A recente instalação de um moderno sistema de cogeração na usina Cresciumal, em Leme, SP, para o qual a Dedini forneceu a caldeira (200 t/h, 66 kgf/cm², 520 ºC), evidenciou a possibilidade de geração de 0,08 MWh de energia elétrica excedente por tonelada de cana moída. Para uma moagem de 1,8 milhões de toneladas de cana este excedente corresponde a 30 MW durante a safra.

Em relação à antiga planta de cogeração existente na usina, que dispunha de um potencial de geração de excedentes de 1 MW, este adicional de geração de energia elétrica pode ser atribuído basicamente a: 50% ao aumento das condições de pressão e temperatura do ciclo térmico, 25% ao aumento da eficiência da caldeira, 15% à redução do consumo de vapor de processo da usina, e 10% à otimização do consumo de vapor das turbinas dos acionamentos.

A usina multiplicou por trinta o seu potencial de geração de excedentes comercializáveis de energia elétrica utilizando exclusivamente tecnologia, mão de obra e equipamentos nacionais, evidenciando a resposta, tanto da indústria local de bens de capital sob encomenda como da engenharia nacional, às demandas do mercado.

Considerando que esta energia elétrica será gerada praticamente a partir da mesma matéria-prima anteriormente processada, evidencia-se também a excelente viabilidade ambiental deste empreendimento. Embora o mercado atual de álcool combustível apresente um momento desfavorável em conseqüência dos excedentes da última safra, as perspectivas futuras são as mais favoráveis.

A intensificação da produção de veículos flexíveis pela indústria automobilística restaurará a confiança do consumidor no álcool. A redução da alíquota do ICMS de 25% para 12%, sobre o álcool combustível no Estado de São Paulo, desencadeando ações semelhantes nos demais estados, e custos de produção, que aliados, permitem a venda do álcool nas bombas a preços muito inferiores ao da gasolina, garantem de forma irreversível sua viabilidade econômica.

Perspectivas de substancial volume de exportação de álcool para mistura a combustíveis fósseis em países do primeiro mundo e a possibilidade de mistura do álcool ao diesel e de sua utilização na produção do biodiesel permitem visualizar o continuado crescimento deste mercado. Considerando-se apenas o inevitável crescimento do mercado interno, prevê-se que em 2010 deverão ter sido acrescidos 6 milhões de m3 à atual produção de álcool.

Com sua posição de liderança no mercado mundial de açúcar assegurada pelas suas excepcionais condições de solo, clima, topografia e disponibilidade de áreas agricultáveis, o Brasil deverá estar produzindo mais 3 milhões de toneladas até 2010. Tomando-se somente a moagem de cana necessária para atender a estes dois aumentos de produção, poderemos estar gerando, já em 2010, mais 2000 MW de energia elétrica excedente, apenas nos equipamentos que integrarão as novas unidades industriais.

Quando se viabilizar a exportação de álcool combustível em grande escala, assumindo um volume inicial de 8 milhões de m³, serão mais 2000 MW de energia elétrica excedente gerados nas novas unidades. Às atuais 340 milhões de toneladas de cana, processadas anualmente, poderão estar associados mais 6000 MW de energia elétrica excedente se as antigas caldeiras e os antigos turbogeradores, instalados nas usinas existentes, forem substituídos por modernos sistemas de cogeração.

Qual seria a quantidade de combustível de origem fóssil, seja ele gás natural, óleo combustível ou carvão mineral necessária para a geração dos mesmos 10000 MW em usinas termelétricas convencionais e qual seria a inevitável emissão adicional de CO₂? Qual seria o custo real, o índice de nacionalização e o dispêndio de divisas, na compra dos equipamentos e do combustível, envolvidos nesta solução? Qual seria o custo real, o prazo de construção e o impacto ambiental de novas usinas hidroelétricas, que representassem tal potência?

Qual seria o custo real e o impacto ambiental associado à implantação das linhas de transmissão necessárias? Qual seria o custo real e o impacto ambiental das correspondentes usinas hidroelétricas? Quais seriam as perdas de energia nesta transmissão? Como compensar, nestas alternativas, todos os demais benefícios que a geração distribuída de energia proporciona? Como prescindir da diversificação que a geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana representa? Não seria razoável viabilizar de fato o aproveitamento destes potenciais de cogeração num momento em que, como nunca, são tão necessários os novos empregos, o estímulo à produção nacional e o envolvimento da iniciativa privada em investimentos em infra-estrutura?