“O homem argumenta, a natureza age.”
Voltaire
São centenas de comentários diários dos políticos e acadêmicos sobre o senso de urgência com relação aos riscos das mudanças climáticas. Vão desde Arnold Schwarzenegger (“As alterações climáticas não são ficção científica. Esta é uma batalha no mundo real com impacto em nós neste momento”) a António Guterres, da ONU (“Chega de maltratar a biodiversidade. Chega de nos matarmos com o carbono. Chega de tratar a natureza como lixo. Basta de queimar, perfurar e minar cada vez em maior profundidade. Estamos cavando nossa própria cova.”). Segundo o Presidente da França (Macron): “Estamos perdendo a corrida para as mudanças climáticas. Esse é o desafio de nossa geração: ganhar a batalha contra o tempo”; mas segundo o Presidente dos EUA (Trump): “As mudanças climáticas são a maior farsa já perpetuada no mundo.”
A União Europeia, que saiu na frente de todos os países com o seu “Green Deal” e pressões ambientais, vê os agricultores e seus vários governos fazê-la recuar das suas posições mais radicais. Assim, passo a passo, a realidade vai se impondo.
No Brasil, entre os extremos que politicamente debatem a questão, há um consenso (maioria) de que é fundamental persistir no combate ao aquecimento global, com o agro como chave para esse fim, na reunião da COP 30 a ocorrer em Belém do Pará em novembro/25.
Já há anos o Brasil privado debate com o governo federal medidas voltadas à sustentabilidade, como pedaço fundamental da biocompetitividade, que abraça a produtividade e a mitigação (via adaptação e tecnologias) das emissões dos gases do efeito estufa. De fato, o Brasil agroindustrial, com o etanol, o biodiesel e a bioeletricidade, juntamente com as hidrelétricas, mostra uma matriz energética (50% renovável) e uma elétrica (90% renovável) invejáveis ao mundo desenvolvido e emergente. A integração lavoura/pecuária/floresta adiciona, agora, as biorefinarias, agregando valor.
Globalmente falando, o enfraquecimento da ONU e da OMC vem frenando a velocidade da transição energética, bem aquém do que é preciso, com argumentos crescentes de adição energética (não transição energética) e de crescentes investimentos em energias fósseis, além das renováveis. Isso não segura a meta do +1,5 °C (já estaria hoje acima disso) e se traduz em crescentes riscos ambientais.
Adia-se, com isso, o processo de substituição dos combustíveis fósseis, nas metas definidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. A lógica do forte aumento no consumo de energia pelas tecnologias da inteligência artificial é um fator-chave para as dificuldades de substituição das energias fósseis.
Muitas são as projeções de possíveis tremendos impactos negativos das mudanças climáticas e esse texto aborda o setor sucroenergético e suas medidas para aliviá-las.
As safras canavieiras dos últimos 10 anos mostram (como sempre foi) anos diferentes, mas com um processo constante e repetitivo de secas, acompanhadas de tempos em tempos por geadas e incêndios nas lavouras muito secas. As últimas 15 safras mostram, pelo menos, 6 graves eventos de secas, incêndios e geadas, em ritmo bem maior do que se via antes.
Isso tem levado o produtor de cana da região Centro-Sul e do Norte-Nordeste a procurar na irrigação o foco de investimentos que buscam reduzir a volatilidade de oferta de matéria-prima, assim como viabilizar produtividades que permitam maiores margens, face a boas taxas de retorno a esse investimento em tecnologia.
Outra ação que claramente vai sendo efetivada é a busca de integração agroindustrial, com lavouras em rotação e com a nova onda da produção de etanol com cana e milho em fábricas integradas, gerando subprodutos de alto valor, seja para energias (biogás, biometano) ou para a produção de carnes (DDGs).
A estruturação das empresas setoriais aos controles do fogo já é um esforço geral das unidades produtoras e essencial à atividade, com menores riscos.
Como agro, o esforço geral é no sentido de aumentar recursos para financiamento aos investimentos em sustentabilidade e em seguro rural, via mercado de capitais. Esse é o caminho, cuja regulamentação dependerá do grau de proatividade do setor privado e do suporte crucial do Legislativo brasileiro.