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Cássio Manin Paggiaro

Superintendente da Atena Açúcar e Etanol

OpAA70

O conhecimento nos alavanca a um novo nível de conhecimento
O desenvolvimento tecnológico do setor sucroenergético, principalmente na área agrícola, experimentou, a partir da implementação do Proálcool, uma forte aceleração, contínua até os anos 2010. Instituições como Planalsucar, Copersucar/CTC, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e uma série de universidades públicas e privadas pelo País investiram na pesquisa específica sobre a cultura da cana-de-açúcar.

Temas como variedades de cana-de-açúcar, uso e conservação dos solos, nutrição de plantas e fertilidade dos solos, pragas e doenças, fisiologia, máquinas e implementos, logística, controle de plantas daninhas, sistematização dos terrenos, irrigação, colheita e transporte da cana, entre outros, foram estudados por meio de levantamento de dados, transformando-se em informações e conhecimento para o setor.
 
Esse conhecimento adquirido passou, à medida do tempo, a ser cada vez mais utilizado, principalmente em atividades ou processos mais específicos, ou seja, por atividade. Passou-se por momentos da adubação, dos espaçamentos entre linhas de cana, do cultivo mínimo, dos maturadores químicos, do uso dos subprodutos das fabricações do açúcar e etanol, da sistematização dos terrenos, do “abuso” no uso de uma única variedade de cana, enfim, do método despalhador para a realização da colheita sem o uso do fogo.

Esse último acontece em um momento de forte desaceleração da pesquisa e do desenvolvimento científico feito pelas instituições credenciadas, que passam a ser realizados, de maneira mais empírica, pelos próprios produtores. Todo o conhecimento adquirido até então baseava-se no manejo de cana queimada.

Do início do Proálcool até a década de 1990, o setor sucroenergético obteve grandes avanços na produtividade, na produção e na qualidade da cana-de-açúcar, aproveitando-se dos resultados advindos das pesquisas construídas durante esse período, processo interrompido principalmente a partir dos anos 2000, com os desmanches e ou as desacelerações de institutos que trabalhavam especificamente com o setor sucroenergético.

Neste momento, passamos pelo boom dos greenfields, acreditando que o etanol se tornaria uma verdadeira commodity, com expansões feitas em regiões não tradicionais da cultura da cana-de-açúcar, sem conhecimento técnico-científico apropriado para suportar os resultados anteriormente conseguidos, ainda mais sob o manejo da colheita totalmente mecanizada da cana, sem utilização do fogo como método despalhador, situação de pouco conhecimento científico em relação à palha deixada sobre o solo.

A tão esperada situação privilegiada do etanol no mundo não aconteceu naquele momento, e, juntando-se a isso, a depreciação dos preços do açúcar por um período além do que a história demonstrava como ciclos de alta e baixa, somada à perda ou à estagnação da produtividade agrícola pela maioria das empresas, mergulhou o setor em grande crise, culminando com muitos pedidos de recuperações judiciais (RJ) de um lado e aquisições com consolidações de outro lado.

Tradicionalmente, o setor sucroenergético trabalhou com a visão de “gasto” e, em menor intensidade, com a visão de custo. Nesse sentido, quando da necessidade de ajustes orçamentários, cortavam-se até investimentos básicos para a lavoura. Como nem todo gasto é custo, acertava-se o gasto com subsequente aumento de custo.

Paralelamente à cultura da cana-de-açúcar, presenciava-se todo crescimento apresentado pelas culturas de grãos, mais especificamente soja e milho, que, independentemente das expansões territoriais de cultivo, mostravam grande aumento na produtividade agrícola. Apesar das diferenças entre cultura anual versus cultura semiperene, da área territorial explorada entre as culturas, determinando o nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento, por que a cana-de-açúcar não poderia experimentar um novo ciclo de crescimento em produtividade agrícola?

A conscientização de que a utilização do conhecimento científico adquirido e de investimentos crescentes em tecnologia e recursos humanos foi determinante para a virada de chave na retomada da área agrícola do setor sucroenergético pode ser constatada nos últimos anos. Certamente, o fator responsável por essa virada se chama manejo agrícola. Deixou-se de utilizar pontualmente, ou isoladamente, tecnologias desenvolvidas e passou-se a integrá-las dentro de um manejo lógico, cronológico em relação aos pré-requisitos e integrado.

A utilização dos mesmos insumos em relação à época do plantio, o tipo de conservação do solo em topografias diferentes, a mesma variedade de cana colhida em épocas distintas, a utilização de herbicidas generalizados para diferentes situações são exemplos de possíveis destruições de tecnologias desenvolvidas por utilização de um manejo incorreto.

Apesar da diminuição dos investimentos na pesquisa e no desenvolvimento, o setor sucroenergético soube resgatar todo o conhecimento adquirido, integrando-o e adequando-o nas diferentes situações de solo, clima e topografia, consciente de que a produtividade e, consequentemente, a produção da cana são fundamentais para a sobrevivência do setor.

Hoje, por meio do manejo, aplicam-se tecnologias em todas as fases de desenvolvimento da cultura, buscando-se aproveitar toda oportunidade de crescimento da planta. Antes, após o plantio ou o trato cultural da cana-soca, dizia-se que “pronto, agora é só colher no próximo ano”.

A tecnologia via satélite contribuiu e contribui cada vez mais para a implementação de um manejo adequado da cultura da cana-de-açúcar, por meio da possibilidade da atuação on-line e específica, utilizando-se de tecnologias, como GPS no mapeamento das linhas de plantio e orientação do tráfego das máquinas nos talhões, NDVI localizando variabilidades de massa verde para identificação das causas e correções pontuais, previsões climáticas para projeção de operações, além do acompanhamento, em tempo real, de todas as operações.

A resiliência do setor sucroenergético foi fundamental para a volta da produtividade agrícola, aproveitando todo o conhecimento adquirido e transformando-o em ação, ou seja, no novo patamar do manejo. Sim, aquele ditado que “se não se aprende no amor, aprende-se na dor” foi aqui praticado.