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Maurílio Biagi Filho

Presidente da Maubisa, São Paulo

Op-AA-04

A bola de sempre

Só se fala nele outra vez. O mundo gira, a história roda e na hora de escolher uma energia mais moderna, limpa e sempre disponível, os homens chegam onde sempre chegaram: no álcool. Parece o sonho de Ícaro, mas realizado. O fogo, os moinhos, o vapor, a eletricidade, o petróleo e a fissão mataram muitos homens e ainda matam, pela guerra ou pelo seu mau uso.

Diferentemente das demais fontes, o álcool vem na vanguarda da geração de trabalho, imposto e renda, do agronegócio mais lucrativo, da riqueza urbana e rural e de uma quantidade de subprodutos que nem a natureza sonhou um dia proporcionar aos homens. Há trinta anos, por causa deste Brasil e seus canaviais, só se falava nele, porque, de repente, o petróleo viu-se ameaçado em sua hegemonia. Pior ainda, quem o ameaçava não tinha uma história de guerras, ódio, ganância e poluição.

Chegou modernizando a agricultura, barateando preços, chamando outras lavouras para seu convívio e gente - muita gente! – para sua expansão. Exigindo dessa gente estudo, pesquisa, garra e, para ficar na moda, empreendedorismo. Foi um termo bastante utilizado que, porém encontrou inimigos dentro de casa, que não souberam lapidar essa riqueza verde, e fora, que não admitiam uma gente do Terceiro Mundo ajudando a conduzir suas frotas.

E por toda parte moveram-lhe guerra de extermínio. Mas no front interno, brasileiros de verdade nunca o abandonaram, porque sempre souberam do que ele era capaz. E enquanto o tratavam, ele exibia suas riquezas: da eletricidade - limpa, barata e disponível nos períodos de estiagem, ao diamante (não espalhem) e tudo o que o petróleo pode dar, mas sem sujar nem asfixiar a atmosfera.

Bem ao gosto do que os ecologistas sempre pregaram, embora o renegassem, talvez por não conhecê-lo. E agora? É o álcool sim! Seria cômico, não fosse sério, como exprime o jargão. Mas o mundo, desesperado, tentou de tudo para substituir o petróleo sem recorrer ao álcool. É verdade! Até vento enlatado, diria. Como Thomas Edison não inventou a lâmpada a partir da vela, nem Santos Dumont voou batendo os braços, a solução não estava no sub-solo, mas na flor da terra. O resto é história.

Uma história que não acaba porque só tem futuro. Como não encontraram saída, entraram com o álcool no mesmo tanque da gasolina e o consumidor que escolha o que quer. E quando deixam o consumidor mandar todos ganham mais – cada vez mais. Vejamos o que diz a última notícia do setor: “As vendas de veículos a álcool e bicombustíveis cresceram fortemente no mês de março, atingindo 53.310 unidades ou 38 % das vendas totais de veículos leves de passageiros no mês.

É a maior venda mensal de veículos utilizando álcool hidratado combustível, desde agosto de 1988, quando foram vendidos 54.359 unidades a álcool. O maior número de veículos deste tipo já comercializado até hoje foi de 71.137 unidades, em setembro de 1986. Portanto, o número registrado em março de 2005 é significativo pelo que representa em termos relativos a estas marcas verificadas no passado. O número total de veículos a álcool, mais flex-fuel, vendidos nos três primeiros meses de 2005 atingiu 118.031 unidades, ou 34,6% das vendas totais.

A previsão da indústria automobilística, junto com o governo federal, era de que em 2005, 30% das vendas fossem realizadas nesta configuração. No mesmo mês do ano passado, foram vendidos 20.844 veículos flex-fuel mais álcool. Em março de 2005, estima-se que foram sucateados 25.154 unidades, o que leva a frota estimada de veículos a álcool mais flex-fuel para 1.989.491 unidades em 31 de março de 2005.”

Euforia? Nada disso! Vale a pena imaginar que temos uma frota de dois milhões de unidades contra quatro milhões que chegamos a ter, em 1990. Se considerarmos o mercado internacional mais a nossa mistura obrigatória interna, temos bons ingredientes para uma reflexão e para se fazer um planejamento, com base na lição que todos devemos ter aprendido.

Assistindo à mídia do mundo, a boa imagem do Brasil tem nova cor, uma nova marca. Futebol, café e carnaval, esporte, sobremesa, festa, e agora, energia. Só se fala no álcool em todas as páginas, todas as telas: Combustível, álcool, biomassa, álcool, eletricidade, o bagaço da cana do álcool, biodiesel, até cachaça! Se quem tem álcool não depende de ninguém, para sempre ter, é preciso profissionalizar seus trabalhadores e valorizar a tecnologia conquistada.

Com relação ao governo, o presidente Lula não mudou. O que ele defendia, defende agora. Um dos pilares de sustentação do futuro do álcool está na atitude compartilhada de desenvolver a atividade, a começar da estocagem para garantia os estoques estratégicos e o abastecimento interno e externo: governo, usinas e distribuidores, cada um com seu terço. Sem estoque estratégico será a destruição do setor. Se alguém falhar desta vez, será fácil descobrir o culpado.