Me chame no WhatsApp Agora!

Guilherme Nastari

Diretor da DATAGRO

OpAA83

Uma indústria a céu aberto
Apesar da prolongada estiagem e do número sem precedentes dos casos de incêndio, a safra 24/25 da região Centro-Sul do Brasil deve terminar com resultados acima do esperado. Na medida em que as usinas não mediram esforços para maximizar as operações de corte e colheita da cana nas últimas quinzenas, apesar do tempo chuvoso, aliado ao maior volume de cana bisada no início da temporada, a moagem de cana totalizou 611,8 milhões de toneladas de cana (-4,3%) até a primeira quinzena de dezembro, sendo produzidos 39,71 milhões de toneladas de açúcar (-5,1%) e 31,93 bilhões de litros de etanol (+3,3%).
 
Frente a este cenário, a Datagro revisou o Balanço de Oferta & Demanda de Açúcar e Etanol para a safra 24/25, com a nova estimativa de moagem de cana de 621 milhões de toneladas, contra 654,4 milhões de toneladas em 23/24. Considerando um rendimento industrial de 140,9 kg ATR/tc e um mix de 48,0%, a produção de açúcar também deve ficar acima da inicialmente esperada, em torno de 40 milhões de toneladas, ao passo que a produção total de etanol deve alcançar um recorde de 34,81 bilhões de litros, dos quais 8,06 bilhões de litros de etanol de milho.
 
Agora, como não restam muitas dúvidas sobre o desfecho da safra 24/25, o mercado começa a concentrar as atenções sobre a configuração da safra 25/26. À primeira vista, há pontos preocupantes que poderiam impactar as condições dos canaviais, sobretudo nas áreas a serem colhidas no terço inicial da próxima temporada, em função da seca e dos incêndios que atrasaram o desenvolvimento das áreas de rebrota, sem esquecer dos impactos negativos sobre as áreas de plantio, que, em alguns casos, foram completamente perdidas devido aos incêndios. Contudo, a boa notícia é que as condições climáticas voltaram ao normal.

Desde outubro as chuvas voltaram a incidir em volumes mais generosos e de forma mais bem distribuída ao longo da região Centro-Sul, promovendo uma rápida recuperação dos índices de umidade do solo. E a cana, como uma gramínea, tem respondido bem à melhoria das condições climáticas, que não se limitam ao bom volume de chuvas, como também da combinação da regular radiação solar. 
 


E a previsão é de que as chuvas continuem favoráveis na região, pelo menos até o mês de março. Ainda que seja necessário aguardar pela materialização das projeções climáticas, há elementos iniciais que nos permitem tecer o provável comportamento da produtividade agrícola da cana no Centro-Sul do Brasil para a próxima safra 25/26.
 
Em linhas gerais, espera-se que os níveis de produtividade agrícola durante o primeiro terço da safra 25/26 sejam menores ante aqueles registrados em mesmo período de 24/25, mas que devem superar a curva de produtividade a partir de setembro, com ganhos de biomassa que provavelmente compensarão a possível retração da área disponível para colheita em razão da perspectiva de maior taxa de renovação do plantio em 2025.

Como resultado, a produtividade média do canavial deve crescer 2,2%, ou 1,7 tc/ha, para 80,3 tc/ha em 25/26, enquanto a área a ser colhida deve sofrer uma retração de 1,4%, para 7,785 milhões de hectares.

Dessa forma, a Datagro projeta, em seu cenário preliminar, que a moagem de cana no Centro-Sul do Brasil em 25/26 não será muito diferente de 24/25, ou seja, 625 milhões de toneladas são, por enquanto, projetadas para a próxima temporada. Partindo deste ponto, resta-nos compreender a geração de seus produtos.



Com os preços do açúcar ainda bem mais atrativos em comparação aos do etanol, sobretudo quando levamos em consideração a antecipação do programa de hedge dos produtores em meio à forte valorização do dólar ante o real, não há dúvidas de que as usinas irão novamente maximizar a produção de açúcar em 25/26; e uma vez que as condições climáticas voltaram ao normal, também é possível presumir que os canaviais terão menos problemas em termos de qualidade da concentração de açúcares. 

Nesse sentido, a Datagro estima que o mix para a produção de açúcar cresça de 48% em 24/25 para 51,5% em 25/26. Consequentemente, a produção de açúcar deverá bater um recorde de 43,24 milhões de toneladas em 25/26.

No lado do etanol, a oferta total em 25/26 tende a ser um pouco maior do que em 24/25, em torno de 35 bilhões de litros, dos quais 10 bilhões de litros a partir do milho, ainda que seja diferente na sua composição, uma vez que a oferta de etanol hidratado deverá cair de 22,45 bilhões de litros para 21,18 bilhões de litros, enquanto a produção de etanol anidro deverá totalizar 13,88 bilhões de litros, contra 12,36 bilhões em 24/25. 

Obviamente, tal cenário ainda está sujeito à continuidade das boas condições climáticas nos próximos meses, mas não descartamos que a moagem de cana possa até ser maior caso o bom volume de chuvas também seja registrado em abril e começo de maio. Por outro lado, há fatores que pesam no sentido contrário a essa possibilidade.

O primeiro condiz com a provável maior taxa de renovação dos canaviais após as perdas com o plantio em 2024, além do fato de que muitos produtores terão de recorrer às áreas de 2º corte como alternativas às áreas de muda que foram engolidas pelos incêndios no ano passado, o que pode limitar ainda mais a área total disponível para colheita em 25/26.
 
De toda forma, há que reconhecer que a melhoria das condições climáticas provocou um alívio aos canaviais, afastando prognósticos mais pessimistas para 25/26.