtos químicos, passando pelos óleos, lixo reciclável e orgânico; reflorestamos centenas de hectares ao longo dos rios, riachos e nascentes, protegendo as águas e viabilizando o retorno e o desenvolvimento da fauna nativa.
Apesar de todo esse esforço, ainda temos muitos desafios e oportunidades de melhoria dentro do processo de produção, seguindo na direção do aumento de produtividade, da redução de custos unitários e da sustentabilidade. Na etapa de preparo de solos, buscamos uma redução das operações com o menor revolvimento de solos possível, evitando perda de carbono e mineralização de matéria orgânica, motor da agricultura tropical.
No plantio, temos uma série de iniciativas, com destaque para o MPB (Muda Pré-Brotada), desenvolvido pelo IAC, tanto para a instalação de viveiros como para o plantio comercial, onde demandamos uma nova safra e equipamentos para a produção das mudas e para o transplantio no campo. Na colheita, precisamos de equipamentos que se adaptem aos diferentes espaçamentos possíveis para a cultura da cana, colhendo uma ou mais linhas, encerrando o sistema atual em que o “rabo é quem balança o cachorro” – em outras palavras, somos forçados a plantar de acordo com as características das máquinas e não com o espaçamento ideal para cada condição edafoclimática.
No uso de máquinas, teremos a disponibilização de telemetria e controle a distância, sem falar no uso de drones e robótica que, associados a tecnologias de posicionamento global, deverão ser cada vez mais acessíveis e poderão automatizar e melhorar muitos processos agrícolas. Como já disse, muito já foi feito, e seguiremos trabalhando de acordo com o que aprendemos na teoria econômica. Somos tomadores de preços, produtores de comodities, ou seja, nossa única arma é o controle de custos e o aumento de produtividade.
A questão é: esse esforço será suficiente para nossa sobrevivência e desenvolvimento daqui para frente? Seguramente, não! Precisamos de mudanças. Albert Einstein disse: “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Os recentes movimentos e manifestações por todo o País mostraram, ainda que de forma difusa, um descontentamento com o quadro político que afeta a economia e a vida de todos os brasileiros.
Certamente, mais cedo ou mais tarde, dependendo da nossa resiliência e organização, tamanha mobilização frutificará nas mudanças necessárias para o avanço do País. Temos que seguir na mesma direção. Mais do que nunca, precisamos nos unir como produtores de cana, setor sucroenergético e outras cadeias produtivas do agronegócio nacional para, de forma organizada, estruturada e profissional, coordenados pelas entidades representativas do setor, atacar os problemas que estão fora da porteira da fazenda, com destaque para: a revisão do sistema de remuneração da cana com a incorporação de novos produtos, como a energia; modernização da legislação trabalhista, trazendo mais simplicidade, transparência e segurança às relações de trabalho; simplificação e redução da carga tributária; modernização da infraestrutura de logística no que diz respeito a estradas, ferrovias, dutos, hidrovias e portos; consolidação da legislação ambiental, oferecendo segurança jurídica.
O caminho é esse. Chegou a hora de nos unirmos ao eco das ruas para mudar o nosso ambiente de negócio e, em última análise, o Brasil. Somos muito competentes da porteira para dentro de nossas fazendas, mas, sem esse esforço conjunto, corremos o risco de perder todos, a despeito da nossa luta diária pelo desenvolvimento da fantástica agricultura canavieira.