Gerente de Desenvolvimento Organizacional e Humano do CTC
Op-AA-32
O mundo tem necessidade crescente de energias renováveis e alimentos, e o Brasil é uma das principais potências nos dois quesitos. Só estaremos prontos para atender a essa demanda sofisticada, se fizermos a lição de casa, priorizando pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Até agora, ainda é notório no cenário mundial o descompasso brasileiro entre as oportunidades para o País versus nossos baixos investimentos, atrasos em inovação e a falta de profissionais preparados para atender às demandas já existentes em nossas organizações.
Apesar de ser a sexta economia do mundo, o Brasil ocupa o 47º lugar no ranking "The Global Inovation Index 2011", do The Business School of the World (Insead). Constatamos, também, que países preocupados com o seu crescimento, que consideram o conhecimento essencial, estão investindo “pesado” em educação e qualificação profissional e são nossos competidores.
Nos últimos anos, importantes players mundiais chegaram ao País atraídos pelas oportunidades brasileiras. O quadro se repete no segmento sucroenergético: destaca-se um empregador, responsável por mais de 1,2 milhão de empregos formais e pelo movimento, em toda sua cadeia, de US$ 28 bilhões no ano de 2010. É setor, portanto, estratégico para o País e fonte de geração das atuais e novas oportunidades de carreira.
Há consenso, também, que esse setor precisa elevar sua produtividade e que direcionar recursos para inovação e desenvolvimento tecnológico, principalmente em novas variedades de cana-de-açúcar, é tarefa urgente, se quiser manter sua competitividade mundial. Mas muitos empreendimentos esbarram na grande dificuldade de atrair para seus quadros profissionais qualificados e preparados para as necessidades de gestão e técnicas requeridas. Muitas oportunidades são perdidas!
Quando transportamos essas questões para o campo profissional específico de pesquisa, desenvolvimento e inovação, o quadro é mais grave. Importantes instituições de fomento para a pesquisa brasileira, como CNPq e CAPES, aumentaram significativamente seus investimentos nos últimos anos em formação de mestres e doutores em áreas de conhecimento de estratégicas.
Mapeamento recente em sites dessas entidades indica, por exemplo, apoio a cerca de 4.300 estudantes no Brasil e 300 no exterior para estudos em nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado, nas mais renomadas universidades. Isso apenas para áreas como biotecnologia, genética de plantas, biologia e química.
Outros destacados órgãos estaduais também reforçaram seus investimentos nos últimos anos em áreas semelhantes.
É justo reconhecer que nossos avanços foram muitos, especialmente nos últimos 15 anos, sendo motivo de orgulho para os brasileiros. Mas temos sinais de alerta do quanto ainda temos de investir em conhecimento dirigido às áreas estratégicas para os negócios e desenvolvimento do País. Neste ano, somente uma universidade brasileira – a USP –, foi incluída num ranking mundial de universidades entre as 100 melhores do mundo.
A quantidade de patentes brasileiras é também pouco expressiva se comparada aos números mundiais, e, por vezes, empresas que inovam no Brasil optam pelo registro somente no exterior, para driblar burocracia e demoras em nosso sistema de registros e proteção da propriedade intelectual.
Quando observamos os investimentos em treinamento & desenvolvimento das empresas privadas, por outro lado, pesquisa da ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento – 2011/12) destaca que o valor médio/ano representa 3,7% em relação à folha de pagamento, chegando a 4,8% apenas em empresas com destacada posição nesse quesito. São bons investimentos, mas ainda muito abaixo de outras despesas das organizações.
Precisamos reconhecer que, no futuro, os desafios serão ainda maiores do que aqueles já enfrentados, e necessitaremos de fortes investimentos em criação de oportunidades de trabalho, capacitação profissional e estímulo ao desenvolvimento de carreiras técnicas que atendam às necessidades de inovação apresentadas nesta edição.
O capital intelectual é o motor que impulsionará nosso desenvolvimento. Portanto precisamos agir agora e tomar decisões estratégicas que minimizem esse problema, para garantir ao País e ao nosso setor o patamar de competitividade e sustentabilidade que os elevará efetivamente a uma referência mundial.
