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Adézio José Marques

Presidente do CEISE Br

Op-AA-28

A cadeia produtiva se repensando

A produção mundial de etanol cresceu de 16 bilhões de litros em 2000 para mais de 100 bilhões de litros no ano passado. A Shell, segundo o The Wall Street Journal, estima que os biocombustíveis possam responder por até 20% de todos os combustíveis de transporte daqui a 30 anos, ante os atuais 3%.

No Brasil, mais de 80% dos carros novos vendidos podem rodar com qualquer mistura de etanol e gasolina, e o setor de biocombustíveis já representa 21% das fontes energéticas dos transportes, ante 4% dos EUA. Há, entretanto, desafios enormes que precisam ser conhecidos, medidos, avaliados e enfrentados.

A Archer Consulting estima que o Brasil precisa de novos investimentos na ordem de US$ 60 bilhões nos próximos seis anos, só para atender à atual demanda de consumo dos carros flex. Até 2020, para cumprirmos nossos compromissos e mantermos nossos mercados abastecidos de açúcar e etanol, precisaremos de, no mínimo, 100 novas usinas e duplicar a atual área agrícola que a cana ocupa.

A indústria nacional de máquinas, equipamentos, insumos, bens de capital, serviços e tecnologia também precisa de novos investimentos para atender a essa demanda. Isso sem falar do mercado internacional e das novas fronteiras agrícolas que se abrem para a agroenergia e os biocombustíveis, em toda a América Latina, África e países asiáticos.

Ao mesmo tempo, surgem novos biocombustíveis que começam a substituir o diesel e o querosene de aviação. Também prosperam os investimentos em plantas de alcoolquímica e a indústria de plásticos a partir da cana-de-açúcar. E a bioeletricidade caminha a passos largos para ocupar lugar de destaque na matriz energética.

Enfim, todos os fundamentos e prognósticos da cadeia produtiva de agroenergia e dos biocombustíveis são positivos e altamente animadores. Os próprios vultosos investimentos de grupos internacionais, bem como da Petrobras, no setor, mostram que há um elevado grau de confiança em seu futuro. Com efeito, fazem falta o marco regulatório, a definição de linhas de crédito e a desoneração fiscal em projetos greenfield, de modernização de ampliação de usinas.

Há também um gigantesco desafio na formação, qualificação e requalificação da mão de obra do setor. No final de 2010, o CEISE Br - Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis, em parceria com a UNICA - União da Indústria da Cana-de-Açúcar, e a ORPLANA - Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul, lançou a Universidade Corporativa do Setor Sucroenergético - UNICEISE.

Iniciativa essa que pretende preencher uma lacuna na capacitação de gestores para atuação nas empresas que formam a cadeia produtiva sucroenergética. A UNICEISE é um importante passo para a inovação no setor, que passa por um período de transição, que exige dos profissionais conhecimentos em várias áreas.

São programas de extensão, voltados a atender demandas técnicas de formação, MBAs, cursos gerenciais temáticos e um destinado, exclusivamente, a diretores, vice-presidentes e presidentes de empresas do setor.

Outra grande inciativa do CEISE Br foi a criação dos Comitês Técnicos (Relações Institucionais & Governamentais, Logística & Transportes, Bioeletricidade, Serviços, Máquinas & Implementos Agrícolas, Tecnologia da Informação & Automação Industrial, Comércio Internacional, Bens de Capital, Insumos & Produtos Químicos e Inovação Tecnológica) e Setoriais (Novos Biocombustíveis, Alcoolquímica, Biodiesel e Sustentabilidade Ambiental), criando uma estrutura e um ambiente propícios para a institucionalização do Núcleo de Inteligência Competitiva do nosso setor, cuja função principal é fomentar a discussão do futuro da cadeia produtiva sucroenergética e dos biocombustíveis.

Como resultado desses comitês, já temos agendado o Fórum Nacional dos Setores de Agroenergia, Biocombustíveis e Bioeletricidade, a ser promovido no Auditório Nereu Ramos, da Câmara Federal, em Brasília, nos dias 18 e 19 de agosto. O evento discutirá, com pelo menos dez ministros e as principais lideranças empresariais, sindicais e políticas do setor, aspectos relacionados à sua sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Entendemos que iniciativas plurissetoriais como essa mostram a disposição para o diálogo e o entendimento, aproximando todos os interesses dessa cadeia produtiva e estimulando a discussão, em alto nível, dos principais problemas e apontando para as suas soluções. A experiência que acumulamos há mais de três décadas no desenvolvimento e produção de biocombustíveis, aliada à necessidade premente de desenvolvimento de novas alternativas energéticas limpas, seguras e renováveis, nos dá a certeza de que estamos no caminho certo.