Me chame no WhatsApp Agora!

Geraldo Alckmin

Candidato à Presidência da República

Op-AA-09

A expansão da indústria canavieira

Época de colheita, uma safra abundante e preços remuneradores – sonho dos agricultores e processadores da cana-de-açúcar – é o que os brasileiros que operam na cadeia produtiva da cana-de-açúcar estão tendo a oportunidade de desfrutar. Em momento delicado do agronegócio nacional, o setor sucroalcooleiro é um verdadeiro oásis, safra de boas notícias e de grandes perspectivas.

O etanol instaurou um novo comportamento agroindustrial em praticamente todas as regiões do planeta e as projeções da Agência Internacional de Energia são de que a expansão da sua demanda deverá ser de 10% ao ano. Afinal, alcançar 25% da demanda de combustíveis líquidos globais daqui a 20anos éuma meta impressionante. Requer oferta em escala antes não conhecida e esforços grandiosos em redução de custos, de consumo energético e, principalmente, mudanças na maneira de pensar.

Poucos anos atrás, o setor viveu a encruzilhada entre caminhos opostos: o de continuar a viver apenas o curto prazo ou o de plantar as mudas da persistência, do bom senso e da soma de esforços entre trabalhadores, fornecedores de cana e industriais de açúcar, etanol e energia elétrica. O segundo caminho teve a bênção do então Governador Mário Covas, que liderou toda uma série de medidas, não apenas em sua gestão, mas também no governo FHC, cuja colheita estamos agora vivenciando.

Naquele momento, diagnosticamos a falta de demanda como a essência dos problemas do setor produtivo – coordenamos elos da cadeia produtiva setorial, o trabalho infantil foi banido nos canaviais paulistas e os contatos com outros países para a abertura dos mercados foram, efetivamente, realizados.

Estimulamos as empresas do setor automotivo a assumirem a causa dos veículos flexíveis, o que aconteceu efetivamente em nosso governo; estimulamos a cogeração de energia elétrica nos canaviais paulistas; em compromisso da campanha política, que nos reconduziu à governança de São Paulo, reduzimos o ICMS do etanol, de 25% para 12%; implantamos uma lei estadual da queima de cana, valorizando a sustentabilidade do negócio no mercado internacional.

Esses exemplos de políticas públicas, aliás, têm sido seguidos por outros estados, o que é ótimo. Se, por um lado, ampliou-se, sensivelmente, o consumo de etanol no país, em cerca de 1 bilhão de litros em uma safra, por outro lado vimos as exportações de etanol do Brasil saltarem de 650 milhões de litros, para prováveis 3 bilhões de litros, na safra 2006/07.

A visão prospectiva do agronegócio cana-de-açúcar, nos próximos dez anos, mostra números expressivos: enquanto o açúcar deverá registrar cerca de 30 milhões de toneladas novas, como incremento global do consumo – de 145 milhões para 175 milhões de toneladas de açúcar, o etanol combustível deverá ter um crescimento global de demanda de 50 bilhões de litros – de 45 bilhões, para 95 bilhões de litros.

Dos países candidatos a atenderem esse novo mercado, o Brasil deverá responder por cerca de 40% do açúcar e mais de um terço do etanol – mesmo com as barreiras comerciais ainda persistentes nos países desenvolvidos. Quando nos referimos à essencial mudança de mentalidade, tanto significa a forma ou a atitude do empresariado nacional, em relação ao desafio do largo prazo, quanto à coordenação necessária de governo, via políticas públicas consistentes, transparentes e que assegurem estabilidade, confiança e credibilidade. Essas condições nem sempre têm caracterizado tanto o lado produtivo, quanto o do governo, sendo, essenciais.

Muitas das condições para o atendimento dessas demandas foram também trabalhadas pelo setor privado paulista da BM&F (contratos futuros de açúcar e de álcool; créditos de carbono na linha do MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, em função da formalização do Protocolo de Quioto), por investimentos em logística e portos paulistas e paranaenses.

Mas há muito ainda a fazer: reforçar o papel do governo federal nas negociações internacionais, com a liderança que se requer para quem é exemplo no campo do etanol – afinal, a transformação do etanol em commodity é condição chave para a viabilização da escala internacional de mercado, que precisa responder à necessária ampliação dos combustíveis renováveis na matriz energética dos países; reforçar os trabalhos no campo da pesquisa e do desenvolvimento, assim como no campo da capacitação de mão-de-obra qualificada, para a grande expansão da oferta de cana, álcool e de açúcar, em todo o país; reforçar a imagem da sustentabilidade do processo produtivo do etanol, hoje produto sobre o qual recaem os olhos e as críticas dos velhos protecionistas de mercado; estimular as parcerias tipo PPP para o setores de logística e infra-estrutura; reaproximar o Brasil do mundo desenvolvido e de grande potencial de consumo, gerando as condições fundamentais de contratos de longo prazo, entre outras medidas.

O mundo espera do Brasil a liderança efetiva no campo de energia renovável, cuja estrela é o etanol. O governo precisa ser parceiro dessa expansão e o setor privado, mostrar a confiabilidade e os compromissos para com o consumidor. O governo deverá implantar as políticas essenciais nos campos tributário e de estoques, que reafirmem os mecanismos essenciais à grande expansão setorial, nos próximos anos.

No campo internacional, as ações têm sido aceleradas nas Américas, com a liderança do Brasil e dos EUA, que deverão mais que dobrar a sua participação global. Hoje, representam acima de 70% da oferta mundial. Será fundamental acelerar as posições européias, visto que a Ásia também vem mostrando espetacular atitude, salientando o Japão, inclusive com contratos de longo prazo com o Brasil.

A nossa tecnologia tropical, baseada na cana-de-açúcar é modelo para os outros continentes e países localizados nos trópicos. Trata-se de um grande desafio e uma fantástica oportunidade para o nosso país e para todos os elos da cadeia produtiva do etanol. A agroindústria canavieira, em seus elos produtivos, é auto-suficiente em equipamentos, peças e serviços., exportadora de bens de capital e de serviços, além dos produtos açúcar e álcool.

E ainda tem enorme potencial de exportar motores e veículos flexíveis. A geopolítica energética inicia novos tempos, sendo ótimo para a segurança energética dos países a descentralização, em escala, da oferta de etanol. A agroenergia é a irmã gêmea da agricultura de alimentos e ambas se sustentarão e irão fazer crescer a renda do meio rural nacional. Esse é o centro do nosso projeto: a geração de trabalho e renda, que só será obtida com o crescimento econômico e com o desenvolvimento social que o Brasil exige.