A cana-de-açúcar e o Brasil têm um relacionamento de longa data. O sucesso e o desenvolvimento do mercado global da commodity estão entrelaçados com o crescimento da economia brasileira desde o início da colonização do País, no século XVI. Nativa do sul da Ásia, a cana-de-açúcar encontrou aqui no Brasil as condições perfeitas para seu cultivo: solo fértil, sol quente e chuvas abundantes. Mais do que isso, a cana é inovadora desde sempre: ela tem em sua essência a capacidade de absorção de carbono, funcionando como uma placa solar natural, que tem, no etanol, um biocombustível limpo e eficiente. Uma planta com inúmeras aplicações, mas, antes de tudo, renovável.
Sempre tivemos na cana-de-açúcar uma fonte importante da nossa economia. A partir dela, produzimos e oferecemos produtos essenciais ao redor do globo: o açúcar para alimentar as pessoas; o etanol para movimentar os veículos; e, agora com a pandemia, o álcool como fator sanitário importantíssimo no combate à Covid-19.
Responsável por cerca de 40% da produção mundial de açúcar, com a valorização do dólar e uma demanda em alta, puxada principalmente por países como Indonésia, China e Estados Unidos, o Brasil praticamente se isola na liderança do mercado, oferecendo um produto de alto valor agregado e muito cobiçado.
Se, por um lado, o mercado internacional demanda por mais açúcar brasileiro, ele também está sedento pelo etanol de cana-de-açúcar produzido aqui. Com a implementação do Proálcool na década de 1970, rapidamente o Brasil se firmou como um dos mais importantes fornecedores de etanol no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mesmo assim, somos o maior produtor de etanol feito a partir da cana-de-açúcar, um produto mais sustentável devido ao nível de intensidade de carbono mais baixo do que o etanol americano, feito de milho.
E é a partir da eficiência e do seu DNA sustentável que a cana brasileira atrai a atenção da Europa e de países como a Índia e o Reino Unido – e especialmente a Califórnia, nos EUA -, que já notaram o potencial do biocombustível desenvolvido por aqui. Somos um dos países que mais investem na criação e na adoção de melhores práticas de cultivo e temos a tecnologia de aperfeiçoamento do uso de subprodutos da cana para produção de etanol celulósico, oferecendo a esses mercados um produto de alto valor agregado e que representa uma alternativa limpa e sustentável para mitigar os impactos provocados pelas mudanças climáticas. É apostando no etanol que o Brasil tem a chave para liderar a transição mundial para a economia de baixo carbono.
Catalisador importante para apresentar o etanol como plataforma eficiente e limpa para o urgente processo de descarbonização da economia global, o RenovaBio foi formatado como política governamental que impulsiona o mercado do etanol e incentiva investimentos na produção de fontes energéticas mais sustentáveis. E, mesmo sendo iniciado em meio aos desafios da pandemia, o programa finalizou seu primeiro ano com 97,6% da meta cumprida.
O excelente resultado reflete o engajamento da indústria na busca por energia limpa. Outros programas que incentivam a descarbonização estão em discussão em todo o mundo, e a implementação precisa ter caráter urgente por todos os países. O sucesso dessas iniciativas será conquistado a partir do apoio e da participação do setor produtivo e da sociedade, a exemplo do que foi feito com o RenovaBio, que impulsiona o consumo de etanol como combustível para o mundo que precisa se movimentar de forma mais sustentável.
Com um consumo ascendente, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar já nasce competitivamente mais sustentável e é uma solução eficiente para a substituição de combustíveis fósseis, como a gasolina. Dependendo da matriz elétrica, os veículos movidos a etanol podem emitir menos CO2 do que veículos elétricos. Em média, considerando emissões totais, desde a produção da fonte energética, um veículo abastecido exclusivamente com etanol de cana emite 84g de CO2/km rodado, enquanto um veículo elétrico emite cerca de 126g de CO2/km.
Isso se a fonte de energia utilizada for mais limpa, como a obtida a partir de usinas hidrelétricas, como é majoritariamente no Brasil. Em países com fontes elétricas menos renováveis, como o carvão, por exemplo, a emissão de um veículo elétrico pode chegar a 210 g de CO2/km. A baixa emissão de CO2 da cana começa desde seu cultivo, já que a planta captura CO2 durante seu crescimento. Quando o etanol é queimado no veículo, o CO2 já capturado retorna para a atmosfera. Mas o ciclo da cana não acaba aí. Nos parques de bioenergia da Raízen, os resíduos da cana, que antes eram descartados, se transformam em energia em grande escala gerada a partir de subprodutos como o bagaço e a linhaça.
Com base em uma economia circular, a companhia possui 23 parques de bioenergia em operação, todos autossuficientes no consumo de energia elétrica, gerada a partir da queima de biomassa da cana. Em 13 deles, a energia excedente é exportada para a rede.
Temos 1 GW de capacidade instalada de geração de energia elétrica renovável, suficiente para abastecer uma grande metrópole brasileira. Além da cogeração, outra tecnologia que torna o ciclo de produção da cana mais sustentável é a produção de biogás a partir da conversão de vinhaça e torta de filtro. O biogás pode ser utilizado para a produção de energia elétrica ou purificado e convertido em biometano, um produto que pode substituir o gás natural e o diesel na frota pesada.
Ele também pode ser utilizado para produção de hidrogênio e amônia verde, contribuindo para a descarbonização de outros setores, como o de fertilizantes. Com capacidade instalada de geração de energia elétrica de 21 MW, a planta de biogás da Raízen é uma das maiores do mundo e representa uma revolução no tratamento dos resíduos agroindustriais por meio do uso mais eficiente de subprodutos para a produção de novos produtos, contribuindo para a descarbonização e para a economia circular.
Um dos melhores exemplos da sustentabilidade do etanol de cana brasileiro é a produção do etanol de segundo geração (E2G). A partir de tecnologias avançadas e utilizando o bagaço de cana como matéria-prima, conseguimos produzir até 50% mais etanol com a mesma área plantada e com uma pegada de carbono 30% inferior ao etanol convencional. E provando que a sustentabilidade não é só benéfica para o meio ambiente, mas que também é financeiramente saudável, a adoção do E2G vem crescendo em escala industrial, sendo utilizado na produção de perfumes e cosméticos, por exemplo.
O etanol é um produto transcendental. Começou como bebida e passou a ser usado na produção de cosméticos. Hoje é a fonte energética do futuro, que descarboniza e impulsiona o mundo para a adoção de opções mais sustentáveis, com pegada de carbono cada vez menor. O Brasil tem um grande potencial para se consolidar como referência na sustentação global do etanol como alternativa limpa, exportando nossa experiência, nossos produtos e as tecnologias desenvolvidas por nós para o resto do mundo, incentivando os demais países a descarbonizar suas matrizes energéticas e atingir seus mandatos e compromissos de redução de emissões.