Presidente da Coplacana
Op-AA-44
O setor sucroalcooleiro está atravessando uma crise econômica de grande intensidade e, certamente, a mais duradoura já enfrentada, por isso, hoje, somos reconhecidos como guerreiros do campo. Parece que os nossos governantes não têm interesse no setor. É triste, mas, a cada dia, desaparecem mais fornecedores, principalmente os pequenos.
Aumento no custo da produção, endividamento e queda na produtividade, provocada pela falta de renovação dos canaviais, representam o cenário no ano de 2014 da maioria dos produtores de cana-de-açúcar. Ainda tivemos dois fatores no mesmo ano que ainda não haviam coincidido: os preços baixos e o estresse hídrico. A história começa em 2005, quando fomos tomados por uma onda de notícias favoráveis.
Quem não se lembra de quando o ex-presidente Lula, na época, o garoto propaganda do setor canavieiro, dizia que o Brasil deveria dobrar a produção de etanol, pois o País iria exportar para o mundo inteiro? Devido a esse otimismo, o capital estrangeiro foi atraído para investir em usinas de açúcar. O etanol foi um boom de crescimento no Brasil. Porém com a descoberta do pré-sal o governo se esqueceu completamente das suas promessas.
Em 2011, foi o último ano em que o preço da cana-de-açúcar cobriu os custos de produção. Daí para frente, o setor foi impactado pelo crescimento dos custos operacionais, pelo aumento do endividamento, pelo declínio da produção e da produtividade, além da queda de preços. Em 2014, com as condições climáticas adversas, os produtores tiveram uma queda de 6% a 10% na produtividade, agravando ainda mais a situação.
A previsão é a de que esta safra será do mesmo tamanho, ou menor que a anterior. Quase não houve renovação de canaviais e o custo de produção ainda continua elevado, pois os gargalos do Custo Brasil ainda continuam. Considerando todos esses fatores adversos, o produtor deve realizar uma eficaz engenharia financeira para conseguir baixar seus custos totais na produção. Apenas quem conseguir mais eficiência ou boas negociações conseguirá atingir rentabilidade.
O produtor tem que ser eficiente na redução das despesas para o preparo e a análise de solo, com uma aplicação mais racional dos insumos agrícolas. É necessário, também, realizar plantio de viveiro de mudas, para garantir a qualidade e a sanidade das mudas e variedades adequadas para cada tipo de solo, para proporcionar um aumento de produtividade do canavial. O viveiro deve ser instalado o mais perto possível do plantio, reduzindo o transporte dos equipamentos e das máquinas.
Outro fator é o custo de arrendamento do terreno; o produtor tem que calcular até que valor ele pode chegar e, finalmente, cuidar do custo de seu capital empregado para a produção de cana-de-açúcar. A saída para reverter esse cenário não é inatingível, mas exige criação de políticas públicas que definam o papel do etanol na matriz energética brasileira, além de boa vontade por parte do governo. Medidas como aumento da mistura do álcool anidro na gasolina – de 25% para 27,5% –, a definição de tributação para o setor, o incentivo ao desenvolvimento de programas de tecnologia e a disseminação do uso da bioeletricidade são ações na direção de se reconstruir um caminho para o progresso do setor, que gera a melhor energia renovável do mundo, o etanol.
Traçando um panorama, podemos dizer que parece inevitável que, já nas próximas safras, tenhamos um setor sucroalcooleiro muito mais concentrado economicamente ao mesmo tempo que renovado, em termos de tecnologias e processos de produção. Muitas regiões canavieiras do estado de São Paulo, como a de Piracicaba, deverão reduzir drasticamente sua produção.
Portanto os produtores têm que fazer sua parte e, na esfera política, cobrar das lideranças ações junto ao governo que venham para auxiliar e melhorar as condições de escoamento do etanol e a competividade perante a gasolina. A Coplacana tem mobilizado produtores para participarem das manifestações para a retomada do setor sucroenergético. O objetivo é sensibilizar, principalmente, o Governo Federal sobre os impactos negativos que a falta de incentivo e de estímulo ao setor sucroenergético tem causado à economia de centenas de municípios brasileiros.
O setor encolheu em razão do fechamento de várias unidades industriais e também pela falta de investimento coibitiva, por não haver uma política energética eficaz. No Brasil, cerca de 80 usinas já fecharam suas portas, atrás das quais se pode estimar que muitos fornecedores de cana estão deixando de produzir. A crise também já causou a demissão de mais de 300 mil trabalhadores, sem contar o efeito cascata sobre outros setores. A indústria fornecedora do setor tem sido profundamente afetada. O intuito é que, com as manifestações, a classe canavieira se una e tenha força para exigir um cenário favorável para produzir. Os produtores precisam sobreviver a esse período de dificuldade e permanecer fortalecidos até que haja uma reação propícia para o setor.