Professora do Grupo de Estudo sobre a Energia Solar da PUC Minas Gerais
Op-AA-12
O aquecimento global é uma realidade que já vinha sendo discutida, estudada e reavaliada, embora nos pareça agora, depois dos últimos relatórios do IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change - mais próxima e efetiva. O uso intensivo das novas energias renováveis, para geração de energia (elétrica e térmica), sempre foi destacado como uma das soluções mais plausíveis e imediatas na redução das taxas de evolução da temperatura do planeta e de emissões de gases de efeito estufa.
Dentre as aplicações mais consolidadas, destaca-se o aquecimento solar de água, em substituição ao chuveiro elétrico e aquecedores a gás, como a única solução que dependia exclusivamente do poder de decisão do consumidor final. Além disso, a energia solar sempre foi tratada como a fonte energética que traria justiça social às gerações futuras, pois tem sua maior incidência exatamente sobre os países mais pobres.
Entretanto, os novos estudos são ainda mais alarmantes, pois prevêem uma acentuação da pobreza, justamente nas áreas hoje tão desfavorecidas. Por isso, este tema deve ser tratado com urgência e muita seriedade. O Brasil precisa promover uma mudança imediata no paradigma do aquecimento de água, prioritariamente no setor residencial. O chuveiro elétrico, que atinge 93% das residências nas regiões sul e sudeste, consome 6,3% de toda energia elétrica gerada no país.
Dessa forma, o setor elétrico nacional poderia disponibilizar parte da energia consumida no aquecimento de água, para o crescimento sustentável de nossas indústrias e de outros setores produtivos. Para que essa mudança ocorra em prazos compatíveis com as necessidades do país, torna-se imperativo que cada um, e toda a sociedade, assumam seu papel neste processo de conscientização e transformação, corajosamente.
O governo federal, através de seus ministérios, autarquias e agências de fomento, financia e coordena o Programa Brasileiro de Etiquetagem de Coletores Solares e Reservatórios Térmicos do INMETRO (componentes básicos de toda instalação de aquecimento solar de água), capacita laboratórios, premia os melhores produtos com o Selo Procel, incentiva a formação de uma rede de capacitação de professores, além de isentar o setor industrial de impostos, como IPI e ICMS (estadual).
Entretanto, constatamos que tais ações estão se mostrando insuficientes para que o aquecimento solar contribua positivamente para a diversificação de nossa matriz energética. O mercado brasileiro de aquecedores solares cresce a taxas modestas, com um fator de penetração de apenas 1,6% das residências. Número este desprezível, quando confrontado aos 22% da Grécia e 13% da Áustria, país que possui condições climáticas reconhecidamente adversas ao uso da energia solar.
Por isso, acreditamos que tenha chegado a hora do governo, em suas esferas federal, estadual e municipal, estabelecer metas vigorosas e critérios bem definidos para a efetiva implantação dos aquecedores solares no país. Podemos citar, dentre as ações mais urgentes:
O setor produtivo, através de sua associação de fabricantes, precisa fornecer produtos de qualidade (eficientes e duráveis), criar regras claras de mercado, preços competitivos, promover parcerias universidade-empresa, visando a continuada inovação tecnológica de seus produtos e de novas aplicações, além da concepção e comercialização de um kit Solar, que possa atender, com preços justos e compatíveis, o mercado de casas populares.
Acreditamos que esta última ação seria atingida em curto prazo e com grande impacto para as cooperativas habitacionais de todo país. Estudos realizados pelo GREEN Solar demonstram que a economia de energia elétrica mensal em moradias de interesse social atinge valores da ordem de 30 a 50%, representando uma melhoria da qualidade de vida destas famílias.
Caberia às Universidades e escolas técnicas a inclusão de conteúdos formais, relacionados ao aquecimento solar, em sua grade curricular, com a criação de laboratórios e bancadas didáticas, visando a formação teórica e prática de seus alunos. O Brasil precisa de profissionais competentes e empreendedores nas diversas áreas de atuação demandadas pelo mercado de aquecimento solar: pesquisadores, fabricantes, engenheiros, arquitetos, técnicos em manutenção, revende-dores, instaladores e demais profissionais.
Enfim, o uso do aquecimento solar representa um jogo do tipo “ganha-ganha”. Ganha o consumidor final, pela economia real de energia e o bem-estar proporcionado pela água quente e ganha a sociedade, pela geração descentralizada de empregos, decorrente do uso intensivo de uma tecnologia nacional e de uma energia ambientalmente limpa e socialmente justa.