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Geraldo Borin

Diretor Industrial da Cocal

OpAA81

Um caso de real sucesso
Coautores:
André Gustavo Silva, Diretor Comercial de Novos Produtos e
Vinicius Aguiar de Campos, Supervisor de Planejamento e Controle Industrial, ambos da Cocal 

Com foco estratégico em aproveitar ao máximo o potencial da cana-de-açúcar, tanto do ponto de vista econômico como de sustentabilidade, a fim de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, a produção de biogás e biometano se mostra uma opção muito interessante em decorrência da disponibilidade de resíduos orgânicos no setor bioenergético e nas regiões de sua atuação. Por ser eficiente no processo de industrialização da cana-de-açúcar e reservar biomassa, a produção de biogás e biometano é uma excelente alternativa no sentido de se formar uma base energética consistente e rentável.
 
Hoje, o primordial é superar os desafios quanto ao desenvolvimento e nacionalização da tecnologia e à operação em grande escala e ter alavancas de destinação e utilização dos produtos – seja biogás, seja biometano. Sobre o ponto de vista de viabilidade econômica, o valor do investimento é um dos mais importantes. Vale destacar que é necessário considerar a “curva de aprendizado” na análise de viabilidade, que pode ser amenizada por meio de parcerias e benchmarkings dentro e fora do país.

Considerando como exemplo o círculo virtuoso destacado na economia circular da Cocal, demonstrado no fluxograma em destaque, temos o aproveitamento dos resíduos nobres da cana-de-açúcar, hoje consolidado com o aproveitamento da vinhaça e da torta de filtro. Poderemos utilizar também a palha e o bagaço na biodigestão, além de potencialmente ser uma solução para destinação de outros resíduos regionais, processo ainda em desenvolvimento para brevemente ser utilizado em escala industrial, destacando o impacto positivo quanto à redução nas emissões de carbono. 

No sentido de garantir viabilidades técnica e econômica, é de suma importância a escolha da tecnologia a ser aplicada considerando os diversos tipos de reatores, bem como os equipamentos parte dos processos de dessulfurização e purificação do biogás. Garantir a eficiência na operação é uma questão primordial. 

Considero que a estratégia de operar por doze meses é uma facilidade quanto à comercialização dos produtos, portanto, contar com resíduos nobres do processamento da cana-de-açúcar no período de entressafra se faz necessário, independentemente se são originados nesse mesmo período ou estocados durante a safra. 

Ter flexibilidade e fluxo constante na destinação do produto acabado, seja biogás, seja biometano, tem impacto direto na operação, podendo tornar o processo mais ou menos eficiente. Dependendo do local e do “apetite” quanto ao valor investido, cada projeto poderá ter sua característica própria de flexibilidade. 


Na operação, o processo de inoculação dos microrganismos é moroso, exigindo um bom planejamento. A operação em grande escala é desafiadora: a primeira parte do processo é a recepção e o armazenamento dos resíduos de tal forma a se perder o mínimo possível de matéria orgânica; a seguir vem o processo biológico de degradação, sendo que esta etapa requer um controle rigoroso do ambiente onde estão inseridos os diversos microrganismos, garantindo o equilíbrio nos processos de hidrólise, acidogênese, acetogênese e metagênese.

Importante destacar que, em processos de biodigestão de vinhaça, os teores de enxofre são bastante elevados. De certa forma, isso cria um pouco mais de dificuldades quanto à biodigestão e purificação do biogás. Por isso, é recomendável garantir uma boa mistura de substrato e microrganismos, juntamente com um bom controle de temperatura e pH. Na terceira etapa, vem o processo de dessulfurização, seguido do processo de purificação do biogás para obter o biometano.

Qualquer projeto a ser desenvolvido requer uma avaliação criteriosa dos aspectos de segurança, portanto é recomendável a aplicação da técnica HAZOP (Estudo de Perigos e Operabilidade) durante a fase de elaboração e planejamento.

Sobre o ponto de vista agrícola, muito embora a maior parte da matéria orgânica seja consumida no processo de biodigestão, o efluente deste processo é um material com pH neutro, rico em microrganismos e produtos metabólicos de interesse agronômico, tema ainda sendo estudado com desdobramentos internos de experimentação em campo e apoio de instituições de pesquisa e ensino. Até o momento, os primeiros sinais dos efeitos no campo são animadores.

Nos aspectos legais, é fundamental que, além do avanço técnico no desenvolvimento do processo produtivo do biometano, haja uma evolução correspondente nas regulamentações que regem esse setor. O biometano possui características distintas em comparação aos combustíveis fósseis tradicionais e, portanto, deve ser regimentado de maneira adequada e diferenciada. Um bom exemplo é o PL dos Combustíveis do Futuro, que vem endereçando e discutindo essa pauta com os agentes do setor e a sociedade. 
 
A velocidade de adaptação e o aprimoramento regulatório devem acompanhar o ritmo das inovações tecnológicas para garantir um ambiente de desenvolvimento eficiente e sustentável. Além disso, incentivos e políticas de fomento são imprescindíveis para o crescimento e competitividade do setor. É importante destacar a necessidade de desenvolver uma certificação específica para biometano, que reconheça seu atributo verde e favoreça sua valorização mercadológica.

O biometano é a solução inovadora que as empresas têm buscado para se destacar no mercado e contribuir para um futuro mais verde. Com um sólido compromisso com a sustentabilidade e a inovação, estamos liderando essa transformação energética.

Atualmente, nossa unidade em Narandiba-SP está em operação, oferecendo biometano para atender às necessidades energéticas das indústrias e do setor de transporte. Além disso, estamos expandindo nossas operações com uma nova planta em construção na unidade em Paraguaçu Paulista-SP, com início das operações previsto para abril de 2025. As soluções de entrega do produto acabado adotadas pela Cocal abrangem diferentes modais, como rodoviário (carretas GNC) e gasodutos, atendendo diversas regiões.

O biometano é uma fonte de energia limpa e eficiente, substituindo combustíveis fósseis na indústria, como GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), gás natural e xisto, e na substituição do diesel no transporte, alinhando-se com os objetivos do Escopo 3 (GHG Protocol), que trata de outras emissões indiretas de gases de efeito estufa. A Cocal é um excelente exemplo na substituição do diesel, onde esperamos alcançar a marca de 1 MM de litros de diesel substituídos na frota própria na safra atual. Ao optar pelo biometano, as empresas contribuem significativamente para a redução de emissões de carbono em toda a cadeia de valor.
 
Considerando o aproveitamento de todo potencial de nossos resíduos, ainda temos um caminho longo, mas promissor se considerarmos as demandas atuais por energia limpa em todo o mundo.