Presidente da Unica
Op-AA-21
Nos últimos anos, particularmente desde 2007, a Unica vem trabalhando em várias frentes para que a imagem do setor sucroenergético brasileiro reflita a realidade de uma atividade que vem crescendo e se modernizando em ritmo acelerado, colocando de lado velhos mitos, cada vez menos alicerçados em fatos, que alguns ainda insistem em atribuir ao setor de maneira generalizada.
Esse conjunto de iniciativas, de diversas amplitudes e níveis de complexidade, vem produzindo resultados que já são perceptíveis e que talvez se tenham apresentado de forma mais visível durante o Ethanol Summit 2009, realizado no início de junho no Sheraton World Trade Center em São Paulo. A exemplo da primeira edição, realizada em 2007, o Summit mais uma vez transformou São Paulo no centro das atenções globais sobre os biocombustíveis, com destaque para o etanol brasileiro produzido da cana-de-açúcar.
Mas, diferentemente da natural curiosidade exibida por especialistas estrangeiros que vieram mais para visitar o setor e conhecer o evento em 2007, o que vimos desta vez foi uma participação mais intensa e qualificada, em que visitantes e brasileiros se integraram em dezenas de painéis e debates, todos nitidamente mais equipados para abordar as inúmeras vertentes em torno do assunto.
Esse foi um sinal claro do aprendizado por que passou a nossa entidade e boa parte do mundo, a partir do momento em que tantos identificaram nos biocombustíveis – e especificamente na bem-sucedida e exemplar solução brasileira – um possível caminho para seus próprios países, seja via produção própria ou importações.
Mais do que isso, foi motivo de grande satisfação constatar que os esforços dos últimos dois anos já nos permitem crer que estamos lidando não apenas com especialistas, autoridades, técnicos e pesquisadores mais bem equipados para o debate, mas também com uma opinião pública que gradativamente ganha maturidade e conquista um entendimento mais preciso e completo, que já permite a muitos entender as vitais diferenças entre um e outro método, um e outro tipo de biocombustível.
São percepções que, entre outros aspectos, confirmam o valor da transparência e da política de portas abertas que temos adotado perante a mídia brasileira e internacional. O Ethanol Summit nos apresentou essa nova e mais informada realidade abertamente, não apenas na cobertura jornalística que recebeu, mas também em debates em que prevaleceu a espontaneidade de quem apresenta, com autoridade, não só ganhos e avanços como também dúvidas que merecem atenção presente e futura, como fez o consultor e quase “inventor” da Responsabilidade Social Corporativa, o britânico John Elkington.
O evento também apresentou discussões em que evidentes diferenças de opinião foram abordadas de forma criteriosa, objetiva e cuidadosa, pois todos hoje sabem que omitir fatos não traz bons resultados – não há futuro em contar apenas metade da verdade.
Foi o que se viu no grande debate da manhã do terceiro dia do evento, que contou com o Presidente da Associação de Combustíveis Renováveis - RFA, dos Estados Unidos, Bob Dineen, o Presidente da Associação Americana de Biocombustíveis Avançados - ABFA, Mike McAdams, o Diretor-executivo da associação europeia eBio, Rob Vierhout, o Ministro André Correia do Lago, do Itamaraty, e o representante-chefe da Unica para a América do Norte, Joel Velasco. Em momentos assim, fica claro por que era importante “internacionalizar” a Unica com a abertura de escritórios na Europa e nos EUA e, ao mesmo tempo, assumir posturas mais proativas e abrangentes na comunicação corporativa do setor.
É assim que ficam claros os resultados de meses seguidos atendendo diariamente solicitações de jornalistas de todo o Brasil e de todos os continentes, ou buscando relacionamentos permanentes com entidades dentro e fora de nosso país, através dos nossos escritórios em Bruxelas e Washington.
Ao avaliarmos o que as pessoas estão dizendo após todo esse esforço, que toma imenso tempo dos executivos e consultores da Unica, obrigados a se engajar em explicações necessariamente repetitivas para garantir a compreensão dos temas, podemos concluir que o debate sobre biocombustíveis, especialmente o papel do nosso etanol de cana-de-açúcar, está hoje muito mais qualificado e equilibrado do que já foi em um passado não tão distante assim.
Nota-se o progresso, também, no tipo de cobertura que o setor recebe, especialmente em um momento em que a indústria brasileira de cana-de-açúcar vai para o centro dos holofotes, como ocorre quando se realiza um evento do porte do Ethanol Summit. Foram quase 400 jornalistas credenciados, produzindo matérias em ritmo, às vezes, frenético, divulgadas em todas as mídias e em todas as partes do mundo.
