Diretor de Mercado da Cosan
Op-AA-04
Energia e Ambiente são dois temas complexos e a cada dia fica mais difícil tratá-los de forma isolada e independente. O início do século XXI deverá ser marcado nos livros de História, como o período em que o chamado Mundo em Desenvolvimento, finalmente tenha acelerado seu processo de crescimento. China, Índia e demais países do Sudeste Asiático puxam a fila com uma constância nas suas taxas de crescimento, sem precedentes.
Rússia vem um pouco atrás, menos estável porém com seu vetor apontando na direção correta. Na América do Sul, nosso Brasil também consolida sua maior estabilidade, preparando-se para harmonizar um novo ritmo. Estas poucas nações juntas, abrigam mais da metade da população do planeta. Todo esse movimento demanda energia. O histórico da humanidade, sobre o tema “exploração e uso de recursos naturais”, mostrou-se um pouco deficiente.
O meio ambiente pagou uma conta alta no desenvolvimento do chamado Primeiro Mundo e deve ser menos penalizado nesse novo ciclo. Esse exemplo do século XX não poderá ser seguido. Na era da informação e dos meios de comunicação, a associação entre o padrão de vida e o padrão de consumo do primeiro mundo firmou-se de forma quase cultural, como modelo a ser perseguido.
Símbolos de consumo como automóveis e modernos sistemas viários, edificações suntuosas, aglomerações populacionais, acabam tendenciando parâmetros e influenciando os cenários de sucesso do Mundo em Desenvolvimento, até mesmo, com surpreendentes choques culturais com tradições milenares, em alguns casos.
Se compararmos padrões de renda e consumo per capita de energia dos dois mundos e imaginarmos qualquer mínima tendência de aproximação entre eles, entendemos facilmente as fortes razões que dão suporte aos novos patamares, crescentes, da demanda de energia. A energia renovável, oriunda de biomassa cultivada sob padrões ambientais mais rígidos de ocupação de solo e uso de água, sem dúvida nenhuma, tem seu espaço nesse cenário.
O álcool é hoje, dos produtos viáveis da biomassa, o mais consagrado. O programa brasileiro de álcool de cana é o maior projeto de energia renovável da atualidade, seguido cada vez mais de perto pelo crescente programa norte-americano de álcool de milho. Brasil e EUA, duas economias em estágios completamente diferentes, com uma mesma solução, cada um a seu modo.
O Brasil, totalmente sem subsídios, mostra a viabilidade através da vocação natural de produtividade na agricultura. Os EUA revestido de toda a proteção política e econômica que a agricultura desfruta no modelo tradicional do primeiro mundo. Mas, será que nesse estágio isso realmente importa? Para nossa análise, vamos fazer uma pequena pausa na legítima e constante reivindicação brasileira de maior liberdade comercial nos produtos de origem agrícola, e tentarmos enxergar o problema de energia e ambiente apenas sob seu prisma mais macro.
O que falta para uma consagração mais global da solução do álcool? No campo da tecnologia já temos provas suficientes de que a produção e o uso do álcool são dois exemplos das melhores curvas de evolução em produtividade, eficiência, custos e flexibilidade. Desenvolvimento varietal; técnicas agrícolas; processos de produção – tanto da cana como do milho e trigo; logística de distribuição; eficiência dos motores a combustão – com destaque para a evolução dos multi-combustíveis; são exemplos consagrados de sucesso e evoluções que parecem ainda infindáveis.
A demanda acelerada por energia tende a consolidar o preço das energias tradicionais em patamares médios mais altos que os alcançados nos últimos anos. Dessa forma, a motivação econômica para o aproveitamento de outras fontes de energia economicamente não viáveis no passado parece estar em curso. O fato econômico associado à tecnologia, sem dúvida, trará outras alternativas. Dessa forma, não há dúvida que o álcool de biomassa firmar-se-á ainda mais, pois já se mostra viável agora, em plena transição desse patamar de preços.
Dessa forma, concluímos que o fator faltante para essa consagração é apenas o tempo. Que será curto caso seja realizada uma revisão profunda nos modelos das matrizes energética-ambiental; mais curto ainda, caso este processo leve a um novo pensamento na organização das políticas de proteção de mercado, com novas prioridades; e inexistente se o meio ambiente receber a atenção devida
O que realmente temos a fazer agora é levarmos ao mundo nossa experiência de sucesso. Trabalharmos para ajudar no surgimento e na consolidação do uso do álcool, seja em mercados protegidos ou não, subsidiados ou não, pouco importa agora. O que é necessário é que esses novos mercados locais surjam e se fortifiquem, que realmente passem a existir de uma forma sólida e estruturada.
Alguns indicadores já apontam nesta direção. Temos um primeiro movimento de alteração de políticas de subsídios na Europa, onde o álcool já é estudado como uma parte da solução da nova equação agrícola. Temos o Japão estudando essa alternativa e dando os primeiros passos, já considerando legalmente a possibilidade da mistura na gasolina. Temos a Índia, tentando organizar seu programa. Diversas delegações estão chegando da China para nos visitar.
Se nós, brasileiros, conseguirmos nos manter competitivos, sem dúvida, teremos nossa participação no mercado garantida. Devemos também evoluir cada vez mais para uma presença consciente, madura e segura nesse mercado internacional emergente. Vamos fazer as coisas certas para abreviar esse tempo de transição. Dez anos, no mundo da energia, não são nada.