Me chame no WhatsApp Agora!

José Luiz Ioriatti Demattê

Professor do Dapartamento de Solos e Nutrição de Plantas da Esalq-USP

Op-AA-24

Época de plantio e de corte e a produtividade agrícola

Na lavoura canavieira, a produtividade agrícola está relacionada basicamente à ação do clima, agindo nos tipos de solos em função das épocas de plantio e de corte. Para isso, é necessário o adequado entendimento dessa relação para que se possa tirar o melhor proveito possível. Atualmente, ao invés dos tipos de solos, têm-se utilizado as informações contidas nos Ambientes de Produção (AP), sistema mais fácil de entendimento ao se realizar o planejamento agrícola.

Entretanto é preciso entender que AP não é sinônimo de tipo de solo. Um solo raso está classificado como AP "F", por exemplo, da mesma maneira que um solo arenoso, profundo. Por outro lado, manejo de solo relaciona-se às atividades a serem realizadas em função das características dos solos, visando melhorar as suas condições para receber a cultura.

Manejo de AP trata da adequação da planta em função do solo e das condições climáticas. Relações entre época de plantio, evapotranspiração (ET), AP e a produtividade:  No plantio de cana de ano e meio, janeiro a abril, à medida que aumenta o déficit hídrico, a produtividade tende a  ser maior em março-abril do que em janeiro-fevereiro, queda esta menos acentuada  nos APs mais favoráveis.

Um plantio em região de déficit hídrico de 5 mm/dia e em solo arenoso, a queda de produtividade num plantio de janeiro, comparado com o de abril, chega  a ser 40% menor. Em resumo, no plantio de ano e meio, deve-se iniciar pelos APs mais favoráveis e terminar nos menos favoráveis.

Plantio de Inverno: De maneira geral, no plantio de inverno, maio a agosto, com corte de 12 meses, a queda de produtividade ocorre nesse sentido, pois ela é de clima dependente, sendo maior nos APs menos favoráveis e menor nos melhores  APs. Em termos de manejo para melhor produtividade, deve-se iniciar o plantio nos APs menos favoráveis e terminar  nos de melhor fertilidade. 

Plantio de cana de ano: Num plantio de outubro–novembro o solo deve ter reserva suficiente de umidade e fertilidade para sustentar boas produtividades, pois o déficit hídrico no ciclo é grande. A produtividade comparativa nesse tipo de plantio em AP favorável tem sido 15 a 40% maior do que em AP desfavorável.

Manejo de soqueiras em função dos APs e época de colheita: De maneira geral, a maioria das usinas na região Centro-sul inicia a safra em abril, com término em meados de novembro. Independentemente dos APs e do número de corte, de maneira geral, a queda de produtividade se processa no sentido abril a novembro, podendo chegar a até 40% em região de déficit hídrico acentuado, faixa de 5mm/dia (Landell e Vasconcelos, 2004).

Essa queda novamente é clima dependente e não em função da quantidade de fertilizante. Sendo assim, o entendimento da relação AP, efeito climático e época de corte é de fundamental importância para se obter  o máximo retorno da produtividade. Essa queda também está relacionada aos APs. Resultados têm sido divulgados indicando que a produtividade das canas socas decresce nos melhores solos, com menor queda, podendo chegar a 8% nos solos de menor fertilidade, com maior queda, em até 30%.

A questão que fica pendente é a seguinte: como atenuar a queda da produtividade no período final de safra? Alternativas são as seguintes:

1. Em simulação feita por Landell e Vasconcelos (2004), quando compararam o término de safra em solo de melhor fertilidade comparado com solo de menor fertilidade, o acréscimo na produtividade da soca ficou na faixa de 43%. Estudos de simulações foram feitos na Usina São João, safra 2004/2005. Nesse caso, a produtividade das áreas comerciais de maio a novembro nos ambientes "D" foi de 88,5 t/ha, enquanto a produtividade, nesses mesmos ambientes, de setembro a novembro, foi de 76,6 t/ha.

Por outro lado, foi feita uma simulação de tal maneira que toda a área desses ambientes fosse cortada de maio a agosto. Nesse caso, a produtividade passou para 95,8 t/ha, ou seja, com 25% a mais de cana, sem gastar com fertilizante e herbicida. Tais resultados sugerem que o início de safra deve ser em solos de ambientes desfavoráveis e, em relação aos solos de ambientes favoráveis, eles podem ser manejados para colheita em todo o período de safra, porém há obrigatoriedade de se terminar a safra com eles.

2. Irrigação semiplena em soqueira: Em regiões de elevado déficit hídrico e com possibilidade de irrigação nas socas de final de safra, a aplicação de uma quantidade de água suficiente para suprir 40 a 45% da ET tem reduzido significativamente a queda de produtividade nesse período. Acréscimo de produtividade na faixa de 12 a 20 t/ha tem sido observado.

3. Cana bis: Em unidades onde há terra suficiente para suprir as áreas cortadas em meados de novembro e dezembro, a cana bis pode ser uma adequada alternativa de aumento de produtividade.

Os ambientes de produção e o planejamento agrícola: Uma vez estando devidamente conhecida, a maneira como os APs se alteram em relação aos déficits hídricos para as diversas regiões do Centro-Sul, há necessidade da elaboração de um adequado planejamento de áreas, levando-se em consideração tais fatores no manejo das soqueiras.

As áreas de ambientes desfavoráveis devem estar restritas nos compartimentos de variedades precoce e média, e praticamente poucas áreas no compartimento tardio. O contrário com as áreas dos ambientes mais favoráveis, onde as socas podem ser cortadas em todo o período de safra, porém sendo obrigatório seu término em solo de boa qualidade. Em todo o plantio e soqueira, nota-se a influência do clima na alteração da produtividade, e, sendo assim, a quantidade de fertilizante deve também acompanhar tal tendência.