Diretor Geral do Centro Brasileiro de Infra Estrutura - CBIE
Op-AA-10
De acordo com os dados do Balanço Energético Nacional, a participação dos produtos da cana na matriz energética brasileira aumentou de 5%, em 1970, para 13%, em 2005. Esse crescimento resultou da maior penetração do álcool no segmento de transportes e do uso do bagaço em processos industriais e na geração de energia elétrica.
As vendas de álcool experimentaram forte crescimento no início dos anos 80, em decorrência do lançamento de veículos movidos, exclusivamente, a esse combustível, após o segundo choque do petróleo. No final dos anos 80, com a queda nos preços do petróleo no mercado internacional, a retirada dos subsídios e os problemas no abastecimento, as vendas de álcool hidratado tiveram forte retração e os veículos movidos a este combustível praticamente deixaram de ser vendidos.
Graças ao desenvolvimento dos veículos flex-fuel, que usam gasolina e álcool em qualquer proporção, o consumo de álcool recebeu novo impulso, a partir de 2003. Segundo os dados da Anfavea, os modelos com esta tecnologia apresentaram um rápido crescimento, passando de 0,03% em março de 2003, para 77% das vendas de automóveis de passageiros de uso misto e comerciais leves, em dezembro de 2005 – vide Gráfico 1.
Tendo em vista que todas as montadoras já dispõem de uma grande parte de seus produtos com esta tecnologia, estima-se que, no final de 2007, todos os veículos fabricados no Brasil serão flexíveis. A experiência brasileira na produção de álcool e no uso como combustível automotivo, aliada aos elevados preços do petróleo no mercado internacional e ao aumento das restrições à emissão de poluentes, principalmente, após a aprovação do protocolo de Quioto, em 1997, têm despertado a atenção internacional para o uso do combustível.
A expectativa de crescimento na demanda mundial de álcool fez com que a CBOT - Chicago Board of Trade e o Chicago Mercantile Exchange - CME, lançassem, em março de 2005, contratos futuros para comercialização de álcool.
Esses contratos somam-se aos já comercializados na New York Board of Trade, NYBOT, desde maio de 2004. Estes fatos têm estimulado as exportações de álcool, que aumentaram 43% a.a. entre 1997 e 2005, passando de 140 mil, para 2,57 milhões de m3 – Gráfico 2. Em 2005, o principal destino das exportações nacionais de álcool foi a Índia, com 16%, seguida pelo Japão, 12%, Holanda e EUA, com 10%. Além de estimular as exportações, o interesse internacional sobre o álcool também surge como uma excelente oportunidade para exportação de tecnologia nacional de produção, distribuição e utilização de álcool.
A produção de álcool recupera-se do período de baixa, durante os anos 90 – vide Gráfico 3. Entre a safra de 90/91 e a safra de 97/98, a produção nacional de álcool aumentou 34%, passando de 11,5 para 15,4 milhões de m3. Após um período de queda que durou até a safra 2000/2001, a produção do álcool voltou a crescer e atingiu, na safra 2004/2005, o mesmo patamar observado em 97/98, de 15,4 milhões de m3.
Na safra 2004/2005, o Estado de São Paulo concentrou 60% da produção, 9,1 milhões de m3, seguido pelo Paraná com 8%, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, com 5% cada um. O maior produtor da Região Nordeste é Pernambuco, que produziu 415 mil m3 de álcool na safra 2004/2005, cerca de 3% da produção nacional.
Os dados do Gráfico 3, consideram a produção de álcool no Brasil, incluindo os estados da Paraíba, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia, Pará, Piauí, Rio Grande do Sul, Amazonas e Ceará. Segundo o Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo, estima-se que a produção nacional de álcool aumente dos 15,4 milhões de m3, observados na safra 2004/2005, para 26 milhões de m3, na safra 2010/2011, ou seja, um crescimento de 9% ao ano.
Prevê-se, também, que as exportações deverão aumentar de 2,6, na safra 2004/2005, para 5 milhões de m3, na safra 2010/2011. Uma nova era para o álcool tem como base premissas completamente diferentes. Com os investimentos em pesquisas de técnicas, processos e métodos voltados à cultura da cana e à produção de açúcar e álcool, os ganhos de produtividade e a queda nos custos de produção têm sido constantes.
Desde o início do Proálcool, os custos de produção na região Centro-Sul caíram cerca de 3,2% ao ano, enquanto que na região Nordeste, ficou em torno de 1,9% ao ano. Estes ganhos foram transferidos para o consumidor e, de fato, o álcool é o único combustível automotivo, cujo preço ao consumidor não sofreu elevação em dólares.
Outro ganho de eficiência importante foi na extração de açúcar: o índice de extração de açúcar da cana saltou de 89% para 97%. Através do maior aproveitamento energético do bagaço, as usinas passaram a produzir eletricidade, contribuindo, inclusive, para o suprimento do setor elétrico. Assim, a energia elétrica deixa de ser um mero produto, para se tornar uma fonte de receita, que traz maior estabilidade econômica para o setor. Em virtude de novas exigências ambientais, especialmente com relação à emissão de gases de efeito estufa, novos mercados mundiais estão se abrindo para o combustível verde.
Os Estados Unidos, por exemplo, para atender a diversos programas estaduais e federais de controle de emissões veiculares, já produzem cerca de 8 bilhões de litros por ano de álcool, a partir de milho e celulose. A criação de um mercado global para o álcool deverá fortalecer a indústria brasileira e trazer estabilidade aos preços.
A produção de álcool insere-se na nova mentalidade do agrobusiness, cujo crescimento é essencial para a economia brasileira, não só na geração de divisas, como na melhoria das condições sociais no campo.
O setor emprega, diretamente, em todo o país, cerca de 1 milhão de pessoas, representando 40% de todos os empregados rurais do Brasil. Está ficando cada vez mais distante a imagem do trabalhador bóia-fria, antes associada ao setor. Na nova configuração do mercado de combustíveis brasileiro, o álcool passa a ocupar um importante papel, dividindo espaço com a gasolina e o gás natural veicular GNV.
Restam aos governos estaduais e federal adotarem políticas tributárias, que levem em conta os reais benefícios trazidos pelos três combustíveis aos consumidores e à sociedade como um todo. No caso do álcool, devem ser considerados os seus benefícios ambientais, a geração de empregos, o fato de não pressionar a balanço de pagamentos, além de não comprometer o desempenho dos veículos que utilizam este combustível.