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José Antonio Bressiani

Diretor de Tecnologia Agrícola da GranBio

Op-AA-48

2g: podemos triplicar a produtividade por hectare
O setor de combustíveis líquidos no Brasil experimentou mudanças significativas na última década. O aumento da frota de veículos leves ocasionou crescimento significativo do consumo de combustíveis, cujo atendimento, até 2008-2009, foi feito majoritariamente por meio do aumento da produção interna de etanol. Entretanto, a redução da competitividade do produto resultou em estagnação do investimento em novas usinas. Nesse cenário, a frota crescente de veículos passou a consumir mais gasolina, o que implicou o incremento do volume de importações, haja vista a capacidade limitada de refino no Brasil.

Ademais, como as novas refinarias em construção no Brasil concentram-se mais na produção de diesel e de outros derivados de maior valor agregado, a manutenção do atual patamar de venda de veículos leves implicará a importação de volumes crescentes de gasolina. Desse modo, é indispensável a busca por novas formas de resgatar a atratividade econômica do etanol, cuja competitividade se reduziu nos últimos anos, entre outros motivos, pelo amadurecimento de seu atual paradigma tecnológico, tanto agrícola quanto industrial.

 
O etanol de segunda geração, também conhecido como etanol celulósico ou etanol 2G, certamente será o responsável por resgatar a competitividade do etanol brasileiro, trazendo novamente o País ao patamar de liderança global. O combustível é produzido a partir de material lignocelulósico proveniente da biomassa, mais especificamente a celulose e a hemicelulose. Diversas fontes lignocelulósicas vêm sendo estudadas para a produção de E2G, como palha de milho, de trigo e de arroz, resíduos de cana-de-açúcar, bagaço de sorgo sacarino, gramíneas, resíduos florestais.

No Brasil, pelo fato de ser a matéria-prima predominante na produção de E1G, a cana-de-açúcar tem sido o foco dos principais projetos para a produção de E2G. No ano de 2011, com o lançamento pelo Bndes e Finep do Paiss, foi fomentada a construção de três plantas de E2G no Brasil, das quais duas entraram em comissionamento no segundo semestre de 2014, sendo uma delas da Granbio. O Bndes juntamente com o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) realizaram, com base em premissas discutidas com diversas empresas e especialistas, simulações sobre o potencial de melhoria de eficiência do E2G em diferentes cenários tecnológicos.

O diagnóstico concluiu que, em razão de avanços nas etapas de produção e conversão de biomassa e da redução no custo de enzimas e equipamentos, o E2G pode ser mais competitivo que o etanol convencional e próximo do patamar de preço de barril de petróleo a US$ 44.00. Com esse nível de competitividade, o E2G não seria apenas uma solução para reduzir o volume de gasolina importada pelo Brasil, mas também uma alavanca poderosa de exportações, haja vista o fato de o consumo de combustíveis avançados ser valorizado por políticas públicas nos EUA e na Europa.

Além disso, o E2G competitivo também poderia determinar um ciclo intenso de investimentos na química renovável, atraídos pelo açúcar de custo baixo proveniente da biomassa, a qual, num primeiro momento, poderia ser constituída por parte dos resíduos deixados no campo após a colheita dos colmos da cana-de-açúcar e, num segundo momento, certamente será composta por variedades de cana-de-açúcar muito mais robustas, produtivas e com elevado teor de fibras, especialmente desenvolvidas para esse fim.

 
Há de se considerar, porém, que, durante mais de um século, grande esforço foi realizado no melhoramento genético de cana-de-açúcar, buscando aumentar a produtividade de sacarose, através de sucessivos retrocruzamentos para essa característica, de forma a manter o teor de fibra entre 10 e 14%, dadas as necessidades industriais de processamento da matéria-prima e foco na utilização de açúcares como base para a produção de energia. Dessa forma, mesmo os híbridos modernos apresentando alto potencial de produção, acredita-se estarmos muito próximos de um patamar de produção difícil de ser suplantado, se consideradas as atuais condições de manejo agronômico.

Assim, uma mudança de paradigma está em curso, e o novo caminho está indicando que, se a via contrária for tomada, ou seja, aumento de fibra ao invés de sacarose, os benefícios serão maiores, porque, então, o aumento em produtividade de biomassa será bem maior e com dispêndio menor em esforço e em recursos. 

O melhoramento genético da cana-de-açúcar está, portanto, num novo divisor de águas neste início de século, uma vez que a vantagem de se priorizar a produção de fibra é que as plantas serão mais rústicas, menos exigentes em solo, clima, água e nutrientes e mais resistentes a pragas e doenças, resultando em maior eficiência energética no seu cultivo, ou seja, maior unidade de energia produzida por energia gasta, se considerada toda a cadeia (output/input), e menor competição com a produção de alimentos, considerando a viabilidade de plantio desses cultivares em áreas agrícolas marginais.

Esse é um parâmetro essencial e finalista que determinará as opções energéticas a serem consideradas, se o objetivo final for a preservação ambiental e a sustentabilidade. Com esse novo enfoque, o da bioenergia, a GranBio iniciou, em 2012, através de convênios com a Ridesa/UF-AL e com o IAC, o desenvolvimento de um novo tipo varietal de cana-de-açúcar, a cana-energia, que tem como foco principal maximizar a produtividade da biomassa total, oriunda das fibras presentes nos colmos, ponteiros e folhas secas. Após 4 anos de pesquisa, a GranBio destacou dois clones promissores de cana-energia para se tornarem produtos comerciais, cujo principal destaque é o elevado potencial produtivo por vários cortes.

Além da maior produtividade, a cana-energia possui alto teor de fibras e elevada resistência a estresses bióticos e abióticos, de forma que é possível produzir em áreas marginais, de menor valor agronômico, como as áreas de pastagens degradadas, oferecendo menor competição com a produção de alimentos, reduzindo os custos produtivos e promovendo desenvolvimento social. Com a utilização do etanol de segunda geração e a cana-energia, o setor sucroenergético, que viu a produtividade de etanol por hectare passar de 3.500 litros na década de 1970 para 8.000 litros nesta década, agora pode ver essa mesma produtividade saltar para 20.000 litros de imediato, podendo chegar a 30.000 litros ou mais até o final da próxima década. E o nosso setor sucroenergético reúne todos os requisitos necessários para voltar a ser o líder mundial na produção de etanol, maior e melhor exemplo de combustível renovável em todo o mundo.