Presidente da Canaoeste
Op-AA-29
Para evitar um prolongado déficit de cana-de-açúcar, que pode causar sérios transtornos ao setor sucroenergético, é preciso aumentar, de imediato, os investimentos na renovação e expansão do canavial e na indústria. A demanda por etanol vai aumentar no mercado doméstico, principalmente em virtude do crescimento acelerado da frota de veículos flex.
Porém, outros usos do etanol, como diesel de cana, indústria química e de bioplásticos, também exigirão acréscimos na produção. Esse é um desafio que a cadeia da cana-de-açúcar terá que enfrentar. Porém, o mesmo desafio pode ser visto como um incentivo para a expansão de investimentos em produtos que agreguem mais valor à cana. Implantar inovações e maximizar as tecnologias são desafios que exigem parcerias e cooperação entre todos os elos do agronegócio canavieiro.
Certamente, as pesquisas para desenvolvimento de novas tecnologias, como o etanol de segunda geração, deverão ganhar mais força e contribuir, significativamente, para a verticalização dos ganhos de produção, aumentando a produtividade em etanol da cana-de-açúcar, mas não serão suficientes para suprir a demanda a médio e longo prazos.
Participantes do setor frequentemente são questionados sobre os fatores que ocasionaram a recente alta nos preços dos produtos e a falta de cana para suprir a demanda da indústria. A resposta consiste em avaliar uma série de acontecimentos.
Entre 2005 e 2009, o setor sucroenergético brasileiro implantou, em média, mais de 20 novas unidades industriais por ano. Na época, o setor mirava o mercado interno e o crescimento nas exportações de açúcar e etanol. Foi um boom de investimentos. Com a crise econômica mundial iniciada no final de 2008, os investimentos se tornaram escassos, principalmente, pela falta e rigor do crédito.
Fatores climáticos também impactaram as últimas safras. Senão, vejamos: Na safra 2009/10, o ano foi excessivamente chuvoso, o que atrapalhou as operações de colheita da matéria-prima e a produção de açúcar e etanol. Na safra 2010/2011, foi a forte e prolongada estiagem que afetou as lavouras canavieiras.
Já nesta safra, 2011/12, constatou-se uma série de restrições ao desenvolvimento vegetativo, em função, novamente, de fenômenos climáticos que foram, cronologicamente:
a. no início de março, ocorreu, em expressiva área canavieira do Centro-Sul, forte indução floral que cerceou o crescimento dos colmos em novos entre-nós e pode ter representado perdas de toneladas de cana e de açúcar equivalente a todo o mês de março;
b. registraram-se geadas nos estados do MS, PR e em grande área do estado de SP, seguidas de significativas chuvas (exceto a região de Araçatuba-SP), que aceleraram a deterioração dos colmos afetados. Ressalte-se que, ainda nesta safra, a forte estiagem que já se verifica poderá se estender até o início de setembro.
A recuperação da produção de cana já deveria ter tido início em 2011. No entanto, as chuvas ocorridas até o final de abril e a parada repentina no mês seguinte comprometeram o plantio em qualidade e área, postergando a recuperação dos canaviais.
As canas plantadas em maio e junho certamente terão produção menor do que se tivessem sido plantadas de fevereiro a maio, período adequado para o plantio. Os canaviais da região Centro-Sul poderiam estar produzindo, nesta safra, acima de 600 milhões de toneladas.
Porém, as novas estimativas apontam para uma produção de 530 milhões de toneladas de cana. Acrescente-se a redução da qualidade da matéria-prima, comparativamente à safra anterior. É uma redução grande demais e que precisa ser muito bem administrada para não trazer pesados prejuízos ao setor sucroenergético.
Recentemente, os americanos deram sinais de que extinguirão subsídios internos e tarifas de importação, tornando o nosso etanol mais competitivo. É um aceno importante, que vai na direção do que o setor sempre esperou. Agora é a hora de abrirmos as “portas” para as oportunidades, unindo forças para planejar o desenvolvimento do setor e prepará-lo para os desafios futuros, amplamente conhecidos.
A expansão em novas usinas e canaviais dependerão fundamentalmente de políticas públicas voltadas para investimentos. É preciso disponibilizar, urgentemente, recursos para que novas unidades industriais saiam do papel. É sempre bom lembrar que, para uma usina entrar em operação, necessita, em média, de quatro anos, desde sua construção até o início da operação. Ou seja, é provável que a recuperação da produção do setor se verifique somente a médio e longo prazos.
Além disso, é preciso especial atenção para os produtores de cana, especialmente os pequenos e médios, que concentram importante fatia da produção nacional e que dependem das políticas de incentivos. O produtor é o mais frágil elo da cadeia produtiva e sempre é o primeiro a sofrer os impactos econômicos. Nem por isso é o menos importante. Muito pelo contrário, sem a matéria-prima, os elos subsequentes da cadeia produtiva não existem.
As estimativas apontam que, na safra 2015/16, o Brasil terá que produzir 1 bilhão de toneladas de cana para fazer frente às necessidades de produção. Isso significa mais 400 milhões de toneladas. Esse cenário demandaria algo em torno de 135 novas unidades com capacidades anuais de moagem de 3 milhões de toneladas.
As perspectivas são muito boas, mas, para não deixarmos a oportunidade passar, tanto o setor sucroenergético, como o governo têm de agir rápido para alcançar os objetivos comuns a todos, principalmente para o País. É necessário planejamento e muita disciplina. Sem isso, o cavalo arreado passará, e perderemos a vez.