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Luiz Augusto Artimonte Vaz

Diretor Cronos Consultoria

OpAA83

Sistemas para gestão agrícola e de negócios
Prognósticos sobre safras futuras são sempre difíceis, mas 2025/26 destaca-se pela complexidade adicional causada pelo já histórico período de seca e pelos incêndios que marcaram o ano de 2024, deixando sequelas e ensinamentos para o setor sucroenergético.

Falarei primeiramente da expectativa de produção e, na sequência sobre pontos que acredito que impactarão o futuro das nossas lavouras e da nossa atividade econômica. As estimativas de mercado indicam uma moagem entre 580 e 600 milhões de toneladas, números embasados na perspectiva de área de colheita e na produtividade média histórica de 78,1 toneladas por hectare. Entretanto, acredito que as diferenças de rendimento entre unidades e/ou grupos serão acentuadas.
 
Os números acima são explicados em função da extensão dos incêndios ocorridos em 2024, que atingiram aproximadamente 400 mil hectares plantados com cana-de-açúcar em todo o País. Além dos incêndios, a estiagem prolongada e as altas temperaturas afetaram a taxa de rebrota das soqueiras, deixando como herança negativa canaviais com elevado índice de falhas de brotação. O necessário aumento da taxa de replantio provoca uma redução na oferta de cana, quer pela redução da área de colheita – mais de 200 mil hectares somente no Centro-Sul, quer pela necessidade de produção e plantio de mudas.
 
Entre as notícias positivas temos a excelente recuperação das lavouras como resultado das abundantes chuvas de janeiro e fevereiro. Entretanto, como ponto de atenção, o prolongado período de estiagem e o acentuado déficit hídrico a que as lavouras foram submetidas provocaram um atraso no início do período de crescimento vegetativo da cultura, acarretando desenvolvimento fisiológico tardio dos canaviais. Isso torna o clima no período de março a maio de 2025 um fator determinante para a definição da produtividade agrícola futura.
 
A produção de açúcar deve continuar sendo priorizada pela indústria, seja pelo incremento da capacidade instalada ocorrido nos últimos três anos, seja pela diferença positiva de rentabilidade entregue pelo produto em comparação ao biocombustível – entre 20 e 30% superior para o açúcar.

Sob esta perspectiva, o mercado de etanol de cana-de-açúcar pode sofrer uma redução na produção e oferta, sendo o déficit parcialmente compensado pelo incremento na produção de etanol de milho, estimada em 30% da produção total de etanol na safra 2025/26 – 33,5 bilhões de litros, segundo a consultoria. Todos estes dados têm sido amplamente divulgados pelo mercado e nos parecem coerentes.

Agora abordaremos os pontos que entendemos como relevantes para as empresas do setor sucroenergético, os quais compõem os desafios que o setor deve enfrentar na busca por excelência e contínua relevância. As lavouras foram afetadas de forma desuniforme pelos eventos climáticos e pelos incêndios em 2024, sendo que as áreas com manejo agronômico adequado ainda deverão manter médias de produtividade elevadas, destacando os efeitos positivos desta estratégia. 

Teremos uma safra marcada por juros elevados, câmbio instável e margens mais apertadas que provocam apertos na estrutura de custos de produção. Gestão de custos e alocação adequada e assertiva de recursos limitados são essenciais para a saúde financeira das empresas, sendo dependentes de uma avaliação crítica dos resultados, a qual deve ser embasada em análise de dados e informações de qualidade oriundas das áreas responsáveis pela produção agrícola e industrial.

O uso assertivo dos recursos econômicos e a gestão de caixa adequada, aliados à transparência na apresentação de resultados de médio e longo prazo, são essenciais para permitir o acesso a instrumentos de crédito coerentes com a dinâmica da atividade sucroenergética. Mas não se trata apenas de acesso ao crédito. Uma gestão agrícola e de negócios eficiente pode ser classificada como um verdadeiro divisor de águas para a atividade de produção agrícola.

Recorrentemente, a opção de corte de custos recai sobre a cota de insumos agrícolas e/ou na estrutura de acompanhamento da qualidade agrícola, pois são custos variáveis de produção, comuns e mais fáceis de serem manejados. Porém, invariavelmente, esta redução de investimento na área agrícola resulta em problemas de continuidade e manutenção dos níveis adequados de produção dos canaviais, tornando as expectativas futuras de produtividade agrícola exclusivamente dependentes das condições climáticas. 

A instabilidade climática é uma realidade que se impõe, e para mitigar riscos aqui é necessário nos adaptarmos. A alternativa para esta situação, por sua vez, deveria ser simples: ampliar os horizontes da gestão, buscando a identificação das ineficiências operacionais e as oportunidades de melhorias nos sistemas de produção. Sistemas integrados de gestão existem e devem ser implantados buscando melhoria contínua de processos. Novas tecnologias são apresentadas diariamente e desafiam as formas tradicionais de gerir negócios. Reinventarmo-nos é uma obrigação.

Devemos considerar ainda fatores novos ou até então subavaliados no sistema de produção de cana-de-açúcar, como os efeitos de infestações de pragas de solo como Sphenophorus, e doenças como a síndrome da murcha (associação dos patógenos Colletotrichum, Fusarium e Pleocyta), e ainda sua associação com pragas conhecidas como a cigarrinha, responsáveis por perdas severas de produtividade, diminuição de perfilhamento e até mesmo a morte de soqueiras.

Essa situação tende a se agravar na medida em que ações de controle e manejo fitossanitário da cultura da cana-de-açúcar sejam postergadas, resultando em ciclos de baixa produtividade, menor longevidade nos canaviais e, consequentemente, custos de produção elevados. 

Como segundo ponto crítico para o setor sucroenergético, citamos o desafio de atração, manutenção e qualificação de mão de obra, especialmente diante do desafio de adoção de mais tecnologia em seus processos. Inovação, parcerias com demais integrantes das cadeias produtivas e adequação de processos com a criação de incentivos aos colaboradores são essenciais para ter sucesso neste desafio.

O terceiro ponto de atenção está relacionado ao vencimento dos contratos de cogeração de energia e à necessidade de negociação desse ativo no mercado livre, portanto sujeito às condições de oferta e demanda, o que traz instabilidade a uma linha de receita antes bem dimensionada, afetando o horizonte de investimentos. 

O desenvolvimento do mercado para atendimento da demanda de bioenergia, associado a modelos que permitam a certificação de carbono, e ainda o desenvolvimento de processos de reutilização do bagaço como a eletrólise para produção de amônia ou produção de polímeros biodegradáveis são as alternativas que se apresentam para a diversificação do portfólio de produtos e geração de caixa.

O último ponto para o qual chamamos a atenção são os desafios de cibersegurança no setor agrícola. Os riscos são muito altos e incluem perda de dados críticos, interrupções nos sistemas de produção e danos financeiros. A crescente adoção de tecnologias digitais torna a operação mais vulnerável, e processos de mitigação de riscos devem ser adotados: educação digital para os colaboradores, revisão das estruturas de armazenamento e coleta de dados, implantação de sistemas de detecção de invasão e backups de dados.

Diante de tantas incertezas, a adoção de processos de gestão aprimorados e realmente integrados no âmbito das empresas são essenciais para se garantir eficiência e produtividade do agrossistema bioenergético. Ter foco na produção agrícola e na sua gestão torna as empresas mais resilientes e efetivas, diminuindo os custos de produção e garantindo sua sustentabilidade por períodos consecutivos.