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Pedro Robério de Melo Nogueira

Presidente do Sindaçúcar - Alagoas

Op-AA-25

Cenário atual do setor sucroalcooleiro

A dinâmica que vem sendo observada pelo setor sucro-energético nacional nos últimos anos vem sendo motivada pela expectativa de uns e a certeza de outros sobre a necessidade de se produzir energia e consumi-la de forma sustentável, isto é, sem impor riscos à condição de vida do homem e ao ambiente em que ele vive, sustentando-se, assim, nessa harmonia de convivência entre a produção, seu desenvolvimento, sua eficiência, seu uso e a possibilidade de não agressão ao ambiente e ao ciclo evolutivo natural das espécies.

Os energéticos advindos desse processo se constituem na chamada energia alternativa, aquela que se consolidou por séculos a fio, originada nas reservas fósseis que a natureza disponibiliza. Nos últimos tempos, essa opção energética – tida antes apenas como complementar – vem sendo fundamentada em conceitos de eficiência energética, inserção social e autossustentabilidades ambiental.

A aptidão brasileira para a produção de cana-de-açúcar em larga escala em bases economicamente competitivas e sustentáveis transformou-nos no maior espaço do globo nessas opções de investimentos. A poupança interna que o setor doméstico havia acumulado no decorrer de muitos anos passou a ser direcionada para a expansão das unidades produtoras existentes e algumas aquisições de unidades em operação, movimento que foi, imediatamente, sequenciado por uma maciça destinação de recursos de investidores institucionais fora do setor, localizados no país e no exterior, sustentada, também, por um forte apoio do BNDES.

Esse movimento de aumento de oferta pelo expressivo aumento da produção já era majoritariamente amparado num vigoroso aporte de capitais de investidores externos, que passaram a adquirir participações em empresas e construções de novas unidades produtoras. Em que pese esse aumento de oferta não ter correspondido a um equivalente aumento na demanda por etanol, principalmente pelo exterior, causando uma depressão indesejada nos preços e na receita das empresas, não se constatou um recuo nos investimentos que viessem a colocar em cheque a excelente oportunidade de aplicação de recursos nessa atividade verificando-se, apenas, adequações de cronogramas de investimentos e de início de operação para novas unidades industriais no Brasil. Paralelamente, tivemos, nas duas últimas safras, a lição, por vezes esquecida, de que a oferta de energia oriunda da biomassa verde requer atenção especial no seu dimensionamento quando se considera a influência climática como redutor ou estimulador da mesma.

Verificamos, pois, essa verdade inexorável. No primeiro momento, a abundante oferta e não confirmação da opção do exterior pelo etanol na escala prevista. No segundo momento, um ajuste natural pela inibição da oferta de produtos finais pelos efeitos climáticos, normais em atividades agrícolas. Tudo isso acompanhado pelo exuberante acréscimo do mercado interno de etanol, consequência da consolidação do carro flex como opção do consumidor e a plena utilização do etanol como combustível nos mesmos.

Assistimos, pois, nos últimos cinco anos, de forma clara, a movimentos pertinentes à expansão do setor sucroenergético, que muito contribuirão para o desenvolvimento setorial:

a. forte expansão doméstica nas próprias unidades produtoras em operação;
b. vigoroso ingresso de capital de investidores institucionais, proporcionando uma acelerada expansão de ofertas, inclusive com novas plantas industriais implantadas;
c. expressiva participação do banco governamental oficial de fomento nos financiamentos, notadamente para aumento da oferta de energia cogerada a partir do bagaço de cana;
d. confirmação, pois, por tudo isso, da nossa capacidade nacional de resposta e de viabilidade na expansão da oferta com viabilidade econômica e sustentabilidade;
e. constatação da progressiva e não acelerada cadência na conquista de mercados externos para o etanol, quer seja pela remoção de tarifas inibidoras de acessos, quer seja pela progressiva conscientização na adoção de combustíveis de baixo teor de carbono e mais amigáveis ao meio ambiente;
f. planificação da oferta levando em conta, não só os projetos, mas, também, uma avaliação acurada da possibilidade climática da produção agrícola, a capacidade de processamento industrial dessa oferta real e o rendimento industrial efetivo que se transforma em produtos industriais disponíveis;
g. finalmente, o consistente crescimento da demanda interna pela confirmação do mercado doméstico de etanol consumido pelo crescente uso dos carros flex.

Daqui para frente, ficam estas reflexões e as seguintes certezas: a adoção do etanol como combustível alternativo à opção de combustíveis com alto carbono é inexorável, considerando, inclusive, a nossa participação privilegiada na inovação tecnológica de produção nas novas gerações de tecnologia de produção; os novos projetos implantados deverão procurar, daqui para frente, a eficiência de produção, algumas vezes, negligenciada em momentos de forte expansão; o balanço de oferta e demanda de energia elétrica se configura como requerente de um modelo institucional que recepcione, de forma efetiva e duradoura, a energia cogerada pelo bagaço de cana;  a melhoria de renda per capita nacional em alguns países nos permite asseverar que o açúcar continuará tendo um crescimento sustentado, inclusive quando se considera a alta competitividade econômica do Brasil frente aos cenários estáveis atuais de preço e a potencialidade da pesquisa genética na obtenção de novas variedades de canas com melhores resultados econômicos. A decisão agora é a otimização dos projetos implantados na procura de eficiência e aumento de produtividade para sequenciar o novo ciclo de expansão.