CEO da CPA Trading
Op-AA-08
Neste passado recente de mercado livre, pudemos testar algumas iniciativas do setor produtivo sucroalcooleiro na implementação de mecanismos da gestão dos estoques de álcool, com objetivo principal de proteger custos e garantir o abastecimento do mercado. Estas tentativas foram positivas a seu tempo, mas não marcaram perenidade de solução, e apenas para ilustrar, destaco algumas como: a Brasil Álcool e o compromisso de algumas empresas do setor no Centro-Sul para exportação de um bilhão de litros de álcool em 2003.
A discussão sobre a manutenção de estoques para o abastecimento estratégico sempre esteve presente na pauta institucional dos produtores ou nos agentes de regulamentação de governo. E, mesmo assim, tem sido matéria recorrente de desconforto perante a sociedade e o setor produtivo, pela indefinição se a responsabilidade é do Estado ou dos produtores.
Não quero discutir se isto é papel do Estado (Lei nº 8176/91, artigo 4º e seu decreto regulamentador 238/91, artigos 2º e 3º) ou do setor de produção, mas fazer uma tentativa de prever, com análise da estruturação em modelos semelhantes no passado, o destino desta discussão. É curioso perceber que a nossa característica da produção de álcool (em safra concentrada de 6 a 8 meses) é árdua contribuinte para fenômenos como estes de sazonalidade de estoque e alta volatilidade do preço, que aliados a uma significativa produção por unidades ainda autônomas, que não dispõem dos mecanismos de financiamento como no açúcar, agravam sobremaneira estes comportamentos, ora influenciados pelo alto custo de manutenção do estoque, ora pela urgente necessidade de capital de giro, frente às despesas da safra corrente.
E, desta forma, vimos construir, ao longo deste tempo, a alegria de intermediários capitalizados, que com maestria exploraram a estratégia de comprar na baixa e vender na alta, resultando, invariavelmente, na fúria do consumidor e na diminuição da capacidade de investimento das unidades produtoras. Enfim, perdemos, neste tempo, a oportunidade de discutir o assunto de estoque estratégico de álcool, com a importância devida.
Faz-se, agora, necessária a participação de novos agentes neste processo, visto que a ação por parte exclusiva do Estado pode parecer intervencionista e retrógrada ou, pelo produtor, uma infração contra a lei de ordem econômica. Entendo que uma associação do Estado e do produtor nunca produziu, no passado, efeitos esperados e duradouros nesta matéria.
A exemplo de produtos como café e trigo, esta governança associada de estoques foi exemplo de gestão duvidosa e, como conseqüência, hoje não somos mais os mesmos produtores de café e nem de trigo de outrora. Não se trata de incompetência gerencial, e sim de especialização ou expertise sobre o tema. Também, a pluraridade dos nossos produtores contribui sobremaneira com a dificuldade de uma unidade necessária para sobrepor barreiras e assim confiar em uma solução originada na base primária da cadeia produtiva.
Novos agentes é uma conseqüência natural do mercado, devido à importância que o álcool, como uso carburante, passa a ter como assunto substitutivo à energia fóssil, em tempos de petróleo escasso no mundo. Grandes players do setor carburante mundial já efetivam uma participação mais sólida neste processo. Neste contexto, unidades ficarão com o papel principal papel de garantir a produção necessária a atender uma demanda sempre crescente.
E certamente se aperfeiçoarão cada vez mais nisto. A distribuição de carburantes, assim como a manutenção de uma estratégia de estoque, suficiente para atender a demanda e a infra-estrutura logística, a meu ver, serão papéis principais deste player, pela escala que tais serviços exigem, substituindo rapidamente especuladores, que hoje financiam estoques a custos extorsivos.
A evolução do mercado internacional de álcool e a conseqüente criação de mecanismos de hedge deverão ser importantes fundamentos para a maturidade, neste processo. Assim, deveremos ter uma maior estabilidade de preços na produção, resultado de financiamento a custos compatíveis com a atividade de produzir, satisfazendo a necessidade do custeio e do investimento para a expansão.
Nestes novos tempos, a profissionalização do setor produtivo será sempre o diferencial competitivo mais importante, pois, além das habilidades de gestão da produção, serão necessários investimentos no conhecimento de estruturações financeiras e comerciais com um mercado intenso, cada vez mais especialista e competente. Tais fatores criarão segurança e regularidade de fornecimento, e como conseqüência, crédito e fidelidade de uso do álcool como carburante nos mercados internacionais, que hoje vêem com incerteza o suprimento.
Compreendo também que o percentual de mistura de álcool adicionado à gasolina, de certa forma, funciona como estoque estratégico, pela possibilidade da variação que este permite, e que, no futuro, os níveis de mistura, no mercado doméstico, possam acompanhar os mesmos a serem adotados como padrão no mundo.
Não querendo debater o valor do conceito, mas a discussão mais recente sobre a produção única e exclusiva de um aditivo, caso do álcool anidro, para uso como mistura carburante, pode contribuir para facilitar este processo da administração da oferta regular para o consumo e a compreensão da importância que tem a participação de um produto aditivo na solução dos problemas ambientais modernos. Evidente que a eficiência logística e os custos de distribuição beneficiam-se com esta mudança. O principal foco de um negócio sempre será o cliente e independente de nossa vontade os serviços deverão possuir capacidade de alcançar o estado-da-arte para sua plena e real satisfação.