A sustentabilidade de determinado setor consiste no equilíbrio entre custo de produção e valor futuro da mercadoria. Para tanto, é fundamental investir constantemente em novas tecnologias, buscando as melhores práticas relativas à gestão de recursos. No que diz respeito ao setor sucroalcooleiro, é notório que, nos últimos anos, enfrentamos algumas dificuldades, tanto internas quanto externas, mas o que tem sido feito para superá-las?
A partir do gráfico em destaque, é possível verificar que os esforços despendidos na última década resultaram em custos de produção que acompanharam a inflação, porém os aumentos de preço do etanol no mesmo período estiveram abaixo dela, gerando o desequilíbrio que podemos observar hoje. A taxa média de crescimento anual dos preços do etanol hidratado, nos últimos nove anos, foi de 4,8%, enquanto os custos de produção cresceram, em média, 7% ao ano, e o IPCA por ano-safra, nesse período, foi de 5,6% ao ano. No acumulado do mesmo período, a taxa de crescimento dos preços nominais do produto foi de 52%, enquanto seus custos avançaram 84%, e o IPCA, 64%.
Se aplicarmos a variação do IPCA ao preço do hidratado de 2005/2006, teremos um preço médio em 2014/2015 de R$ 1,35/L, enquanto o preço nominal neste ano foi de R$ 1,25/L, ou seja, dez centavos a menos. Na última década, várias iniciativas foram adotadas com o objetivo de reduzir os custos. Estamos falando de um setor fértil, que possibilita diferentes frentes de pesquisa, realizadas tanto na área industrial como na agrícola. O setor sempre apostou no desenvolvimento de variedades mais produtivas de cana para alavancar o aumento de produtividade, mas os resultados obtidos nos últimos anos não chegam nem perto dos índices de desenvolvimento observados em outras culturas.
Por outro lado, existe uma demanda crescente, no mercado interno, para combustíveis do ciclo Otto (características do etanol, que possibilitam uma combustão mais limpa e o melhor desempenho dos motores) e, no mercado externo, para combustíveis renováveis. Dentre as ações possíveis, a mais promissora é o etanol de segunda geração. Gerado a partir do processamento do bagaço, folhas e palha da cana-de-açúcar, o biocombustível permite aumentar em até 50% a produção da Raízen com a mesma área plantada, por exemplo.
O etanol de segunda geração também é responsável pela diminuição da pegada de carbono em até 15 vezes, se comparado com a operação de etanol de primeira geração. O biocombustível pode ser produzido também com outras biomassas, como palha de milho, madeira e resíduos celulósicos. O etanol produzido com esse processo é idêntico ao etanol de primeira geração, portanto não há nenhuma limitação no uso como combustível ou matéria-prima industrial. Além disso, por se tratar de um combustível “avançado”, é possível encontrar nichos de mercado com preços mais atraentes.
Outro exemplo de ação colocada em prática e que pode trazer – e traz – benefícios ao setor é o redesenho da plantação utilizando tecnologia GPS. Esse serviço possibilita o aumento do número de ruas plantadas por hectare e a diminuição de curvas de nível, tendo como consequência a disponibilização de uma área útil maior. Esse novo projeto viabiliza a diminuição do custo de corte mecanizado ao aumentar a produtividade das colhedoras, em função do melhor planejamento do terreno e da diminuição de áreas de matacões, o que também pode reduzir as perdas e o pisoteio do canavial – fatores que impactam diretamente a produtividade.
Uma melhor gestão na utilização de subprodutos também é um ponto fundamental para aumentar a produtividade e reduzir custos, como o uso de torta de filtro composta e vinhaça concentrada. Com altos teores de matéria orgânica, fósforo e cálcio, a torta de filtro composta por bagaço e cinza de caldeiras pode elevar a produtividade quando substituir a adubação química, principalmente em solos de menor potencial produtivo. Do mesmo modo, a utilização mais racional da vinhaça como fertilizante pode alavancar a produtividade e reduzir custos. Para isso, precisamos desenvolver novas metodologias de distribuição e invariavelmente deveremos passar por um processo de concentração desse resíduo.
Podemos considerar, nesse caso, o consumo de energia e o investimento em equipamentos, mas os benefícios são certos, considerando o aumento de produtividade, a redução de insumos químicos e a diminuição do consumo de água da unidade de produção, devido à recirculação da água condensada no evaporador de vinhaça. Dentre outras ações, é fundamental citar a cogeração de energia por meio de termoelétricas movidas a biomassa (palha e bagaço de cana-de-açúcar).
Além da redução dos custos, uma vez que permite que as usinas tornem-se autossuficientes em produção energética, a prática possibilita negociar o excedente com o mercado por meio de leilões regulados pelo governo ou no mercado spot, como são chamados os contratos eventuais para compra de energia. Além dessas questões, há ainda a possibilidade de se produzir energia elétrica por meio do gás produzido por digestão anaeróbica de vinhaça e outros resíduos orgânicos advindos da produção de álcool e açúcar, que pode substituir o gás natural proveniente de fontes fósseis.
Já há plantas-piloto e mesmo unidades comerciais em operação que comprovam que essa tecnologia pode ser colocada em prática. As opções são inúmeras, e o setor não está parado. Já avançamos consideravelmente, mas, certamente, há espaço para evoluir ainda mais. Além de contribuir para o aumento da produtividade, esses exemplos mostram que o segmento está atento às tecnologias disponíveis no mercado e segue disposto a colocá-las em prática. Para evoluir, o setor sucroalcooleiro se reinventa e busca, cada vez mais, a sustentabilidade de seu portfólio. A palavra de ordem é não acomodar.