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Armene José Conde

Consultor da Canassist – Assessoria para sistematização para a cana-de-açúcar

OpAA86

A otimização das operações de preparo de solo, plantio e colheita da cana-de-açúcar
A introdução de tecnologias avançadas no sistema de produção dependerá da utilização de boas práticas nas operações do preparo de solo à colheita para obtenção de bons resultados. O setor canavieiro há alguns anos não está tendo a produtividade esperada devido ao clima adverso e ao impacto da mecanização. Este artigo cita de maneira técnica e prática procedimentos operacionais que devem merecer mais atenção dos gestores para que os insumos, variedades e tecnologias novas apresentem o ganho esperado. 

Tais procedimentos têm foco na instalação da lavoura e preservação das soqueiras pela eliminação da compactação e do pisoteio. 
 
Base Física: As linhas de sulcação, carreadores, estradas e sistema conservacionista devem ser projetados, procurando-se usar todo o comprimento de campo das áreas. 

Como todos os equipamentos são de grande porte, devem ser operados com acurácia para não pisotear a cultura e compactar o solo. O projeto tem como objetivo reduzir a quantidade de sulcos para reduzir as manobras dos equipamentos. Cada manobra gasta de 1,5 a 2 minutos de cada equipamento, e isto acarreta valor alto em horas, ao final de cada jornada.  

Preparo de Solo: A cana tem 3 tipos de raízes, todas com função de absorção de água e nutrientes: 
1. raízes aerotróficas que se desenvolvem na superfície e sob a palha; 
2. raízes suporte que se desenvolvem a 45º graus dando sustentação aos colmos; 
3. raízes denominadas cordão que possuem diâmetro maior e podem aprofundar até 6 m no solo com função principal de absorção de água. Abaixo de 1,5 m, a maior parte dos solos possui umidade mesmo no período mais seco do ano, e, como raízes cordão não desenvolvem quando o solo está compactado, isso passa a ser uma restrição severa no período de seca.
 
Pode-se estimar que canaviais após o 1º corte produzem em torno de 10 t de matéria seca de raiz/ha até 1 m de profundidade no perfil do solo, quando livres de compactação. 
 
Considerando que a compactação dos canaviais atinge sempre profundidades de 40 cm no perfil do solo (Figura 1), para eliminar esta camada com eficácia deve-se mobilizar o solo a uma profundidade de 50 cm e, para isto, a potência do trator necessária será de 1 hp/haste/cm de profundidade no solo, quando o implemento é subsolador. 

Os subsoladores mais usados têm de 5 a 7 hastes, exigindo uma potência de 250 a 350 hp no trator respectivamente. Implementos canteirizadores possuem 2 hastes com aletas que trabalham a 60 cm de profundidade, exigindo potência no trator de 2 a 2,5 hp/haste/cm de profundidade. O uso de arado de disco ou aiveca requer maior potência do trator, devendo-se considerar uma faixa de 60 a 70 hp para cada órgão ativo destes implementos. 
 
É comum produtores incorrerem em erros de avaliação pós-aração, onde se mede 40 a 50 cm de solo mobilizado, mas na verdade foi mobilizado de 20 a 25 cm, e os valores maiores são devido ao empolamento de solo (aumento do volume de solo). Após a aração, sempre encontramos camadas compactadas com espessura de 10 a 20 cm. 

Preparo Reduzido ou Conservacionista: Consiste em dessecar a soqueira e/ou usar o eliminador mecânico e posteriormente subsolar, para depois entrar com as plantadoras de cana.  A camada de palha deixada sobre a superfície do solo pela cultura anterior mantém umidade no solo (temperatura do solo não ultrapassa 30º Celsius), protege o solo do impacto da gota de chuva e, com isto, possibilita também diminuição ou eliminação de terraços, para favorecer as operações mecânicas. 
 
Pode ser usado no sistema de rotação de culturas com plantio de cereais. Após a colheita de cereais, deve-se avaliar a compactação, normalmente após cobertura com Crotalária sp e cultivo de soja não ocorre, mas após cultivo de amendoim o solo apresenta compactação. 
 
Tanto os canteirizadores quanto os subsoladores devem ter disco cortante na frente de cada haste subsoladora. Estes implementos também foram desenvolvidos para áreas que apresentam praga de solos, com aplicação de inseticidas em profundidade. 

Preparo Canteirizado: É o preparo que mobiliza somente a área onde será feito o sulco de plantio da cana (uma faixa em torno de 80 cm para o espaçamento simples de 1,5 m de entrelinha, ou ainda uma faixa de 2,30 m para colhedoras de 2 linhas). 
 
Preparo em Faixas: Feito por implemento subsolador tradicional com hastes posicionadas para mobilizar solo somente onde serão abertos os sulcos de plantio (Figura 2).
 
Plantio:  Somente as plantadoras de cana e “plantadoras de composto” poderão entrar para fazer o plantio. Todo abastecimento de insumos deve ser feito nos carreadores ou em pátios.
 
Nos preparos em faixa e canteirizado as entrelinhas ficarão compactadas facilitando o rolamento das plantadoras e de todos os equipamentos das operações subsequentes. A geometria dos eixos dos tratores deve acompanhar a das plantadoras para não trafegar sobre a área onde será plantada a cana. 
 
A sulcação não deve ter sinuosidades por aumentarem a chance de os equipamentos pisotearem as linhas de cana.  O paralelismo entre sulcos é fundamental para possibilitar tráfego ideal. 
 
Colheita: É a operação de maior custo do sistema de produção a cada ano, com alto número de equipamentos grandes e pesados. Colhedoras que variam de 19 a 40 t de peso e conjuntos tratores/transbordos que variam de 25 a 50 t transitam dentro da lavoura, e as manobras devem ser feitas em carreadores. 
 
Diversos estudos ao longo de mais de 30 anos realizados pelo Centro de Tecnologia Canavieira mostraram que a compactação abaixo da linha de cana e o pisoteio reduzem a produtividade e longevidade dos canaviais de forma significativa. Pisoteios após colheita com umidade já foram avaliados e mostraram reduções de 30 a 60% na produtividade do corte subsequente por esmagar o tecido vegetal de rizomas das soqueiras. 
 
Pisoteio com solo seco apresenta redução de 10 a 20%. A compactação em cana ocorrerá ao longo dos cortes pelo tráfego dos equipamentos de colheita, mesmo com solo seco e muito mais com solo úmido, mas deve-se direcioná-la para a entrelinha somente, e esta prática é denominada de “canteirização na colheita” (Figuras 3 e 4).  

Tratos de Soqueira: Com a utilização de vinhaça enriquecida e localizada, equipamentos aplicadores foram desenvolvidos e hoje são bastante utilizados. 
 
Estes equipamentos possuem tanque com capacidade para 35 m³, tendo peso total de equipamento mais o trator em torno de 50 t. É recomendável que estes equipamentos (trator+tanque) tenham eixos com geometria adequada para que os rodados só pisem na entrelinha e as manobras sejam feitas fora da lavoura. Os abastecimentos não devem ser feitos dentro da lavoura. 
 
Capacitação de pessoas: Todos os itens citados não têm valor se as pessoas que formam a empresa não os executarem. A formação de pessoas capacitadas é essencial, considerando que os equipamentos são de alta tecnologia e o cultivo de cana possui alto investimento e depende da produtividade e longevidade para que isto retorne de forma positiva.