El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é um processo geofísico que ocorre no Oceano Pacífico Tropical, um exemplo admirável de interação oceano-atmosfera que interfere no clima global e regional. É constituído de dois componentes, o oceânico, denominado El Niño (EN) propriamente dito, e o atmosférico, a Oscilação Sul (OS).
O EN é caracterizado por anomalias positivas da temperatura da superfície do mar (TSM), ou seja, águas mais quentes que as normais se estabelecem no Oceano Pacífico Tropical Centro-Oriental, próximo à costa oeste da América do Sul. Quando as anomalias de TSM são negativas, dá-se o nome de La Niña, considerada a fase fria do EN.
A OS é a variação Leste-Oeste da pressão atmosférica ao nível do mar (PNM) sobre o Pacífico Tropical, medida em dois centros, Tahiti (Polinésia, Pacífico Oriental) e Darwin (Austrália, Pacífico Ocidental), e é quantificada pela diferença padronizada da PNM entre esses dois centros que define o Índice da Oscilação Sul (IOS). Em geral, índices negativos, em que a PNM é mais baixa no Pacífico Centro-Oriental que no Pacífico Ocidental, coincidem com eventos El Niño, enquanto índices positivos, em que as diferenças de PNM são contrárias, correspondem a eventos La Niña. Essa coincidência ocorre em cerca de 65% dos eventos.
Eventos El Niño fortes aumentam a temperatura da baixa troposfera global, pois injetam grandes quantidades de calor sensível e calor latente na atmosfera tropical, como foi constatado em eventos recentes. Por exemplo, no El Niño de 1997/98, conforme dados obtidos por sensores a bordo de satélites, a temperatura média global registrou um desvio positivo de +0.74°C em abril de 1998 e, no de 2015/16, a temperatura global de fevereiro de 2016 atingiu a marca de +0,83°C acima da média. No Brasil, é aceito que, de maneira geral, se têm secas nas Regiões Norte e Nordeste e excesso de chuva nas Regiões Sul e Sudeste em eventos El Niño, ao passo que ocorre o contrário em eventos La Niña.
Acredita-se que os impactos do ENOS globalmente sejam conhecidos, porém sua origem ainda não está bem estabelecida. A hipótese mais aceita é que o Pacífico Tropical, dada sua extensão, tenha uma frequência natural de oscilação, resultante da interação entre os campos de PNM, ventos associados e as águas do oceano.
Devido às PNM altas na costa oeste da América do Sul, os ventos Alísios sopram forte de Leste para Oeste, arrastam as águas que se aquecem nesse trajeto e se acumulam na região Norte da Austrália/Indonésia, formando a chamada “piscina de água quente do Pacífico Ocidental”, associada a PNM mais baixas. Na costa oeste da América do Sul, essa retirada das águas superficiais provoca ressurgência de águas frias, ou seja, águas profundas sobem à superfície para repor as que estão sendo arrastadas, fazendo com que essa região apresente TSM cerca de 10°C mais frias que as do Pacífico Ocidental e PNM mais altas.
A diferença de PNM entre o Leste e o Oeste é responsável pela persistência dos ventos Alísios. As águas, ao se acumularem no Oeste, pressionam as camadas inferiores do oceano, um efeito semelhante a comprimir uma mola. Como água é um fluido incompressível, eventualmente as camadas inferiores do oceano (termoclina) reagem com um movimento brusco para cima e expulsam as águas superficiais mais quentes. Isso dá origem a uma onda interna subsuperficial no oceano, numa camada de cerca de 100 metros de espessura, denominada Onda de Kelvin, que se propaga da Austrália/Indonésia em direção à costa do Equador/Peru, levando cerca de três meses para cruzar o Oceano Pacífico.
O calor transportado pela Onda de Kelvin aquece as águas da costa do Equador/Peru. As águas superficiais aquecidas abaixam as PNM, reduzem, ou até invertem, a diferença de PNM entre o Leste e o Oeste, enfraquecendo ou invertendo os Alísios, o que faz cessar a ressurgência e aumentar ainda mais as TSM. Tem-se, então, um El Niño instalado, que poderá persistir por 6 a 18 meses, com os impactos climáticos globais mencionados.
Na retaguarda da Onda de Kelvin, encontram-se águas mais frias. Esse déficit de calor é transportado para Leste e, quando chega, dissipa o El Niño, dando origem à sua fase fria, o La Niña. As águas frias, agora presentes, fazem a PNM aumentar no Leste do Pacífico, e novamente a diferença de PNM entre o Leste e o Oeste do Pacífico aumenta e intensifica os Alísios, restabelecendo a ressurgência e fazendo com que as águas fiquem mais frias na costa oeste da América do Sul e sejam empurradas novamente para Oeste. O processo geofísico, semelhante a uma imensa “gangorra oceânica/atmosférica”, se repete de 4 a 5 anos até que a viscosidade restabeleça a neutralidade das TSM.