E os investimentos em capital intelectual e uma gestão de pessoas alinhadas às melhores e mais criativas práticas do mercado são, seguramente, os fatores de diferenciação para as empresas alcançarem os resultados esperados. O que é muito positivo, nesse quadro, é que estamos diante de grandes desafios e excelentes oportunidades para os profissionais.
De um lado, um amplo mercado como o sucroenergético, com empresários e governo dispostos a investir em inovação. De outro, a grande necessidade de profissionais qualificados e de preparo de novos para outras demandas futuras.
Melhoramento genético, biotecnologia, novos sistemas de plantio e cuidados agronômicos, novas tecnologias como o etanol de segunda geração, gaseificação, biorrefinarias são algumas das áreas de negócio que irão requerer profissionais altamente qualificados e de diversas áreas, como agronômica, biológica, química, mecânica, simulação, robótica, entre outras.
Sólida formação técnica, criatividade, profundo interesse por novos aprendizados, forte motivação para a busca de soluções e geração de novos produtos, visão de futuro, habilidade para as relações interpessoais e integridade, por outro lado, são algumas das características que compõem um perfil que diferenciará profissionais com carreiras de sucesso e que contribuirão para a pesquisa e inovação no País.
Há, reforçando, ótimas oportunidades para ampliação do conhecimento e desenvolvimento de comportamentos e habilidades que esse mercado requer. Empresas de “ponta” buscarão propiciar a seus colaboradores um ambiente de trabalho desafiador, alinhado com estratégias, objetivos e metas da empresa, sem perder de vista a sustentabilidade de seu negócio.
O CTC insere-se nesse contexto, e vale destacar que, de modo pioneiro, desde o final da década de 70, direcionou fortes investimentos para a formação de profissionais especializados em cana-de-açúcar.
Entre as muitas iniciativas, destacamos o envio de grupo de jovens engenheiros brasileiros, em 1979, para qualificação nas Ilhas Mauricius e, na sequência, a contratação e a capacitação de dezenas de outros jovens profissionais, oriundos das melhores universidades brasileiras, nas diversas fases dos processos agrícola e industrial das usinas.
A partir de 1982, coordenou programas de especialização, ainda hoje lembrados e reconhecidos como o CEAA - Curso de Especialização em Engenharia Açucareira e Alcooleira, e o CECCA - Curso de Especialização em Cultura da Cana-de-Açúcar, que capacitaram mais de 150 especialistas; muitos deles são profissionais que permanecem ativos e ocupam hoje posições estratégicas nas organizações sucroalcooleiras.
A participação de pesquisadores em iniciativas internacionais, como o Consórcio ICSB - International Consortium for Sugar Cane Bio Technology (1991), marco para o desenvolvimento da biotecnologia em cana no mundo e no Sucest (2000), projeto para sequenciamento do genoma da cana, também indicam a importância de fomentar o desenvolvimento de pesquisadores. E outros investimentos contínuos em capacitação e desenvolvimento compõem sua política de formação profissional.
O CTC tem, hoje, no seu quadro de pesquisadores, que representa cerca de 35% de sua força de trabalho, 24% de funcionários com título de doutor e 31% de mestrado; os demais têm nível superior nas mais variadas áreas de graduação. Na fase atual, de redirecionamento estratégico de nossas atividades, priorizar a gestão de pessoas e ser uma fonte de excelência em conhecimentos necessários para alavancar o crescimento dessa importante área de negócios do Brasil é prioridade no CTC.
Para o futuro, o desenho de parcerias para intercâmbio, capacitação e desenvolvimento profissional em importantes centros de formação no Brasil e exterior, ao lado de outras interessantes perspectivas de carreira, bem como o estudo de iniciativas como open-inovation e outras formas novas e criativas para as relações de trabalho, estão em nosso horizonte de estratégias para gestão de pessoas.
Estamos trabalhando com afinco para alcançar o patamar de um dos melhores centros de excelência para se trabalhar, com ambiente e condições necessárias para o desenvolvimento dos profissionais que serão protagonistas dessa jornada, contribuindo para os esperados resultados do setor sucroenergético e para a ciência do País. O cenário é positivo, e as oportunidades são atraentes para carreiras em pesquisa e inovação. Quem estará pronto para aproveitá-las?