Já começamos a testemunhar os efeitos adversos das mudanças climáticas globalmente, impactando nosso ambiente e as pessoas. O setor agrícola e aqueles que trabalham nele estão entre os mais afetados. O Brasil é uma das regiões com maiores riscos potenciais, parcialmente devido à sua geografia única e à sua dependência econômica dos recursos naturais. A cana-de-açúcar, especificamente, embora seja uma cultura relativamente resiliente, está altamente sujeita à diminuição da produtividade à medida que os efeitos contínuos das mudanças climáticas são sentidos. É inegável que, coletivamente, devemos adaptar nossas práticas para prosperar neste novo mundo.
À medida que nosso clima muda, ele afeta nosso ambiente e leva a alterações nos padrões de chuva, na temperatura e em eventos climáticos extremos.
Alguns dos principais parâmetros que impactam na produtividade agrícola incluem estresse térmico, risco de seca, risco de chuvas extremas, risco de geada e escassez de água. A biodiversidade e a natureza também estão em risco, potencialmente levando à extinção de espécies e à perda de habitat.
As mudanças climáticas já estão remodelando zonas agrícolas, à medida que o aumento das temperaturas e as chuvas irregulares forçam as culturas a migrarem para novas áreas. Culturas tropicais como a cana-de-açúcar enfrentam a ameaça de redução de produtividade, impactando a segurança alimentar global e a economia. Esses desafios enfatizam a importância de estratégias de resiliência para garantir sistemas agrícolas sustentáveis em meio a essas mudanças profundas.
Não é apenas o ambiente que é impactado por um clima em mudança. As pessoas também são diretamente afetadas, seja por riscos à saúde, seja por perda de segurança financeira, seja por vivenciar os impactos de condições climáticas extremas. A colheita da cana-de-açúcar exige grande esforço físico dos trabalhadores sob calor intenso, o que apresenta um risco significativo à saúde.
O estresse térmico ocupacional é um problema crescente devido às mudanças climáticas, causando doenças renais e, em muitos casos, a morte.
Os principais riscos enfrentados pelos produtores de cana-de-açúcar no Brasil variam de região para região, mas focam na seca, no estresse térmico e nas chuvas irregulares. Por exemplo, um estudo recente na região Centro-Sul do Brasil mostrou uma redução projetada de 10% na produtividade da cana-de-açúcar devido às secas severas e incêndios.
Há uma variedade de ferramentas climáticas que podem ser utilizadas para avaliar riscos climáticos, aproveitando dados climáticos históricos e modelos climáticos projetados, analisando diferentes cenários, como os oferecidos pelas ferramentas do IPCC.
As ferramentas do IPCC utilizam modelos climáticos avançados, como as Trajetórias de Concentração Representativa (Representative Concentration Pathways – RCPs), para projetar vários cenários climáticos com diferentes níveis de precisão. Essas ferramentas são altamente eficazes na análise de riscos climáticos específicos para a produção de cana-de-açúcar no Brasil.
A solução está centrada na construção de resiliência e na adaptação às mudanças climáticas. Implementar a agricultura regenerativa é um dos melhores métodos para construir resiliência na agricultura. Agricultura regenerativa significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mas todas as definições se concentram na construção da saúde e resiliência do solo.
Isso pode ajudar a aumentar o carbono orgânico do solo, melhorar a eficiência hídrica e minimizar os insumos no solo. Práticas como cobertura vegetal, minimização do preparo do solo e manejo integrado de pragas são comumente usadas. Essas práticas devem ser adaptadas ao cenário local e abordar os maiores riscos climáticos no contexto dado.
Os critérios do Padrão de Produção Bonsucro incluem a realização de uma avaliação de risco climático e a construção de um plano de resiliência climática para combater esses riscos.
Estamos atualmente desenvolvendo uma ferramenta de resiliência climática que permite aos usuários avaliarem riscos climáticos atuais e futuros com base em vários cenários, usando a produtividade como métrica. A ferramenta então desenvolve um "cenário resiliente" através da implementação de práticas – frequentemente focando na agricultura regenerativa. Em conjunto com essa ferramenta, estamos expandindo ainda mais nossa atuação em agricultura regenerativa. Está claro que práticas como cobertura vegetal e minimização do preparo do solo podem reduzir significativamente o risco climático ao melhorar a saúde do solo, aumentar a eficiência hídrica e minimizar os insumos.
Os impactos das mudanças climáticas se estendem além da cana-de-açúcar, ameaçando outras culturas críticas como soja e café, que são vitais para a economia do Brasil. Cada cultura enfrenta desafios únicos; por exemplo, a produção de café está cada vez mais vulnerável ao aumento das temperaturas e às chuvas irregulares, o que leva ao desenvolvimento de variedades resistentes ao calor.
Da mesma forma, a soja é suscetível à seca e ao estresse hídrico, o que pode afetar gravemente a produtividade. Essas vulnerabilidades sobrepostas destacam a importância de estratégias cruzadas de culturas, incluindo técnicas de agricultura resiliente ao clima, agricultura de precisão e colaboração global.
Abordar riscos compartilhados entre culturas não apenas garante a segurança alimentar e econômica, mas também fortalece a resiliência geral do setor agrícola a um clima que está mudando rapidamente.
Em conclusão, é inegável que as mudanças climáticas estão e continuarão a ter impactos negativos na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Avaliar esse risco é um passo crucial, seguido por um plano para construir resiliência. O uso de ferramentas pode ser particularmente útil, e um foco na agricultura regenerativa pode construir essa resiliência com custo mínimo.
Finalmente, é importante também observar que a mitigação climática é um componente essencial. Embora a adaptação climática possa ajudar a combater alguns dos problemas associados às mudanças climáticas, combater a causa raiz do problema não deve ser deixado de lado.