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Tarcilo Ricardo Rodrigues

Diretor da Bioagência

Op-AA-08

De onde virão os recursos?

Toda vez que se começa a discussão sobre os estoques de álcool, a primeira pergunta é: de onde virão os recursos necessários à sua formação? Para se formar os estoques é necessário produzi-los, e para isto é preciso recursos e capacidade financeira para o carregamento dos mesmos. Além deste questionamento tradicional, a nova pergunta é se o setor sucroalcooleiro, neste momento, tem capacidade de produzir este estoque com a matéria-prima disponível atendendo a todas as demandas que se apresentam?

É necessário discutir esta questão, sob diversos pontos de vista. Um dos principais limitadores hoje é a capacidade instalada de produção para atender os diversos mercados que concorrem com a mesma matéria-prima e a real necessidade de se formar estoques de álcool, em tempos de demanda aquecida. A cana-de-açúcar disponível, respeitados os limites das fábricas e a otimização do processo produtivo, deverá ser suficiente para atender os mercados internos e externos de açúcar e álcool.

A competência brasileira na produção, principalmente do açúcar, coloca o setor como o mais importante agente do mercado internacional. As fábricas de açúcar estão trabalhando muito próximas do limite de suas capacidades, restando apenas uma pequena capacidade ociosa na produção de álcool. A recente vitória no contencioso com a União Européia, em relação ao regime de açúcar europeu, trouxe ao Brasil uma possibilidade de aumentar a sua participação no mercado internacional.

Seus preços atrativos e uma restrição na oferta dos demais países produtores trarão uma demanda adicional de açúcar. Os investimentos nas últimas safras sustentarão o aumento da participação brasileira no mercado internacional de açúcar, e garantirão a produção de álcool necessária ao abastecimento do mercado interno, e ao crescimento do mercado externo de álcool.

É neste contexto que devemos avaliar a questão dos estoques. Estoques estratégicos são formados e utilizados por quem produz, e tem a finalidade de abrir novos mercados ou servir de garantia de imprevistos climáticos, ou de mudanças bruscas de mercado. Estoques reguladores, como o próprio nome diz, servem para atenuar as variações dos preços ao longo de seu ciclo, decorrentes dos desequilíbrios entre oferta e demanda, e que interessam também aos demais agentes do mercado.

O mercado de álcool é muito bem segmentado. O de álcool anidro é extremamente regulado, a mistura é obrigatória, e não uma decisão do consumidor. Sendo o álcool anidro um aditivo da gasolina “A”, sua demanda é facilmente determinada, pois se trata de produto que tem seus preços controlados. A Petrobrás absorve as variações de preço do mercado, e não as repassa de forma imediata aos preços do consumidor final.

Isto tudo traz particularidades a este produto, que tendo a sua demanda conhecida e com pequenas variações, é possível se manter um estoque estratégico não tão oneroso aos agentes da cadeia, uma vez que como estoque regulador, sua função é menor ainda, pois a estrutura tributária atual da gasolina “C” e os níveis de mistura atuais fazem com que a cada 10 pontos de variação de preços do álcool anidro, somente um ponto seja repassado ao preço final da gasolina “C”, caracterizando uma demanda quase inelástica aos preços.

Portanto, devemos concentrar nossas atenções para o estoque de álcool hidratado, que está sujeito às forças de mercado, de forma direta. O grande desenvolvimento dos automóveis bicombustível veio trazer mais uma componente para este mercado. A decisão pelo combustível não é mais tomada na concessionária, quando da aquisição do veículo, mas sim nas bombas dos postos de abastecimento.

Isto traz para o álcool hidratado uma componente de mercado varejista, onde a relação de preços com os produtos concorrentes, e entre eles não está apenas a gasolina, mas também o GNV, é definida pelo comportamento do consumidor final, que passa a ser decisivo, impactando diretamente os estoques, nas Unidades Produtoras.

Existe uma diferença muito significativa entre gasolina e álcool. A gasolina é um processo de produção contínua, onde as oscilações da ponta são ajustadas de forma mais rápida à produção. O álcool não é um processo de produção contínua, existe uma sazonalidade de produção, onde as Unidades Produtoras, em geral, já formam estoques, durante o período produtivo.

As oscilações de demanda não são ajustadas de forma imediata à produção e, muitas vezes, quando ocorrem, já foram encerrados todos os processos de moagem. Ao final do ciclo de produção, as Unidades Produtoras têm estocado álcool suficiente para 6 meses de consumo. Os custos destes estoques já foram incorridos exclusivamente pelas Unidades Produtoras. Incluir uma parcela adicional para estes produtores não parece ser uma solução que vá encontrar muita receptividade.

O momento atual é único e traz oportunidades a todo um setor. A demanda por sacarose, seja na forma de álcool ou açúcar, é crescente e, principalmente para o álcool, o potencial é de dobrar a produção, nos próximos 5 anos. Os investimentos para atenderem este crescimento estão sendo concretizados, e muito provavelmente não estarão em perfeita sintonia com a demanda, podendo, nestes momentos, permitirem a construção dos estoques reguladores, que serão um importante instrumento para a ordenação do crescimento da oferta. É necessário pensar na cadeia toda se quisemos ter estoques reguladores, onde os custos de sua formação e de seu carregamento sejam repartidos entre todos os agentes.