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Marcos Fava Neves e Vinícius Cambaúva

Professores da Harven Agribusiness School

OpAA83

Os impactos do governo de Donald Trump no agronegócio brasileiro
Sem dúvidas, 2024 foi de grandes desafios para o agro brasileiro. Em um ano cheio de adversidades, a eleição presidencial americana talvez tenha sido o evento mais relevante para observar neste próximo ano, no setor. Neste mandato, Donald Trump inicia sua gestão com uma postura um pouco mais incisiva quanto à concretização de suas propostas, tanto por este ser seu segundo mandato como presidente, mas também por contar com maior apoio de parlamentares no congresso norte-americano. No agronegócio, os principais impactos da gestão Trump incluem:
 
a. Política comercial e tarifas: 
Trump prometeu adotar medidas protecionistas, incluindo a imposição de tarifas sobre produtos estrangeiros, visando proteger a indústria americana. Até a conclusão do nosso artigo, na segunda quinzena de fevereiro de 2025, Trump já havia decretado diversas medidas tarifárias, mas, ainda, sobre outros setores. A primeira delas, de 25%, está sendo aplicada sobre importações de automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores, como medida que visa estimular a indústria local. Além disso, já impôs tarifas de 25% sobre todos os produtos importados do Canadá e do México; e de 10% sobre os produtos advindos da China. Os mesmos 25% serão adotados também para todas as importações de aço e alumínio do país, a partir de março.
 
Agências econômicas internacionais têm divulgado relatórios apontando que o “tarifaço” de Trump pode causar grandes desajustes na economia global, gerando inflação e alta de preços dos insumos básicos, além de quebras nas cadeias produtivas globais. É essencial analisar como estas e outras medidas podem elevar os custos de produção na agricultura, especialmente na brasileira, que tem boa parte da matéria-prima de insumos (destaque para defensivos e fertilizantes) importada de outros países.
 
b. Disputa pelo mercado chinês: 
A relação comercial entre Estados Unidos e China é crucial para o agro brasileiro. Se Trump adotar uma postura mais agressiva, buscando ampliar a participação americana no mercado chinês, o Brasil poderá enfrentar maior concorrência na exportação de produtos como soja, milho e carnes; mas a tendência é de que o caminho seja contrário, como aconteceu durante seu primeiro governo. Vale recordar que, em 2024, a China se destacou como a principal compradora de produtos do agronegócio brasileiro com US$ 49,7 bilhões em aquisições (30,2%), seguida pela União Europeia, com US$ 23,2 bilhões (14,1%), e pelos Estados Unidos, com US$ 12,1 bilhões (7,4%).
 
Nos movimentos mais recentes, Trump anunciou uma tarifa de 10% sobre todos os produtos chineses. A China reagiu e já anunciou novas taxas de 10 a 15% nos produtos norte-americanos.

c. Relações diplomáticas:
Em relação aos conflitos globais em andamento, Trump tem adotado uma abordagem distinta, especialmente no que se refere à guerra na Ucrânia. Em fevereiro, Trump anunciou negociações de paz com o presidente russo, Vladimir Putin, visando encerrar o conflito na Ucrânia, representando a normalização das relações com a Rússia, o que pode favorecer as exportações russas de produtos agrícolas e alterar a dinâmica do mercado internacional, impactando as exportações brasileiras, já que os Estados Unidos são o 3º principal parceiro comercial do nosso país.
 
Já em relação ao conflito entre Israel e o Hamas, Trump propôs um plano controverso para a Faixa de Gaza, visando reconfigurar a região após o término do conflito. As alterações nestes mercados podem afetar diretamente os custos de produção na agricultura (diesel, fertilizantes e outros insumos) ou até mesmo favorecer setores como o de biocombustíveis (etanol, biodiesel e outros), em vista da competição e paridade de preços.
 
Ainda no elo diplomático, Trump também se posicionou de forma firme em relação aos BRICS, grupo de coordenação econômica que tem Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como líderes. Segundo ele, o grupo pode sofrer uma taxação de “no mínimo 100%”, em caso de alteração da moeda de negociação do dólar para uma outra moeda própria. 

Além disso, o presidente norte-americano tem liderado a saída do país de diversas agências e organizações internacionais, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho dos Direitos Humanos e corte de financiamento da UNRWA (Agência de Refugiados da Palestina). No caso da Organização Mundial do Comércio (OMC), Trump fez duras críticas à estrutura e governança da organização, apesar de ainda não ter decretado o desligamento do país do grupo.
 
d. Política ambiental e sustentabilidade: 
Do ponto de vista ambiental, a já anunciada saída dos Estados Unidos do Acordo de Clima de Paris, que deve ser efetivada a partir de 2026, coloca o país, junto com Irã, Líbia e Iêmen, como os únicos fora do pacto, desde 2015. Apesar de afirmarem que as metas não serão alteradas, a saída da principal potência econômica global do acordo – já questionado em vista dos resultados atuais de aquecimento global – tende a trazer certa fragilidade à política ou até mesmo estimular outros países a seguirem no mesmo caminho. 
 
Afinal, o que esperar para 2025 na agricultura brasileira? Diante de todo este contexto, quais seriam, portanto, os principais pontos de preocupação que poderíamos elencar como prioritários para o agronegócio brasileiro e global? Abaixo, apresentamos uma proposta com os 10 principais itens, que podem ser discutidos e utilizados por agricultores, profissionais, especialistas ou organizações do setor em suas discussões estratégicas:

1. Eventos climáticos e políticas ambientais: Secas, enchentes e novas exigências ambientais afetando a produtividade nas lavouras.
2. Riscos de pandemias: Doenças em humanos e animais podem restringir exportações e comprometer cadeias produtivas.
3. Guerras e crises globais: Conflitos, ataques cibernéticos e volatilidade do petróleo impactando preços de commodities e insumos.
4. Cenário político e regulatório: Novos acordos e restrições comerciais e políticas migratórias influenciam o comércio e oferta de mão de obra.
5. Economia global e inflação: Taxa de juros, câmbio e endividamento impactam custos, investimentos e rentabilidade do setor, ao mesmo tempo que podem gerar novos mercados consumidores.
6. Oferta e demanda de insumos, comportamento de compra e inovações: O acesso a fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas segue sendo um fator crítico de sucesso.
7. Cadeia logística: Gargalos em transporte, armazenagem e custos energéticos podem pressionar os preços globais.
8. Inovação e Tecnologia: Novas tecnologias como inteligência artificial e digitalização influenciam o campo, juntamente com novos comportamentos dos consumidores.
9. Pragas e Doenças: O investimento para alcançar variedades mais resistentes e novas estratégias de controle deve ser contínuo.
10. Escassez de mão de obra: a falta de trabalhadores qualificados e retrocessos nas políticas trabalhistas pode impactar custos e produtividade.
 
É essencial lembrar que o cenário macroeconômico do agro está em constante evolução, influenciado por fatores econômicos, políticos, climáticos e tecnológicos. As informações contidas no texto podem servir como base para análises e acompanhamentos futuros, mas não como verdades imutáveis. Estamos, cada vez mais, diante do que chamamos de período das “Variáveis Variando Violentamente”.

É preciso acompanhar diariamente os desdobramentos e calcular os impactos, para que se possa mapear os desafios ou até mesmo aproveitar oportunidades. Resiliência e boa gestão são mais necessárias do que nunca, mas o cenário para a agricultura brasileira é positivo.