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Tadeu Luiz Colucci de Andrade

Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC

Op-AA-22

A pesquisa na sustentação do setor sucroenergético

Uma séria reflexão sobre as mudanças impostas nos últimos 30 anos, tais como alterações climáticas, combustíveis alternativos, novas fontes de eletricidade e, mais recentemente, bioeletricidade, e como elas dizem respeito ao setor sucroalcooleiro, faz-se necessária. No final dos anos 70, o mundo foi sacudido pelo violento aumento do preço do petróleo, até então a matriz energética.

Procurar alternativas passou a ser prioridade,
pouco ou quase nada questionando a forma e as consequências dessas alternativas. Assim, à época, no Brasil, prevaleceu o álcool combustível, o que acarretaria uma revolução tecnológica no setor de cana-de-açúcar.
Até então, a cana era, basicamente, produtora de açúcar. Com algumas exceções, eram plantadas variedades desenvolvidas em outros países, pouco adaptadas aos nossos ambientes de produção, mas que, de certa forma, supriam as demandas.

Quando o álcool passou a ser alternativa ao petróleo, a produção da época mostrou a necessidade de variedades mais produtivas que atendessem, além da demanda de açúcar, também ao novo mercado do álcool combustível e que pudessem ser cultivadas em áreas consideradas não aptas ao plantio de cana. Nesse momento, os programas de melhoramento genético dessa cultura ganharam força e mudaram o perfil do setor.

A produção por hectare tornou-se cada vez maior, e o Brasil se consolida como líder dessa cultura.
No entanto, mesmo com a expressividade do setor, as práticas agrícolas vigentes não foram questionadas. A queima da cana, o uso de fertilizantes, os tipos de preparo de solo, o consumo de água seguiam os padrões até então utilizados. Mas um fato novo despertou a atenção: a vinhaça, subproduto da produção de álcool.

Após o impacto negativo provocado pelo seu descarte no meio ambiente, as pesquisas mostraram que esse subproduto é um insumo de grande valor na própria cultura da cana-de-açúcar. Hoje, a conscientização ambiental está presente em todas as atividades humanas. Cada vez mais se questiona o impacto que os produtos causam ao ambiente, quer na sua produção, quer no seu consumo. Com o álcool combustível (etanol) acontece o mesmo.

As antigas práticas agroindustriais já não são aceitas. Hoje, o setor preocupa-se com a expansão das fronteiras agrícolas da cultura, com níveis de fertilizantes utilizados, com questões trabalhistas, etc.
Novamente, a pesquisa tem um papel fundamental: programas de melhoramento genético, novas práticas agrícolas e novos modais de corte, carregamento e transporte e, até, processos industriais.

Se, no passado, a pesquisa brasileira gerou a tecnologia que deu suporte ao crescimento do setor, hoje, geram-se tecnologias que procuram solucionar os problemas detectados na prática agroindustrial.
No cenário atual, o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, está totalmente preparado para atender às novas demandas. Diversificou seu programa de melhoramento genético e está presente em todos os seus associados, selecionando variedades de alta produção para todos os ambientes edafoclimáticos.

Só nos últimos cinco anos, vinte variedades de alta produtividade foram disponibilizadas aos associados. Desenvolveram-se novas práticas agrícolas, e, hoje, a expansão da cultura se dá de forma sustentável, com o plantio mecânico, colheita mecanizada com equipamentos de alta precisão no corte da cana e impacto mínimo na recuperação das soqueiras.

A opção pelo controle biológico de praga faz com que a cultura da cana-de-açúcar seja uma das que menos faz uso de agroquímicos.
O CTC desenvolveu uma tecnologia que considera solo/clima de cada região, para que as práticas agrícolas sejam adotadas de forma mais racional, desde a escolha varietal até o sistema de cultivo da área.

Na área industrial, novos processos de produção de etanol que irão revolucionar o atual sistema de fermentação, com significativa redução na geração de subprodutos, estão sendo desenvolvidos. A utilização da biomassa, até então matéria-prima da geração de energia para o próprio processo industrial, será uma nova plataforma de produtos.

O etanol celulósico será o primeiro produto da biomassa, e ele já existe nos laboratórios do CTC. O próximo passo é o uso comercial da tecnologia. Com o advento da gaseificação, a partir da biomassa, será possível se obter fertilizantes, biocombustíveis, biopolímeros e processos de alta produção de bioeletricidade.


No campo da biologia molecular, estudos feitos pelo CTC trarão maior produtividade através da inserção de características não conseguidas pelo melhoramento genético tradicional. Assim, novas variedades apresentarão tolerância ao estresse hídrico, resistência a pragas e doenças, alta eficiência no uso de fertilizantes, garantindo um rendimento agrícola em níveis não conseguidos ainda. Como no passado, a escolha do etanol como alternativa ao petróleo foi sustentada e justificada pela pesquisa científica; hoje, no que depende das pesquisas do CTC, o etanol e demais produtos gerados a partir da cana-de-açúcar terão vida longa, consolidando a força agrícola do país.