Me chame no WhatsApp Agora!

Ricardo Caiuby de Faria

Diretor Geral da Sucral

Op-AA-10

Quem quiser entrar no jogo tem que correr

Tendo trabalhado ativamente no período do Proálcool, projetando e implantando dezenas de destilarias na década de 70, tenho logo a vontade de comparar aquele período com o que estamos vivendo agora. Naquela época, o empresariado do setor, os usineiros tradicionais, com raríssimas exceções, pouco se interessaram pelo programa e os industriais de outros setores menos ainda.

Quem alavancou o Proálcool foram os “fazendeiros”, o pessoal da lavoura, da pecuária, dos produtores de aguardente, que incentivados por juros altamente subsidiados, deram início a um programa que, apesar de seus percalços no fim da década de 80, foi um dos melhores programas de produção de energia renovável do mundo, de reconhecimento universal.

Daquela época para cá, muita coisa mudou, a começar pela desregulamentação do setor, que logo no início do processo causou um forte trauma, com depressão profunda nos preços do álcool, levando os empresários a venderem o produto abaixo do seu preço de custo. A contínua elevação dos preços do petróleo no mercado mundial, aliado aos preços altamente atrativos do açúcar e o advento muito bem sucedido dos motores flex, fizeram com que os empresários do setor sucroalcooleiro, capitalizados nestes últimos três anos, dessem início a uma verdadeira nova corrida para o ouro, tomando de assalto as regiões mais propícias para a cana, nas regiões da noroeste e alta paulista, no Estado de São Paulo, no Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro.

As unidades que iniciaram a produção ou iniciarão, nos próximos dois anos, têm um mix de produção de aproximadamente 40% para açúcar e 60% para álcool, beneficiando-se do momento favorável dos preços, remunerando o açúcar. Estes empresários, com total domínio da atividade, lançaram-se a esta nova empreitada sem contar ainda com a melhor infra-estrutura de escoamento para o álcool, apostando nas iniciativas de governo (leia-se Petro-bras) e da iniciativa privada.

No entanto, o que está por vir é que impressiona! Centenas de grupos e empresários de outros setores da economia, fundos de investimentos de todo o mundo, estão estudando e avaliando as possibilidades de produção do álcool no Brasil. São mais cautelosos, pois desconhecem totalmente o assunto, vão mais a fundo nas análises de viabilidade econômica, nas questões da logística, enfim têm que apresentar conclusões a um número muito maior de pessoas, grande parte delas que estão no exterior.

Aí então entram as tão faladas novas fronteiras agrícolas, com milhões de hectares de pastagem de baixa produtividade e um percentual bem menor de áreas de grãos em diversos estados, tais como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Maranhão e com quantidades menores de terras aptas, técnica e economicamente viáveis para cana, nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia.

Na escolha destas novas áreas, alguns fatores têm que ser levados em conta e são de vital e imprescindível importância: a topografia do solo, para permitir a colheita mecanizada (declividade inferior a 12 %), água para irrigação e logística para escoamento, visando, preferencialmente, os mercados externos.

Os estados acima mencionados e as regiões agora procuradas têm, em sua grande maioria, um déficit hídrico pronunciado e bem definido no período de colheita, que obrigará as irrigações mais intensas e distribuídas nas soqueiras, que vão além das irrigações ditas de salvamento. A característica interessante é que tanto os novos empresários, quanto os tradicionais, na sua grande maioria, estão arrendando terras e não as adquirindo.

Terras estão deixando de ser reservas de valor, para valerem quanto produzem e quando produzem. Os estados e municípios estão disputando estes novos investidores com uma série de incentivos fiscais e facilidades para adequar a infra-estruturas das indústrias, porém o problema de logística para exportação do álcool deve ser analisado com muita atenção.

Todo este imenso contingente de álcool a ser produzido, necessariamente, deverá ter como destino a exportação e o preço FOB é o que deve ser considerado. As condições portuárias para o escoamento deste novo combustível devem ser analisadas com muito cuidado, pois as existentes são ainda poucas e os novos projetos de instalações adequadas nos portos terão que estar prontas dentro de uns três anos, quando começarão a produzir as novas e grandes destilarias.

Outro fator a ser considerado é tempo de implantação do projeto. Aos empresários que nos têm procurado neste fim de outubro, informamos que, se quiserem começar a produzir em 2010, terão que iniciar seus plantios de cana nos primeiros meses de 2007 e poucos meses depois fechar, no mínimo, a compra dos grandes equipamentos, que têm prazo de fabricação longo.

Portanto, todos estes estudos, até se chegar a uma decisão, deverão ser tomados com muita rapidez e objetividade, pois, senão, só será possível produzir em 2011. As licenças prévias e os Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) são, na maioria das vezes, difíceis e demorados de serem obtidos, pois se exigem dados que só são possíveis de obter no detalhamento do projeto, que, muitas vezes, ainda não foi contratado.

Uma coisa é certa: esta nova leva de empresários que estão chegando, vêm para competir e produzir com as melhores técnicas e tecnologia disponíveis, fatores aqui mesmo desenvolvidos com sucesso por centenas e centenas de técnicos da iniciativa pública e particular, ao longo destes últimos 30 anos. Não nos iludamos: o mercado estará aquecidíssimo por muitos anos e a formação de mão-de-obra, em todos os níveis, nos setores agrícola e industrial, é tarefa urgente e vital, para o atendimento desta enorme demanda por álcool, em todo o mundo.