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Paulo Adalberto Zanetti

Presidente da Vale do Ivaí - Açúcar & Álcool

Op-AA-01

A revista Opiniões como ferramenta de planejamento estratégico

Como empresário do setor sucroalcooleiro, tenho notado uma deficiência na área das comunicações de nosso setor. Temos excelentes revistas como o JornalCana, IdeaNews, Álcoolbras, entre outras publicações. Recebemos diariamente também um volume realmente grande de informações, produzidos por um número igualmente grande de pessoas, dentro dos sindicatos, das associações de classes e institutos, que continuadamente estão sendo geradas com a intenção de nos capacitar para tomadas de decisões.

Entretanto, observo uma deficiência geral: sempre são entrevistadas ou consultadas as mesmas fontes de informações, como se nosso setor fosse formado por um pequeno número de empresários e mais, como se a cadeia do nosso negócio fosse formada apenas por produtores. Esta forma de agir faz com que não tenhamos a oportunidade de conhecer gente nova com opiniões e visões diferentes, e com isto, anulando a chance de que sejam levantadas novas lideranças.

Além disso, este cenário não gera uma situação de crescimento real, pois sempre nos coloca às voltas com as mesmas opiniões, estruturadas sob os mesmos pontos de vista, analisando os velhos problemas. Não temos aqui um cenário que alavanque o progresso. Além disso, as consultas de opiniões são também centralizadas nos produtores de uma forma excessiva.

É raro ver uma entrevista ou artigo de um empresário de outros segmentos da cadeia produtiva, como os fornecedores de cana, os fabricantes de equipamentos, de insumos, de tecnologia e, principalmente, de quem está na linha de frente do nosso mercado: os executivos das montadoras, tradings, revendas, da comercialização, da distribuição e, o mais importante, o nosso maior patrimônio, o nosso consumidor. Aliás, alguém sabe como está sendo tratado o nosso consumidor?

Eu realmente aposto no sucesso da revista Opiniões, pois ela propõe fazer comunicações de um novo modo. A revista Opiniões não deve substituir a importância das demais revistas. Ela vem atingir um novo nicho da informação, ao propor trabalhar com um assunto único por edição, sempre representando algo estratégico e ouvindo a opinião de toda a cadeia produtiva.

Serão ouvidos, segundo seus planos, algo em torno de 20 a 30 executivos por edição. Os artigos serão preparados de próprio punho ou com a ajuda de sua equipe, e serão assinados pelos executivos, na condição de jornalistas articuladores gerando com isso um comprometimento de atitudes do executivo para com suas próprias palavras.

Assim, cada edição da revista acabará sendo um verdadeiro tratado sobre o assunto em pauta, pois após tomarmos conhecimento das opiniões dos executivos que representam todos os segmentos da cadeia, vamos ter condições de melhor formar a nossa própria opinião e nos prepararmos mais competentemente para as tomadas de decisões.

Por esses motivos enfatizamos nosso apoio a esse novo veículo de informação, envidando esforços para que ele se consolide, pois, assim sendo, passará a desempenhar um importante papel na formação do pensamento empresarial brasileiro, ajudando a melhor estruturar o rumo dos nossos negócios. Defendo a revista por ter essa visão porque essa também é a base do modelo de autogestão que sustento para o nosso setor.

Assim como na revista, a organização das idéias e o envolvimento de toda a cadeia são os segredos para o desenvolvimento do nosso setor. Essa é a conduta que levará ao sucesso o modelo de autogestão capaz de amenizar os ciclos de altos e baixos da atividade do setor sucroalcooleiro. Esses ciclos são naturais na atividade agrícola, porém, se nossa atividade dispuser de um modelo organizado e alicerçado de autogestão, se sujeitará muito menos a essas sazonalidades.

Se houvesse um mínimo de união e organização, o segmento produtivo não teria perdido 4 bilhões de dólares para os segmentos da comercialização e da distribuição na crise de 98/99. Embora assemelhados, o cenário daquela crise nada tem com o deste momento. Estamos vivendo apenas os ajustes necessários para o amadurecimento e o aperfeiçoamento de nosso modelo de autogestão.

Agora o governo nada mais pode fazer do que regulamentar. Cabe a ele assegurar a mistura do álcool na gasolina, regulamentar a mistura no diesel - que não sei por que não acontece, promover o biodiesel, ajudar-nos na ampliação da infra-estrutura portuária necessária à exportação do etanol e apoiar-nos na abertura de mercados - dizendo lá fora que o álcool existe e é importante para o Brasil.

Afora isto, podemos chamar todas as demais responsabilidades como “dever de casa” do próprio setor, onde também se inclui a manutenção de estoques estratégicos. Não podemos aceitar que um pequeno excedente de produção de um milhão e pouco litros, representando pouco mais de um mês de consumo, tenha força para derrubar os preços aos níveis que chegaram.

O start da queda dos preços foi provocado pela Lei de Gerson quando uma parte dos produtores desistiu de bancar os estoques estratégicos e abriu para o mercado seus tanques lacrados, deixando de dar a sua cota de sacrifício porque o vizinho não o fez. Isso demonstrou não apenas desorganização, mas uma grande falta de visão.

O cenário do setor é bom. Se organizado melhor, consolidando certo equilíbrio no mercado interno, enquanto tivermos essa forma de tributação, um cenário de necessidade ambiental no exterior, o mercado do álcool é seguro, consistente e promissor. No mercado interno, por exemplo, o fantasma do sucateamento da frota a álcool foi definitivamente enterrado, pois o carro a álcool, através do flex-fuel, já é uma realidade.

A safra brasileira 03/04 deve girar em torno de 350 milhões de toneladas de cana, produzindo 24 milhões de toneladas de açúcar e 14 bilhões de litros de álcool. Não é uma safra absurda, apenas boa. O que aconteceu foi que o consumo do mercado interno não cresceu o que imaginávamos e acabamos tendo um excedente equivalente a um mês de consumo, cujo destino planejado seria o estoque regulador e depois liberado para o mercado externo.

Não é possível vermos passivamente o álcool ser vendido na usina a R$ 0,30 e comercializado na bomba a R$ 1,50 em BH, enquanto em São Paulo o preço está em R$ 0,80.Também não é aceitável ouvirmos projeções catastróficas para os preços de vendas de nossos produtos, em cima de previsões da safra futura, quando a lavoura ainda está em formação, sujeitas ainda às condições climáticas mais diversas.

Estamos nos limitando como se os nossos negócios fossem apenas até a porteira da fazenda. Não podemos conviver com distorções dessa ordem, que não beneficiam nem o produtor, nem o consumidor, mas apenas quem está no meio do ciclo, com uma transferência demasiada de renda. A fatia do bolo de cada um pode ser equacionada, pode sofrer variações, mas sempre deverá ser equilibrada e coerente. Todos ganham com isso. Os ajustes ao modelo viabilizarão esta realidade.