Presidente de Honra da Fenasucro (Cosan, Esso e Shell)
Op-AA-26
Primeiramente, quero expressar a alegria que senti quando o Toninho Toniello, o Adézio e o grupo que os acompanhou me convidaram para ser o Presidente de Honra da Fenasucro 2010, evento de grande importância, que mostra o excepcional trabalho, há muito desenvolvido, na cidade de Sertãozinho. Fiquei realmente feliz com essa homenagem.
O Fórum Internacional sobre o Futuro do Álcool, evento oficial de abertura da Fenasucro & Agrocana, apresentou uma série de palestras sobre os vários segmentos do nosso setor, destacando o que está sendo feito no Brasil com relação à produção de cana-de-açúcar, envolvendo cuidados com a terra, questões sobre o clima, assuntos gerais na relação com nossos trabalhadores, as pesquisas que estão sendo desenvolvidas na busca da melhoria da qualidade da matéria-prima, nos melhoramentos aplicados e em desenvolvimento na indústria, nos investimentos que têm sido feitos em infraestrutura, e tudo o mais que compete ao homem na administração dos desafios com os quais temos nos deparado, enfrentado e vencido com valentia e competência, a cada dia, na busca da melhoria da competitividade do açúcar e do álcool.
Veremos em detalhes as questões em evolução no setor sobre a qualidade da cana, a cogeração, álcool de primeira e segunda geração, dentre outras questões. Um assunto que sempre nos preocupou e nos orientou, dentro da Cosan, foi procurar descobrir quais são os nossos pontos fracos. É fundamental identificar com antecedência em que poderíamos ser vencidos.
Quando uma companhia abre o capital, trabalha num contínuo road show pelo mundo inteiro, vendendo seu negócio, explicando detalhes, tem que ter todas as coisas muito bem organizadas. Ao final de uma apresentação, sempre aparecem duas perguntas. A primeira que eles fazem é padrão: o que eu deveria ter perguntado a você e não perguntei? E a segunda: qual é o ponto que o preocupa no negócio?
No nosso negócio, o ponto fraco – nosso calcanhar de Aquiles – sem sombra de dúvida, resume-se a dois problemas. A questão da sonegação fiscal, consequência da fragmentação do nosso setor. Temos um número muito grande de players. E, como agravante, somos um setor intensivo em capital de giro, pois o que se produz em sete meses do ano deverá ser vendido nos doze meses, tornando a organização comercial da venda muito difícil.
No caso do açúcar, é mais fácil, porque o Brasil domina entre 40% e 45% das exportações livres e todo mundo tem o acesso a pré-pagamentos e adiantamentos de câmbio da exportação. Esse fato ajuda na organização e melhora as questões comerciais. Não é necessário carregar altíssimos estoques ao longo do ano. No caso do etanol, a administração é muito, muito mais difícil.
Em função da defasagem entre o tempo de produção e o tempo de venda, no momento do caixa baixo, quando é necessária a busca de um reforço financeiro, depara-se com um custo do dinheiro muito caro no mercado. A saída é desovar os estoques, mas, quando muitas empresas fazem a mesma coisa ao mesmo tempo, joga-se o preço para baixo, criando uma volatilidade nos preços do etanol.
Esse é um fato ruim para o produtor e igualmente ruim para o consumidor, pois causa, às vezes, a impressão de movimentos especulativos provocados pelo setor. Na busca da solução desse problema, adquirimos os ativos da Esso para que pudéssemos ter um acesso direto ao consumidor, assumindo um melhor controle da cadeia. Isso foi muito bom, pois nos permitiu uma integração maior e um melhor entendimento entre nós, produtores e a indústria da distribuição de combustíveis.
Víamos, naquela época, um antagonismo, uma oposição de ideias entre a Unica, os produtores, o pessoal do Sindicom e da distribuição de combustíveis. E, quando tivemos a oportunidade de ver esse cenário mais de perto, percebemos que o negócio não era bem assim. O problema do etanol, realmente, é a sazonalidade, com a questão do capital de giro e a real desorganização na parte comercial.
Esse movimento de consolidação que tem acontecido no setor é muito saudável, porque, quando se concentram e se organizam melhor a distribuição e a comercialização, temos condições de alcançar preços médios melhores e diminuir a volatilidade. Nessa linha, para esse movimento ficar maior e mais forte, fizemos a joint-venture com a Shell, passando a cerca de 24% de market-share na distribuição de combustíveis no mercado interno – lutando pelo segundo lugar –, e tendo a Petrobras como líder.
Mais importante que isso, temos na Shell uma das maiores empresas do mundo e, com destaque, o maior retalhista de combustíveis do mundo. Ela tem mais de 45 mil postos de combustíveis ao redor do mundo e um dos sucessos que esperamos dessa associação é poder utilizar todo esse patrimônio e logística para escoar, ainda mais, o etanol, tornando-o, realmente, uma commodity mundial.
Se não conseguirmos fazer isso, vejo com preocupação a consolidação definitiva do etanol, por causa dos motivos comerciais. Se tivermos sucesso nesse projeto, acho que o mercado desse produto estará muito mais firme, pois poderemos vendê-lo melhor no nosso país. Que os políticos trabalhem para igualar os impostos do etanol no Brasil.
Temos, no estado de São Paulo, uma condição exemplar com o etanol a 12%, enquanto outros têm percentuais muito mais altos, tirando a competitividade do produto em relação à gasolina e estabelecendo um convite à sonegação para alguns produtores, distribuidores e revendedores, fazendo com que empresas sérias percam a competitividade. Essa é a minha mensagem para reflexão: que a gente se concentre nessa direção. Finalmente, parabenizo os organizadores desse Fórum Internacional e das Feiras pela competência com que representam o setor sucroalcooleiro por meio desse evento.