O detalhe importante aqui é que, desse fluxo fantástico de informações que o Summit gerou - só em mídia impressa, foram mais de 250 matérias, pouquíssimos foram os exemplos em que o conteúdo foi de alguma forma tendencioso ou negativo para o setor. Muito pelo contrário, parcela fortemente majoritária dessa cobertura nos apresentou conteúdos essencialmente equilibrados, baseados em ciência e fatos.
Se é verdade que ocasionalmente ainda aparecem matérias que procuram salientar os velhos mitos e dogmas, claramente também é verdade que esses exemplos estão se tornando cada vez mais escassos. A natureza repetitiva desse tipo de exposição na mídia é mais um ponto que garante que, em algum momento, tais interpretações fatalmente ficarão com a dimensão que merecem ter – a dimensão de fatos isolados, remotos e não representativos das práticas que prevalecem no setor sucroenergético brasileiro.
Não por acaso, considerando--se esse contexto de avanço nítido e perceptível proporcionado pelo Ethanol Summit 2009, o evento foi palco do lançamento oficial de mais duas iniciativas vitais que, ao longo do tempo, vão contribuir para alavancar a proatividade do setor. Uma delas, o Projeto RenovAção, é uma resposta potente à realidade que se apresenta em função do avanço inexorável da mecanização da colheita de cana.
Resultado da união de forças entre a Unica, a Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados do Estado de São Paulo - Feraesp, e empresas de porte mundial – Syngenta, Case e John Deere, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, o projeto vai requalificar 7 mil pessoas por ano, a maioria delas cortadores de cana, para que possam assumir outras funções dentro da indústria da cana, ou atuar em setores onde há demanda por mão de obra nas suas comunidades.
A outra grande iniciativa, com ações já em andamento, é o Projeto Agora – Agroenergia e Meio Ambiente, criado para aglutinar toda a extensa cadeia produtiva em torno da cana-de-açúcar em um grande esforço conjunto de comunicação e marketing em prol não apenas de quem produz cana, etanol e bioeletricidade, mas de toda a imensa rede de instituições, empresas e produtores que beneficia todo o país com o seu comprometimento com a cana-de-açúcar e seus produtos.
O projeto nasce forte, com cinco empresas participantes – Itaú-Unibanco Holding, Monsanto, Basf, Dedini e SEW-Eurodrive, e apoios fundamentais, como os da Orplana e de vários sindicatos estaduais de produtores de açúcar e etanol vinculados ao Fórum Nacional Sucroenergético. Logo após o Summit, tivemos mais uma prova de peso da nova realidade que vai se instalando em torno do setor sucroenergético brasileiro, baseada principalmente na realidade dos fatos, na pluralidade e na cooperação, deixando de lado relações conflituosas e adversárias.
Em um evento marcante pelo tom construtivo de todos os protagonistas, a começar pelo presidente e idealizador daquele momento, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhamos o lançamento do Compromisso Nacional para o aperfeiçoamento das condições de trabalho na cana-de-açúcar, um amplo e já vitorioso alinhamento entre trabalhadores, empresários e o governo federal que vai valorizar as melhores práticas existentes no setor, especificamente no caso do corte manual de cana, tornando-as exemplos a serem seguidos por todos.
Mais de 400 pessoas acompanharam o lançamento no Palácio Buriti em Brasília e certamente vibraram com o discurso espontâneo, objetivo e altamente conciliador com que o Presidente Lula encerrou o evento. Vibramos todos, também, com o primeiro grande resultado dessa iniciativa: das cerca de 400 usinas instaladas no Brasil, mais de 300 já aderiram ao novo Compromisso.
Tudo isso aponta para um quadro de consolidação de uma imagem diferente da que nos acostumamos a observar no setor sucroenergético brasileiro. Críticas ainda há, e, por muito tempo, certamente, ainda existirão casos que, com o tempo, cada vez mais serão identificados exatamente como aquilo que são: exemplos isolados de práticas inadequadas, que vão sendo varridas de nossa atividade na medida em que as empresas do setor se consolidam e se profissionalizam.
Trata-se da valorização de todos os aspectos que a sociedade moderna identifica como importantes na constante busca da competitividade e sustentabilidade de todas as atividades que são fundamentais para o nosso futuro comum. Talvez a maior prova do progresso feito nos últimos anos tenha vindo em um momento isolado, apenas uma frase dita pelo ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, durante a sua concorrida palestra, encerrando o primeiro dia do Ethanol Summit.
Com a autoridade de um ex-presidente americano reconhecido pelos resultados marcantes de sua administração, que, após deixar a Casa Branca, criou a Clinton Climate Initiative, entidade que hoje atua em vários países no fomento de soluções para os desafios do aquecimento global e das mudanças climáticas, Clinton afirmou: “não é mais preciso convencer ninguém de que o etanol brasileiro de cana-de-açúcar é um combustível limpo, pois o mundo já sabe disso”. Uma frase assim, de um formador de opinião global do porte de Bill Clinton, por si só já é uma grande vitória.