Diretor da Ieda Neto Engenharia e Consultoria Industrial
Op-AA-43
Nosso novo governo (novo?!), mais impostos, falta de água, falta de energia elétrica, racionamento de água e energia elétrica, queda de produtividade no canavial, aperto financeiro, empresas encerrando atividades, preços defasados, dólar em alta, corrupção, falta de uma politica clara para o setor e para o Brasil, enfim, outra crise! O que nos resta?
Nessa nova dificuldade, vislumbramos como uma saída, além do clássico apertar de cintos e de redução de todos os custos, aumento de produção, aumento do rendimento industrial. Teremos que ousar mais e transformar nossas usinas em complexos industriais, com operação e produção durante praticamente todo o ano, com novos produtos, derivados ou agregados, e cada unidade encontrar sua sinergia.
Produtos como açúcar, etanol e energia elétrica não são mais suficientes para pagar a conta, deverão ser acrescidos de etanol de segunda geração (do bagaço), etanol de milho, levedura seca, biodiesel e outros. Assim, aumentamos as possibilidades de faturamento com mais e novos produtos, possibilitando o faturamento durante todo o ano, eliminando a entressafra. A manutenção industrial terá que ser repensada e readequada à nova realidade operacional, com a disponibilidade anual da fábrica.
Uma unidade bem desenhada e operada pode produzir açúcar, etanol e exportar energia elétrica, descontada a consumida – conforme mostra a tabela em destaque. Esse é o potencial de uma unidade desse porte; claramente, não é simples, mas possível. Esse quadro demonstra o resultado de um longo trabalho que permitirá a oportunidade de negócio e mostra o potencial de uma mesma cana processada em uma unidade com o sistema de cogeração e outra sem estar equipada para a cogeração, considerando a mesma quantidade de cana, produzindo o mesmo mix de produtos, demonstrando ser possível uma extração maior ou menor, de acordo com a otimização dos processos, dependendo da tecnologia aplicada e do investimento realizado.
É fato que o valor do MW está com bom preço atualmente e que esse valor oscila muito, dependendo da época do ano e se a unidade possui ou não contrato de energia segurado. Uma unidade que possua cogeração e seja energeticamente equilibrada, com sobra de bagaço para operar a geração de energia na entressafra, permitirá a operação por mais tempo, reduzindo o período disponibilizado para a manutenção, aumentando o período de faturamento e utilização do parque industrial por mais tempo, representando otimização de recursos, além de abrir a possibilidade de ampliação do leque de produtos.
O etanol de segunda geração – que utiliza exclusivamente o bagaço de cana através do processo de sacarificação da celulose contida no bagaço – implicará na instalação de novos equipamentos e processos, transformando a usina num complexo industrial. Uma nova possibilidade está se abrindo para as usinas para o processamento do milho para a produção do etanol, durante a entressafra da cana, com a energia gerada pelo bagaço excedente da safra.
Desse modo, o milho que era nosso concorrente direto passará a ser aliado na implantação de novos produtos e usos de nossas plantas industriais. Como a maior parte das usinas geram energia com turbinas de contrapressão e, portanto, produzem vapor de processo, esse vapor é desperdiçado quando operamos apenas a geração de energia elétrica.
Devido à disponibilidade do vapor de processo, acaba-se tendo uma sinergia muito grande, e podemos processar milho, pois o vapor sai “de graça”, já que, anteriormente, era liberado para a atmosfera, e toda a fermentação e destilaria que estão disponíveis passam a ser utilizadas, pois, nesse ponto, os processos são parecidos e passíveis de integração. Novos processos deverão ser agregados à planta industrial, como a recepção, a estocagem, a moagem do milho e a sacarificação do amido do milho, integrando equipamentos e sistemas já existentes, otimizando ativos e minimizando ou diluindo custos e agregando etanol na entressafra.
Podem, ainda, no futuro, produzir os demais derivados do milho, pois as modernas plantas possuem bagaço para praticamente toda a entressafra e, por conseguinte, energia para o processamento desses produtos, além da disponibilidade de maior oferta de energia elétrica, minimizando a escassez que ronda atualmente o País. Com um pouco mais de empenho e trabalho, é possível operar com os dois processos ao mesmo tempo, ampliando a capacidade da unidade.
É certo que será necessária a aplicação de muita engenharia, mudança de procedimentos e cultura, mas a otimização da energia térmica da planta terá que ser explorada ao máximo, permitindo a ampliação das possibilidades. Passaremos de unidades que consomem 500 a 460 kg de vapor por tonelada de cana (kV/TV) para unidade de 430 a 360 Kv/TC, com a utilização de vapores vegetais V1, V2, V3; regeneradores de calor, permitindo que toda fonte quente seja utilizada.
O novo desafio – que agora se torna premente – é a redução do consumo de água nas usinas, com revisão de processos, eliminação do desperdício e introdução do reúso da água, baixando significativamente a utilização desse líquido, cada vez mais precioso; tratamento de todos os efluentes líquidos e sólidos, para operação de menor impacto ambiental, tornando as usinas cada vez mais sustentáveis e eliminando o estigma de poluidoras do passado.
As unidades que, no passado, utilizavam 1,0 m3/TC terão que focar na redução drástica para algo como 0,3 m3/TC, ou menos ainda. Toda água de embebição e processo deverá ser proveniente de água condensada de vapor do caldo produzido no processo de fabricação do açúcar e etanol e/ou de reúso. A vinhaça terá que ser concentrada, e a água resultante desse processo, depois de devidamente tratada, retornar ao processo, o mesmo ocorrendo com a flegmaça, tratada e retornada ao processo.
Toda a água residual, de limpeza de processo, de equipamentos, etc., deverá passar por tratamento específico em ETE (Estações de Tratamento de Efluentes); os sólidos desse processo podem ser agregados à torta do filtro, incrementando a fertilização do solo, e utilizados na plantação da cana ou na cana soqueira. Passaremos por uma profunda mudança de comportamento e de procedimento; estamos passando de oferta abundante de água para a escassez, portanto tudo que fazemos até hoje deverá ser repensado com urgência, e novos procedimentos, equipamentos e tecnologia terão que ser implantados em curtíssimo intervalo de tempo.
Vamos requerer novas posturas de todos os agentes da cadeia do agronegócio, equipamentos mais modernos com baixa utilização de água, processos mais modernos com redução do consumo, procedimentos operacionais mais racionais com menor utilização da água. Uma grande revolução será implantada em todas as unidades, pois essa escassez é geral e afeta a todos, uns mais outros menos, mas todos deverão, imediatamente, pensar e agir na redução do consumo da água. Essa é a energia que nos falta: trabalhar com criatividade e com uma nova visão de negócio.