Diretor Executivo do Grupo USJ
Op-AA-25
A capacidade da humanidade de produzir alimento e energia suficientes para a demanda global futura será colocada à prova nas próximas décadas. Trata-se de um desafio monumental, nunca enfrentado antes pelo ser humano, que é garantir a sustentabilidade do planeta e o respeito aos direitos humanos, com o crescimento previsto da população mundial dos atuais 6,7 bilhões para 9 bilhões em 2050.
O crescimento populacional vai incrementar as desigualdades sociais e pressionar o uso dos recursos naturais. Certamente, também aumentará a escassez de água, a degradação da terra, a depleição dos estoques de peixes, o consumo de cereais, grãos e carne e a redução da biodiversidade. Além disso, a produção de biocombustíveis a partir da biomassa (cana, milho, soja e algas) deve pressionar o aumento do uso da terra e das águas para a produção de energia. Os sinais de que tempos difíceis virão já podem ser vistos nos dias atuais, como o inequívoco aquecimento global e o pico dos preços dos alimentos e da energia ocorridos em 2008, que somente foi contido pela crise financeira mundial.
Tudo isso tem despertado, mais uma vez, a preocupação mundial para a segurança alimentar e para a segurança energética. Hoje, esses temas voltaram a ser prioridade na agenda internacional juntamente com a mudança climática. A outra face da moeda são as oportunidades que um planeta com 9 bilhões de habitantes pode oferecer.
Oportunidades como o crescimento econômico, o aumento do investimento em pesquisa científica, o desenvolvimento de novas tecnologias e novos medicamentos, o surgimento de soluções inovadoras na agricultura, na indústria, no comércio e nos serviços, a criação de alternativas para a erradicação da fome e da miséria e a criação de uma nova cultura de sustentabilidade no planeta.
Há mais esperança do que medo para a humanidade, pois o ser humano sempre enfrentou grandiosos desafios em seu processo evolutivo, tendo sido vitorioso na batalha pela sua sobrevivência. O pensador Lester R. Brown afirma que a “opção da humanidade é adotar medidas extraordinárias de demanda e redirecionamento dos negócios, similar em escala e urgência à mobilização de resistência ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial.
Para isso, quatro componentes serão fundamentais: um enorme esforço para cortar as emissões de carbono em 80% até 2020 a partir dos níveis de 2006; a estabilização da população mundial em oito bilhões de habitantes por volta de 2040; a erradicação da pobreza; e a restauração das florestas, solos e aquíferos. As emissões de dióxido de carbono líquido podem ser cortadas sistematicamente ao se aumentar a eficiência energética e investir significativamente em fontes de energia renováveis.
Também devemos banir o desmatamento mundo afora, assim como o fizeram muitos países, e plantar bilhões de árvores para sequestrar carbono. A transição dos combustíveis fósseis para formas de energia renováveis pode ser conduzida ao impor-se uma taxa sobre o carbono, enquanto se oferece certificados com uma redução do imposto de renda.
A estabilização da população e a erradicação da pobreza seguem de mãos dadas. De fato, a chave para acelerar a direção rumo a famílias menores é erradicar a pobreza – e vice-versa. Uma forma é assegurar ao menos educação fundamental a todas as crianças. Outra, é fornecer atendimento de saúde básica no nível de pequenas cidades, de forma que as pessoas possam ter confiança de que suas crianças irão sobreviver até a idade adulta.
Mulheres em todos os lugares precisam ter acesso à saúde reprodutiva e a serviços voltados ao planejamento familiar. O quarto componente, restaurar os sistemas e recursos naturais da terra, incorpora uma iniciativa em nível mundial para deter a queda nos níveis dos lençóis freáticos ao aumentar a produtividade da água: a mais útil atividade que puder ser extraída de cada gota.
Isso implica seguir na direção de sistemas de irrigação mais eficientes e de culturas mais eficazes no uso da água. Em alguns países, isso implica cultivar (e comer) mais trigo que arroz, considerando que o arroz é uma cultura de uso intenso da água. E, para indústrias e cidades, implica fazer aquilo que algumas já estão fazendo, ou seja, reciclar a água continuamente.
Ao mesmo tempo, precisamos lançar um esforço em escala mundial visando à conservação do solo, similar à resposta dos Estados Unidos à Dust Bowl dos anos 30. Criar terraços, plantar árvores que sirvam de cinturão contra a erosão decorrente do sopro dos ventos e praticar o plantio direto, quando o solo não é arado e os resíduos da cultura são deixados no campo, estão entre as mais importantes medidas para a conservação do solo”, conclui Lester Brown.
Olhando o tema com uma visão estratégica, o setor sucroenergético brasileiro pode ser classificado como parte da solução para os problemas mundiais de segurança alimentar, de segurança energética e da mudança climática. Primeiro, como maior produtora de açúcar do mundo, a agroindústria canavieira do Brasil contribui diretamente com uma das mais importantes matérias-primas da indústria alimentícia global.
Depois, como segunda maior produtora de etanol do planeta e com potencial para voltar a ser a primeira, esta mesma agroindústria canavieira contribui para a solução da demanda de energia combustível veicular no mercado doméstico, mas com capacidade para ter escala de produção para atender o mercado internacional.
E, finalmente, como maior produtor de bioenergia do mundo, o setor sucroenergético do Brasil contribui para redução do consumo de energia fóssil. Vale ressaltar, ainda, que o segmento também contribui fortemente para a redução das emissões de gases-estufa. Em resumo, o setor sucroenergético contribui diretamente em todas as frentes de trabalho, identificadas pelo pensador Lester R. Brown, para salvar o planeta Terra.
O cenário macroeconômico futuro apresenta oportunidades e ameaças para todos os segmentos produtivos, mas a agroindústria da cana no Brasil possui perspectivas muito boas. Isso deve acelerar a entrada de novos concorrentes no segmento, bem como aumentar o processo de aquisições e fusões pelas grandes companhias. Outra externalidade importante será o aumento do investimento em pesquisa, em tecnologia e em novas aplicações para a cana, seus produtos e subprodutos.
Avanços na forma de gestão das companhias e melhoria do perfil da mão de obra também são esperados. Preços competitivos do etanol e seus benefícios ambientais vão pressionar os governos dos países ricos pela abertura de seus mercados. A face do setor sucroenergético brasileiro será completamente diferente nas próximas duas décadas. O jogo da competição evoluirá de forma rápida e mudará profundamente as suas regras nos anos vindouros. Estamos preparados para esse novo jogo? Sua resposta é a sua sentença.