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Reinaldo Azambuja

Governador do Estado do Mato Grosso do Sul

Op-AA-43

Biomassa: alternativa crescente

Mato Grosso do Sul é um estado reconhecido pela riqueza de recursos naturais, excelente capacidade hidrelétrica, grande quantidade de terras cultiváveis para a produção de biocombustíveis. Porém a história humana e as crises contemporâneas vividas em todas as regiões do Brasil mostram que, mesmo o que se considerava abundante, pode se tornar escasso sem o devido planejamento.

A saída está na modernização da gestão das diversas matrizes energéticas. Com 22 usinas de açúcar e álcool em funcionamento atualmente, Mato Grosso do Sul investe em pesquisa e apoio logístico para que os empreendimentos diminuam a “carga” sobre a produção de energia elétrica a partir dos rios brasileiros. A produção oriunda dessas usinas – cerca de 750 mil hectares de cana na safra 2015/2016 colhidos em 97% dos casos de forma mecanizada – deve render ao estado e ao País um mínimo de 3 bilhões de litros de etanol e 2,2 milhões de toneladas de açúcar, oferecendo maior oferta do combustível vegetal e ampliando a matriz econômica através das exportações.

Somente na safra passada, as usinas sul-mato-grossenses produziram 2,44 bilhões de litros de etanol, volume 9,7% maior em relação à safra anterior. Desse total, 1,77 bilhão de litros de hidratado, que é direcionado para as bombas dos postos de combustíveis, e 668,6 milhões de litros de anidro, utilizado na mistura com a gasolina regida pelo Governo Federal.

O volume produzido cresce ano a ano. No plano energético, porém, as usinas vão além da produção de etanol. Elas transformaram o que era considerado um passivo ambiental – o bagaço da cana-de-açúcar – em energia elétrica, capaz de ampliar de forma significativa a oferta de eletricidade no País. Sobra do processamento do açúcar e do etanol, o bagaço deixou de ser um problema ambiental e passou a ser considerado uma rica fonte alternativa de energia, uma importante matéria-prima para o setor de bioeletricidade.

Em 2014, das 22 unidades de produção de açúcar e etanol instaladas no estado, 12 conseguiram exportar excedente de bioeletricidade para o sistema elétrico nacional. Foram adicionados ao consumo brasileiro 2.182,7 GWh. E esses números podem crescer exponencialmente. Os valores de incremento ao setor de energia elétrica mostram que, com apoio em pesquisa e incentivos produtivos, a geração de bioeletricidade pode, de forma consistente, garantir a demanda de consumo futuro.

Para este ano, estão previstos mais dois empreendimentos: duas usinas térmicas com uso de biomassa, que poderão incluir no sistema nacional 201 megawatts. E a tendência é o crescimento sustentável se manter, com gestão responsável e inovadora. De acordo com os dados compilados pela Superintendência de Gestão da Informação de Mato Grosso do Sul, o consumo residencial de energia elétrica no estado cresce 9% ao ano. Em 2011, o consumo foi de 1.340 gigawatts-hora.

Em 2014, ultrapassou os 1.500 GWh. Já o consumo industrial foi de 1.153 GWh. Os números nos mostram que a geração de energia por biomassa no estado poderá suprir, nas próximas safras, os valores de consumo residencial e industrial de Mato Grosso do Sul, ajudando sobremaneira a elevar a oferta, gerando lucros para o estado e para as usinas produtoras.

O crescimento do volume de energia produzida a partir da biomassa em Mato Grosso do Sul é grandioso. Em 2009, quando as usinas começaram a modernizar suas plantas, foram exportados 202 MWh. Em cinco anos, o volume de produção energética se multiplicou por 11, ou seja, mais de 1000%. A eletricidade cogerada pelas usinas instaladas em nosso estado é adicionada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e é distribuída em todo o País, conforme determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Com isso, os investimentos na diversificação da atuação das usinas ao setor garantem retorno em rentabilidade e, principalmente, no suprimento de um bem vital para o desenvolvimento do País. Considerada uma fonte energética complementar às hidrelétricas e termelétricas movidas a combustíveis fósseis, também atuantes em Mato Grosso do Sul, o aproveitamento da biomassa da cana-de-açúcar, de acordo com a Embrapa, tem seu maior potencial concentrado entre os meses de abril e novembro, exatamente o período em que o nível dos reservatórios das hidrelétricas diminui e quando são acionadas termoelétricas de alto custo econômico e ambiental, que utilizam como matéria-prima combustíveis poluentes, como gás natural e carvão mineral.

É importante destacar o papel de cada fonte geradora de energia no contexto nacional. Elas se complementam, e ganham todos – produtores e consumidores – com investimentos em novas técnicas e na modernização da geração. Cada qual com seu potencial, seu passivo ambiental e com suas possibilidades de compensação através de ações sociais ou de sustentabilidade.

O mais importante é que o planejamento possa abraçar todas as alternativas e garantir que, a curto, médio e longo prazo, a capacidade energética seja bem usada, sem entraves ao desenvolvimento e sem intervenções danosas ao meio ambiente. De acordo com informações da Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar, em 2021, a produção de energia por biomassa terá potencial de geração de 14.000 megawatts.

Para efeito de comparação, a usina de Belo Monte, quando finalizada, poderá gerar 4.571 MW médios. Os dados, compilados no relatório O setor elétrico brasileiro e a sustentabilidade no século 21 – oportunidades e desafios, sustentam que o Brasil possui maturidade na produção sucroalcooleira, concentrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, próxima aos principais centros consumidores de energia.

“Assim, reduz-se a necessidade de expansão de novas linhas de transmissão, por meio da geração distribuída, trazendo economia para o País”. E o cenário atual da geração por hidrelétricas inspira cuidados e investimentos contínuos, principalmente em fontes alternativas. Segundo dados apresentados pela Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul, o setor foi responsável por 7% de economia nos reservatórios das usinas hidrelétricas estaduais.

Uma resposta para a demanda nacional, já que a estiagem abrange grande parte do País em uma época em que os reservatórios estão mais críticos. Para a produção energética por biomassa continuar crescendo, sem depender da ampliação da área plantada, é necessário investimento em pesquisa e tecnologia. Atualmente, já estão em prática de campo técnicas de utilização das pontas da cana e da palha dos canaviais nas caldeiras das usinas.

A matéria-prima é recolhida após a colheita mecanizada e representa cerca de 30% da energia contida na cana. É claro que o planejamento estratégico do setor energético em Mato Grosso do Sul contempla hidrelétricas, energia eólica, as próprias termelétricas já incorporadas ao sistema. Todos os segmentos recebem do governo a devida atenção e são importantes peças de um tabuleiro de estudos, projetos e financiamentos cujo objetivo é garantir o crescimento a longo prazo.

Mas a energia que faltava, desperdiçada nos grandes campos sul-mato-grossenses, agora é matéria-prima que garante o nosso estado no grupo das unidades federativas capazes de garantir a eletricidade necessária para o crescimento do Brasil. Os combustíveis desse novo momento são a coragem dos produtores, a tecnologia acadêmica e o apoio governamental.