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Carlos Henrique de Brito Cruz

Diretor Científico da Fapesp

Op-AA-27

Desafios científicos e tecnológicos

O Brasil tem uma importante posição de liderança mundial em conhecimentos sobre o etanol e sua aplicação, diferentemente do que estamos acostumados a constatar em assuntos que dependem de pesquisa científica e tecnológica. A maior parcela das publicações científicas sobre melhoramento e estudos da cana-de-açúcar é criada no Brasil.

Na área tecnológica, os conhecimentos sobre os processos de fermentação e fabricação do etanol a partir de sacarose da cana são muito avançados. Os motores flex-fuel desenvolvidos no Brasil, mesmo que por empresas estrangeiras, são os melhores e mais competitivos, com ideias muito criativas desenvolvidas por engenheiros brasileiros.

A liderança existe também no âmbito institucional e das políticas estatais: desde 1931, há legislação no País determinando a adição de álcool à gasolina e, a partir de 1975, o Proálcool criou a maior experiência mundial de uso de álcool como combustível. O custo de produção do etanol de cana-de-açúcar no Brasil é o menor do mundo.

O etanol de cana tem a vantagem de ser energeticamente positivo: produzir um litro de etanol de cana consome um décimo de litro de petróleo equivalente; para a produção de um litro de etanol de milho, o consumo é de quase um litro de petróleo equivalente. Desde que Martim Afonso de Souza introduziu a planta de cana no Brasil, em 1532, a importância econômica do açúcar trouxe um contínuo esforço para aperfeiçoar seu cultivo.

Nossa vantagem atual vem sendo conquistada desde então. Tudo isso cria uma situação bastante favorável para o País aproveitar a oportunidade de produzir e vender etanol para o mundo e também de criar e negociar a tecnologia de produção de etanol de cana.

Essa conjuntura fundamenta uma posição especial. Ao mesmo tempo, cria um desafio com o qual devemos – indústria, academia e governo – nos preocupar: como manter essa liderança num cenário mundial em que, especialmente a partir de 2005, países com tradição científica e tecnológica bem superior à nossa, especialmente os Estados Unidos, começaram a dedicar parte de seus esforços em ciência e tecnologia aos biocombustíveis?

O interesse dos EUA pelo etanol é ótimo para o Brasil, pois ajuda a legitimar mundialmente aquilo que nosso País há muito sabia e havia demonstrado desde meados dos anos 80: o etanol pode ser seriamente considerado como um substituto parcial para a gasolina. Fundamental para a manutenção da competitividade brasileira no assunto é o avanço da tecnologia e do conhecimento sobre a cana, sobre o processo de fabricação do etanol de cana e suas ramificações, como a bioeletricidade.

Isso requer a intensificação das atividades de pesquisa em instituições públicas e em empresas privadas sobre temas como: melhoramento da planta de cana, melhoria de sua agricultura e colheita, impactos sociais e no meio ambiente, tecnologias de fabricação do etanol — incluindo-se aí a hidrólise e fermentação —, e também nas aplicações do etanol como substituto do petróleo na  petroquímica. Nessa agenda de pesquisa para a competitividade brasileira em etanol, há muito a ser ganho com mais colaboração entre universidades, institutos de pesquisa e empresas.

Tendo em vista a importância do estado de São Paulo como produtor de bioetanol e a riqueza de sua infraestrutura de pesquisa, a Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, criou em 2008, o Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), com o objetivo de contribuir para colocar o Brasil entre os líderes mundiais na área de bioenergia. Nos próximos cinco anos, cerca de R$ 80 milhões serão investidos pela Fundação e seus parceiros privados e públicos em pesquisa no setor.

Esses recursos se somam a muitos outros oriundos de agências federais (CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Finep - Financiadora de Estudos e Projetos) e estaduais (Fapemig - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e de empresas como a Vale, Dedini, Oxiteno, Braskem e, no futuro próximo, a ETH. A fundação continua buscando empresas interessadas em parcerias para cofinanciamento de pesquisa. Pequenas empresas, como a Fermetec, têm projetos de pesquisa apoiados no Pipe Fapesp e associados ao programa.

Antecedeu a instalação do Bioen a realização de um alentado estudo financiado pela Fundação sobre os desafios em C&T para o etanol brasileiro, recentemente publicado internacionalmente.

Com o objetivo de inserir proativamente a comunidade brasileira na cadeia global de pesquisas e aumentar a exposição do Brasil em ciência e tecnologia voltadas à bioenergia, será realizada, com o apoio da Fapesp, a conferência internacional BBest - Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference, em Campos do Jordão, de 14 a 18 de agosto de 2011. Deixamos aqui um convite para que haja uma forte presença, na BBest, de pesquisadores e engenheiros associados à empresas do setor, ao lado de seus colegas acadêmicos, debatendo os resultados mais avançados em ciência e tecnologia do etanol obtidos no País.