Como foi dito, não se tem conhecimento adequado sobre as causas físicas da gênese do processo ENOS. É realmente uma oscilação natural ou há necessidade de uma força externa para que o processo seja disparado? Se for uma força externa, uma forte candidata seria a força gravitacional lunar, sabidamente atuante nas marés.
O Ciclo Nodal Lunar define a variação da inclinação do plano da órbita da Lua em relação à linha do equador terrestre. A inclinação ou declinação do plano orbital não é “fixa” ao longo do tempo. Ela varia de sua posição máxima de 28,6°N-28,6°S de latitude para a mínima de 18,4°N-18,4°S de latitude num intervalo de 9,3 anos e retorna para a posição máxima em mais 9,3 anos, totalizando um ciclo de 18,6 anos.
Em um intervalo de aproximadamente 10 anos, o plano da órbita lunar se situa fora dos trópicos, ou seja, sua declinação é maior que 23,5° (latitude dos Trópicos do Câncer e Capricórnio). Nessas circunstâncias (declinação entre 23,5° e 28,6° de latitude), o componente da força gravitacional lunar é maior na direção equador-polo e acelera as correntes marinhas, particularmente a do Golfo (Atlântico Norte) e a de Kuroshio (Pacífico Norte), transportando mais calor da região tropical para as latitudes mais elevadas. Isso faz com que as águas do Pacífico Norte e do Atlântico Norte fiquem mais aquecidas que o normal e torne o clima dos países banhados por elas, como a costa oriental da Ásia (China e Rússia), Europa Ocidental (Inglaterra e Escandinávia), mais ameno e úmido.
A curto prazo, uma das consequências dessa configuração de TSM é o inverno norte americano atípico de 2025 em que, no Mapa da próxima página, se veem águas aquecidas no Pacífico Norte em decorrência de o plano da órbita ter estado em sua declinação máxima em 22/03/2025 (Veja a Coluna 3 da Tabela). Em cima das águas quentes, se estabelece um sistema de baixa pressão atmosférica e, entre esse e o Continente Norte-Americano, um sistema de alta pressão atmosférica que “bombeia” ar frio da Sibéria para América do Norte, produzindo um inverno mais frio e prolongado.
O plano da órbita lunar se situa dentro da região tropical (declinação entre 18,4° e 23,5°)durante cerca de 9 anos e o componente de sua força gravitacional é maior na direção Leste-Oeste. A exportação de calor para fora dos trópicos é reduzida, mais calor é retido e redistribuído zonalmente dentro dos trópicos.

Portanto, ao invés de ser uma oscilação natural, a força gravitacional da Lua, juntamente com os ventos Alísios, seria responsável inicialmente por empurrar e empilhar águas no Pacífico Ocidental (Austrália/Indonésia), criando as condições oceânicas propícias (“gatilho”)que antecedem um evento El Niño forte. Daí por diante, o desenvolvimento do evento El Niño seguiria a hipótese mais aceita, ou seja, as camadas mais profundas do Pacífico Ocidental, comprimidas, reagem bruscamente e disparam a Onda de Kelvin que transporta calor em direção à América do Sul, implantando o El Niño.
A interação oceano-atmosfera intensifica e mantém o fenômeno por 6 a 18 meses. Na tabela abaixo, mostra-se a estranha coincidência de eventos El Niño intensos, como os de 1941/42, 1957/58, 1977/79, 1997/98 e 2015/16, terem ocorrido quando a declinação do plano da órbita lunar se situou dentro dos trópicos, em torno do mínimo lunar (Coluna 1). Notem que os eventos são espaçados de 19 anos.
Se isso não for coincidência, é possível prever a ocorrência de futuros eventos El Niño fortes e suas consequências climáticas, o próximo mínimo sendo em 2034/35. Os eventos fora desse intervalo, como os de 1982/83 e 1992/93, podem estar associados a grandes erupções vulcânicas tropicais, como as do El Chichón-México, em abril de 1982 e do Monte Pinatubo-Filipinas, em junho de 1991. A alta concentração de aerossóis vulcânicos presentes na Estratosfera Tropical reduz a entrada da radiação solar e os continentes tropicais se resfriam, reduzindo a diferença de pressão atmosférica zonalmente [OS], enfraquecendo os ventos Alísios e gerando um El Niño.
Portanto, a Lua interfere no clima global/regional indiretamente por meio de sua ação gravitacional ao aumentar, em primeiro lugar, a velocidade das correntes marinhas e o transporte de calor no sentido equador-polos e, na sequência, mudar a configuração das TSM, particularmente nos setores norte do Atlântico e do Pacífico que têm suas bacias fechadas.
Como a atmosfera é aquecida por baixo, ar em contato com a superfície terrestre constituída por 71% de oceanos, a mudança na configuração de TSM, persistente por 4-5 anos, muda a atmosfera sobrejacente e o clima global. Infelizmente, a Meteorologia “moderna” não tem levado em consideração o impacto do Ciclo Nodal Lunar na variabilidade do clima global.
