A agricultura produz atualmente alimento para 7,3 bilhões de pessoas. Alimentar um planeta com 9 bilhões de habitantes demandará uma nova configuração produtiva. À parte da discussão de distribuição de renda versus acesso a alimentos, a agricultura será responsável pelo crescimento sustentável, sendo a renda marginal revertida à sua respectiva sociedade através da amplitude e da qualidade de sua cadeia de valor.
O setor sucroenergético brasileiro não se exime de planejar e implementar a construção de seu próprio futuro sustentável. Neste texto, eu percorro a lógica de implantação de uma agricultura sustentável como fator de vantagem competitiva do setor, na ótica da produção agrícola vinda da unidade mínima produtiva. Chame-a de fornecedor ou usina. Eis o desafio: a sustentabilidade da produção é uma tarefa coletiva. Erroneamente, enfocamos a unidade produtiva como soberana sobre os resultados advindos de suas decisões. Não é.
Seu resultado econômico depende da construção de um ambiente sustentável, que, por sua vez, depende de uma intrincada relação entre diversos elos de uma cadeia produtiva que a abastece e que distribui sua produção. O seu produto final, convertido em saca de açúcar, absorve a totalidade das decisões individuais ao longo de seu ciclo de vida, e essas decisões embutem o preço infinitamente inelástico no contrato #11 da CBOT, porém destacando que preço de mercado é diferente do valor do produto.
Uma agricultura pautada pelo desenvolvimento sustentável tem o resultado de sua produção traduzido em valor à operação e à sociedade. É de se esperar que a decisão racional do agricultor seja a de investir naturalmente no tema, porém a dúvida ou a negativa decorrem, em grande parte, das ineficiências operacionais da cadeia produtiva que acabam competindo no curto prazo com uma dinâmica de difícil harmonia entre seus elos. Dessa assimetria, surge a oportunidade.
O crescimento sustentável do setor sucroenergético está na capacidade da cadeia de valor em suportar a ação dos agricultores em proteger e em desenvolver a rentabilidade de suas áreas agrícolas, acrescentando valor à firma e à sociedade. Finda essa reflexão macroeconômica, delineio um projeto de adoção de ferramentas que possibilitem ao agricultor cultivar melhor a cana, assegurando sua eficiência técnica e financeira. A partir de uma cultura agrícola rentável, o agricultor é capaz de melhorar a vida de sua própria comunidade, abrangendo, assim, a melhoria de sua própria vida e mantendo a cadeia de valor à frente de seu custo de oportunidade. Esse é o ponto de inflexão que transforma essa teoria em prática.
Na base da pirâmide das práticas sustentáveis, está a atuação responsável, sendo a ética empresarial o embasamento de toda política de implementação de atividades cujo objetivo é o bem maior da coletividade. Ela é inerente ao agricultor e aos seus parceiros. Estes devem pautar suas atividades exemplarmente frente à sociedade, cumprindo a legislação aplicável e os padrões de conformidade.
Seus funcionários, parte integrante de sua esfera coletiva, devem seguir protocolos estritos de operação, nunca colocando em risco sua segurança e a biologia da terra onde trabalham. Ela ainda busca coibir práticas que levem a conflitos de interesse e à concorrência desleal em todos os pontos da cadeia agrícola. A implementação requer indicadores, em que vale a máxima que “não se pode gerenciar aquilo que não se pode medir”. Logicamente, o sistema de monitoramento possui um custo intrínseco de inicialização, porém com um resultado percebido através de redução do custo operacional e eliminação de redundâncias.
A sinergia das duas etapas anteriores constrói um “ciclo virtuoso de gestão sustentável”. Nesse cenário operacional, ético e monitorado, a sustentabilidade se inicia como uma jornada. Qualquer produto pode ser monitorado e ter o seu ciclo de vida gerido através de seus indicadores. Isso se dá de uma forma holística, balanceando os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Mensurar a matéria-prima utilizada para a produção de 1 hectare de cana é tão relevante quanto mensurar a água economizada na indústria.
Nesse exemplo, o balanço de final é incorporado como atributo no ciclo de vida do produto seguindo adiante em sua cadeia de valor. No ponto máximo desse “ciclo”, eu destaco uma estratégia de marketing consistente, suportada por um exercício de planejamento e ação mercadológica cujo objetivo é a influência positiva sobre o fluxo de informação da cadeia de valor. A estratégia de marketing remunera o acionista no momento em que a empresa é capaz de identificar o valor intrínseco de seu processo sustentável. Quiçá uma saca de açúcar contenha o uso racional da terra, a geração de empregos qualificados, o treinamento como educação para a sociedade que a circunda, o balanço positivo de água, a preservação de áreas nativas, etc. Por trás dessa articulação, há uma marca com uma nova dimensão: a do compromisso com um futuro sustentável.