Editor Chefe da Revista Opiniões
Op-AA-11
Em 2002, veiculou-se na Alemanha reportagens mostrando as péssimas condições nas quais era produzido o açúcar no Brasil. O desmatamento da Amazônia para o plantio de canaviais e o trabalho subumano das usinas foram o foco dos textos, fotos e filmes veiculados por todo o país. A repercussão daquelas imagens resultou no apoio da continuidade dos subsídios do governo à indústria açucareira local.
Em 2003, foram enviados ao Brasil, para uma pesquisa com objetivos fundamentalmente agrícola, dois pesquisadores da Universidade de Hohenheim, de Stuttgart, Leandro José Henz, Mestre em Ciências Agrárias, com ênfase em mecanização agrícola, e Oliver Henniges, Doutor em Economia Agrária. Aqui estudaram, dentre outros assuntos, a produção canavieira, a industrialização do açúcar e do álcool.
No retorno a Alemanha, através de artigos publicados em revistas científicas e agrícolas, e de palestras proferidas em universidades e associações agrícolas, mostraram os fatos sociais e a realidade tecnológica na qual estava assentada a indústria sucroalcoleira brasileira. A repercussão destes novos fatos, agora alicerçados sob interesse científico, e não político ou econômico, começaram a modificar a imagem anteriormente difundida.
Em 2005, Leandro Henz, voltou ao Brasil, liderando um grupo de 19 representantes da Deutschen Landwirtschafts-Gesellschaft, uma instituição agrícola nacional não-governamental, ligada diretamente ao Ministério da Agricultura alemão, com o objetivo de comprovar, dentre outros interesses, a realidade do que houvera relatado os pesquisadores. A comprovação dos fatos, consolidou um movimento reverso ao anteriormente iniciado.
No terceiro movimento desta ópera, desembarcaram no Brasil, no início deste mês, novamente liderado por Leandro Henz, um novo grupo, formado por 16 produtores de beterraba, assessorados pelo Consultor Agrícola Johannes Schwerdtle, da Betribswirtchaftliches Büro Göttingen e pelo Presidente da Strube-Dieckmann, Johannes Diekmann, empresa especializada em melhoramento genético, para uma verdadeira turnê agrícola.
Todos os produtores eram membros de cooperativas fornecedoras de dois dos três grandes fabricantes de açúcar da Alemanha, a Südzucker AG, que detém cerca de 50% da produção nacional e cujo capital é formado em 51% pelos produtores de beterraba, e a Nordzucker AG, com uma fatia de 30% do mercado e capital integralmente formada por produtores de beterraba.
O parque industrial açucareiro alemão completa-se com a Pfeifer+Langen, que detém cerca de 20% do mercado e não tem participação no capital acionário dos produtores de beterraba. Em duas semanas, num intenso programa de visitas, estes empresários agrícolas conheceram associações, cooperativas, propriedades e fabricantes de equipamentos agrícolas no Paraná, Mato Grosso e São Paulo. Na região de Ribeirão Preto, assessorados pela Revista Opiniões, visitaram a Usina Virálcool, a Copercana, a DMB e a Santal.
Depois de verem a Usina de Itaipu com os vertedouros abertos, os terminais de açúcar e álcool de Paranaguá, as plantações de soja do Mato Grosso, os canaviais da região de Ribeirão Preto, a representação das Cooperativas e a tecnologia dos fornecedores de equipamentos visitados, a palavra mais adequada para descrever suas impressões é “Euforia”.
Acreditam eles que, de um modo geral, ao contarem o que viram, ao multiplicarem suas vozes no meio agrícola alemão, que o próximo passo seja uma explosiva repercussão positiva, uma modificação radical dos conceitos e mitos, e o que era o temeroso inimigo, pode e deve tornar-se um grande parceiro. Fortes investimentos dos agricultores alemães podem ser esperados na agricultura brasileira.
Quando o Presidente da Copercana, Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, acabou a sua apresentação, dizendo que a Copercana administrava a produção de 11 milhões de ton de cana/safra e que a Orplana, também por ele presidida, congregava 24 associações e que produzia 65 milhões de ton de cana/safra, a primeira pergunta feita pelo grupo, de forma direta, foi se a cooperativa poderia aceitá-los como membros cooperados.
A cultura da beterraba na Alemanha: Os visitantes administram na Alemanha propriedades entre 80 e 1.600 hectares, destacando-se da média nacional, cujas propriedades têm cerca de 30 hectares. A cultura da beterrada envolve cerca de 50 mil produtores rurais, em toda Alemanha.
O custo médio de produção por hectare gira em torno de 1.500 Euros. O produtor recebe, a título de subsídio, 600 Euros por hectare plantado, reduzindo, assim, os custos efetivos de produção para 900 Euros. Considerando a produção de 60 ton/ha, o produtor recebe, como subsídio, 10 Euros por tonelada de beterrada colhida. Assim, o custo inicial de produção de 25 Euros/ton, cai para 15 Euros/ton.
A beterraba é vendida para a indústria açucareira por um valor entre 30 e 40 Euros/ton, gerando um lucro bruto de 15 a 25 Euros/ton, ou seja, de 900 a 1.500 Euros por hectare plantado. A beterraba é composta por 16% de açúcar, 4% de massa e 80% de água. Considera-se como média referencial, a produtividade de 160 quilos de açúcar por tonelada, ou 9,6 toneladas/hectare.
O processo da extração utilizado é a difusão, onde a massa ralada da beterraba é mergulhada em água quente de 80-100ºC, e por diferença de potencial, transfere-se o açúcar da massa para a água, formando a garapa. Daí para a frente, o processo da produção do açúcar segue o aplicado no Brasil. O combate ao protecionismo na esfera da OMC deverá retirar progressivamente as vantagens, artificiais, da produção do açúcar alemão e europeu.
Prevê-se que esta ação poderá transferir, especialmente na Alemanha, o deslocamento da produção da beterraba açucareira para a destilação de álcool, abrindo nova fronteira para a agricultura local. A Alemanha vive uma contínua redução dos produtores rurais. Entre 1950 e 2001, o número de empresas agropecuárias caiu de 1,5 milhão para 412 mil. Mesmo com tanto subsídio, a queda continua. Existem hoje na Alemanha 366 mil produtores rurais, com área média nacional de 46 hectares.