Me chame no WhatsApp Agora!

Adolfo Eduardo Carpentieri

Consultor para Estruturação de projetos de Biomassa da E2C Consultoria

Op-AA-12

Utilização de biomassa para geração de eletricidade, através da gaseificação

Quem acompanha a área de energia no Brasil, por interesse ou dever de ofício, notou uma sensível mudança na abordagem e no tratamento dos problemas energéticos do país, a partir do início do atual Governo. A nova equipe deixou de lado antigos paradigmas e passou a encarar as fontes renováveis, além da hidráulica, como alternativas reais para responder aos desafios colocados pela crescente demanda por energia, decorrente do crescimento do país e, atualmente, também por uma melhor distribuição de riquezas.

Sem os limites impostos pelas velhas concepções, não foi difícil ver que as energias renováveis poderiam dar uma grande contribuição para diminuir o efeito estufa. E que, a biomassa apresenta uma característica muito desejável, uma vez que utiliza mão-de-obra em grande quantidade, abrindo um elevado número de oportunidades de emprego, principalmente, no campo.
 
Acreditamos que tais fatos levaram o Governo Federal a decidir apoiar firmemente o seu desenvolvimento como recurso energético. O novo patamar a que o álcool brasileiro foi alçado no cenário internacional e o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel - PNPB, são resultados eloqüentes dessa política. O primeiro, já plenamente estabelecido, e o último, ainda nos seus primeiros passos.
 
No entanto, o potencial que está sendo explorado, ou em vias de vir a ser explorado, ainda está muito aquém das reais possibilidades oferecidas pela biomassa, como recurso energético. Estamos nos referindo ao fato de que ela poderia e, a nosso ver, deveria estar sendo cogitada como fonte primária para produção de eletricidade.
 
A utilização de parte do bagaço de cana produzido nas usinas e destilarias de açúcar e álcool e de alguns resíduos agroflorestais, é um passo nesta direção. Porém, ainda muito tímido, quando comparado ao potencial a ser explorado. Principalmente, quando se consideram as possibilidades oferecidas pelas florestas energéticas.
 
O uso de 25% da área do Nordeste teria condições de sustentar florestas com produtividades acima de 25m³/ha.a. A utilização de 15% desta área, 5,8 milhões de hectares, poderiam produzir cerca de 168.000 GWh/a, ou uma potência média de 22.570 MW, cerca de 3,5 vezes o potencial hidráulico explorado na região.
 
A utilização comercial de tal potencial armazenaria cerca de 105 milhões de toneladas de carbono, substituiria anualmente outras 18,5 milhões e resultaria na criação de cerca de 164.000 empregos diretos, gerando renda e bem-estar a um grande número de famílias nordestinas. Em relação à cana de açúcar, há cerca de cinco anos, o potencial de geração de eletricidade, a partir do bagaço, era estimado em torno de 5.500MW. Atualmente, com o aumento das áreas plantadas e o grande número de projetos de usinas e destilarias, este número certamente cresceu substancialmente e pode ser estimado entre 7.000MW e 10.000MW
 
Os valores mencionados baseiam-se no emprego da tecnologia de gaseificação da biomassa, integrada a ciclos combinados; usinas que combinam o uso de turbinas a gás, com turbinas a vapor, para, no caso, atingir eficiências superiores a 40%, ou seja, o dobro ou mais do que geralmente se consegue nos ciclos convencionais, usando apenas turbinas a vapor. Tal tecnologia consiste, basicamente, em transformar a biomassa, através da gaseificação, num gás combustível, passível de ser queimado em turbinas a gás, que, acopladas a um gerador, produzem eletricidade e utilizam os gases quentes dessa combustão, para produzir vapor e mais eletricidade. Todo o processo funcionando de maneira integrada.
 
Acontece que tal tecnologia ainda não está comercialmente disponível. Por outro lado, na década de 1990, vários países, entre eles o Brasil, desenvolveram projetos, cujos objetivos eram, exatamente, mostrar a viabilidade técnica e comercial de se utilizar a biomassa para produção de eletricidade, usando a tecnologia acima descrita. Infelizmente, esses projetos não chegaram a ser concluídos.
 
O projeto brasileiro, um dos mais bem estruturados e que chegou a ser referência para os demais, contou com o apoio e patrocínio da ONU, através do GEF (Global Environment Facility) e do Banco Mundial, e chegou até a fase de implantação, quando, por razões que fogem ao escopo deste artigo, não foi levado adiante.
 
Há cerca de 16 anos atrás, quando este projeto foi iniciado, os problemas ambientais não tinham tanta visibilidade, as ameaças decorrentes do efeito estufa não eram tão presentes, quanto o são hoje em dia. Por outro lado, as empresas envolvidas no negócio de produção de eletricidade prefeririam, e ainda preferem, um pequeno número de grandes projetos, a um grande número de pequenas usinas produzidas em série, que ainda teriam de vencer o problema da competitividade.

Além de tudo isso, a verdade é que as fontes renováveis, com exceção da hidráulica, só agora começaram a ser levadas realmente a sério. Tais fatos representavam uma ameaça aos executivos e gestores da época, que, muitas vezes, despreparados, tinham grande dificuldade em tomar as decisões necessárias ao sucesso de tais projetos. Mas, a situação mudou, o preço do petróleo estabeleceu novos patamares de competitividade, a energia comercializada na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) beira os 70,00 US$/MWh, valor suficiente para viabilizar, na época, o projeto brasileiro.
 
O Clima é uma ameaça real e os governos dos países desenvolvidos, além do brasileiro, discutem e incentivam a utilização das fontes renováveis. Será que já não seria hora de tentar recuperar o tempo perdido e voltar a discutir seriamente o uso da biomassa para produção de eletricidade, através de tecnologias modernas e eficientes?