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Pedro Luiz Fernandes

Presidente da Novozymes Latin America

Op-AA-36

Crescimento e investimentos

A posição de destaque do Brasil no setor sucroenergético, há tempos, abriu ao País diversas oportunidades de crescimento no mercado de etanol, açúcar e bioeletricidade. Com uma indústria sucroenergética flex, capaz de operar com ciclos de produção alternados optando pela produção de etanol ou açúcar, dependendo das condições do mercado, o País segue rumo à liderança do setor, posicionando-se como detentor de uma matriz energética eficiente e altamente sustentável. 

No tocante às oportunidades, obviamente, para se tornarem reais, elas demandam uma cadeia estruturada na qual produtores, usinas, fornecedores (de peças, equipamentos, tecnologia) e, sobretudo, governo, compartilhem da mesma ambição e visão. É fato que há um descompasso nessa relação entre os diferentes agentes do setor, mas movimentos recentes, de todos os lados, têm diminuído a distância entre o que querem produtores, usinas, fornecedores e governo. Quanto ao etanol, aos poucos, nosso biocombustível – que ainda será lembrado como um dos nossos símbolos nacionais – vem conquistando reconhecimento por sua eficiência e sustentabilidadee, quem sabe, num futuro não tão distante, venha a ser reconhecido também por sua competitividade frente aos combustíveis fósseis. 

E, quando digo isso, faço uma menção direta não somente aos benefícios sociais e ambientais advindos do etanol, mas também à remuneração que ainda não alcançou um patamar que beneficie toda a cadeia produtiva. Apesar dos recentes dados do Cepea/Esalq, que revelam que o preço do etanol hidratado aumentou no começo deste ano e que o preço do etanol anidro vem demonstrando estabilidade nos últimos três meses, ainda há muito que se fazer para que ele, nas duas categorias, conquiste mais competitividade, o que atenuaria substancialmente alguns problemas de custo de produção.

Para mantermos a competitividade, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são indispensáveis, pois desempenham papel relevante nesse contexto, possibilitando uma produção maior, melhor e de menor custo. Nesse sentido, acredito que o caminho é estudar, analisar as necessidades do mercado e inovar muito e constantemente, para não ficarmos para trás. Cada um tem que fazer a sua parte. Nós, como fornecedores de tecnologia, há mais de 10 anos, investimos em pesquisa e desenvolvimento de soluções de biotecnologia, buscando agregar mais valor à cadeia produtiva do setor sucroenergético. 

Caminhar junto com as empresas sucroenergéticas estabelecendo uma relação de troca de informações para entender necessidades específicas e propor soluções sob medida fazem a diferença em produção e custos, o que possibilita um melhor aproveitamento de matéria-prima no processo industrial, refletindo em maior produtividade. Contudo, o desenvolvimento das novas tecnologias e de equipamentos para o setor é apenas uma das peças desse complicado quebra-cabeça. O segmento como um todo, e especialmente aqueles que se dedicam à produção de etanol, carece de regras claras que normatizem o negócio. 

O governo tem papel fundamental nisso. Iniciativas como o PAISS - Plano conjunto Bndes-Finep de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico, que prevê apoio à inovação tecnológica industrial, são mais que bem-vindas para reavivar a cadeia sucroenergética. Para um segmento que, assim como tantos outros, foi profundamente abalado pelas recentes crises econômicas, de 2008 e de 2012, contar com o fomento a planos de negócios que contemplem o desenvolvimento, a produção e a comercialização de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa oriunda da cana-de-açúcar surte o mesmo efeito de um bote jogado ao mar para resgatar o náufrago. 

Dá alento e esperança a um setor que, se não fosse devidamente atendido, muito em breve afundaria por falta de incentivos e respaldo. Abre-se aí uma oportunidade para o crescimento do setor que, além de açúcar, bioeletricidade e etanol de primeira geração, poderá se dedicar a projetos de etanol de segunda geração, tendo, assim, um marco diferencial que, no tempo certo, creio eu, renderá muitos bons frutos. 

E, por mais dificuldades que o setor enfrente, ainda sou  otimista. Dados do IBGE divulgados em fevereiro deste ano sinalizam uma produção de cana-de-açúcar de 738 toneladas para esta safra, o que representa uma elevação de 9,4% na comparação com 2012. E com a expectativa de maior rendimento médio para este ano de mais de 75 Kg/ha, incremento de 5% comparado a 2012, também de acordo com a entidade, fica claro que o aumento de safra deste ano reflete a lenta, mas nem por isso menos importante, recuperação do segmento sucroenergético. Outro indicador de que as coisas vão indo bem é o aumento da mistura de etanol à gasolina, que passou de 20% para 25%. O que significa que a demanda vai aumentar, que a produção precisa crescer e que o mercado vai, aos poucos, retomar seu vigor de áureos tempos.