Gerente Geral de Comércio de Produtos Claros da Petrobras
Op-AA-04
A partir dos choques do petróleo ocorridos na década de 70, o Brasil iniciou um programa pioneiro e de larga escala para a viabilização do uso de combustíveis renováveis. O Pro-álcool, como ficou conhecido, teve como foco a adição de álcool anidro à gasolina e a utilização de álcool hidratado em motores desenvolvidos especialmente para esta finalidade.
Durante todo o período a Petrobrás se envolveu do projeto, participando ativamente na produção de especificações e de tecnologias voltadas à sua utilização pura ou em misturas com gasolina, como também na implantação da infra-estrutura logística necessária à movimentação, armazenagem e distribuição pelo país. Cerca de 30 anos depois, estamos assistindo à emersão de diversas iniciativas similares em um grande número de países.
As projeções de oferta e demanda de álcool combustível no cenário mundial sinalizam uma verdadeira revolução no segmento para os próximos anos. Dessa vez, além dos fatores motivadores encontrados no passado, como a necessidade de redução da dependência do petróleo e da exposição à volatilidade de seus preços, cresce em todo o mundo um movimento voltado à conscientização das sociedades pela preservação do meio ambiente.
Diversos governos estão coordenando programas de incentivo ao uso do álcool automotivo, associados ao desenvolvimento de setores agrícolas locais, à eliminação do MTBE e do chumbo como aditivos oxigenados e antide-tonante à gasolina e à redução de emissões de gases poluentes. Nesse sentido, o Protocolo de Kyoto é um marco extremamente importante e irá implicar na multiplicação e aceleração da implantação desses programas.
Em países como Canadá, China, Espanha, EUA, França, Índia, Polônia e Suécia, essas iniciativas já ganharam materialidade, estabelecendo a adição compulsória ou incentivada de percentuais de álcool à gasolina, os quais variam, de maneira geral, de 5% a 10%. Apesar disso, não se pode afirmar que o mercado internacional de álcool combustível já esteja desenvolvido e consolidado.
Pelo contrário, mesmo com a demanda crescente, ainda são grandes as incertezas associadas à oferta. Na visão de alguns agentes, boa parte da insipiência dos mercados de álcool, seja no que se refere à instabilidade da oferta ou à volatilidade de preços, pode estar associada à adoção de regimes protecionistas locais e à ausência de orientações de política energética que, por sua vez, reduzem o mercado de álcool combustível a negócios ocasionais derivados de “janelas de oportunidades” que se abrem a partir de desequilíbrios entre oferta e demanda.
Nesse sentido, a inclusão do álcool na discussão das políticas energéticas desses países, poderia significar um avanço real e sem precedentes na direção dos renováveis. Assim, o consenso mundial acerca da necessidade de utilizarmos fontes de energia renováveis e menos agressivas ao meio ambiente, pode se tornar fator decisivo à estruturação de políticas públicas que orientem iniciativas nacionais integradas e que possibilitem maior previsibilidade dos seus fluxos comerciais.
Em outras palavras, os programas que ora estão sendo implementados em diversos países abrem possibilidades para que se construam expectativas de demanda mais firmes e que possam orientar as ações do lado da produção e do comércio internacional. A consolidação de mercados internacionais de álcool implicará na sua aceitação como commodity, abrindo possibilidades para o estabelecimento de regras de precificação, para a formação de mercados futuros, para a ampliação dos volumes comercializados e da liquidez dos contratos.
De acordo com essa trajetória, podemos esperar a negociação de contratos de longo prazo de compra e venda de álcool. Enquanto isso, no curto prazo, a adoção de fórmulas de preço referenciadas às cotações da gasolina e, talvez, do álcool para outros usos e do açúcar, poderia servir como base para a formação de mercados futuros e para a formatação de contratos de mais longo prazo.
Assim, estaremos possibilitando o equacionamento da questão mais delicada na construção do mercado de qualquer energético: a garantia de suprimento. No que se refere ao Brasil, observamos um constante crescimento da oferta e da demanda de álcool e o desenvolvimento de novas tecnologias, como é o caso dos motores flex fuel.. Ao mesmo tempo, a inserção do álcool na matriz energética de outros países tem impulsionado ainda mais a nossa produção com vistas à exportação, que registrou, em 2004, um crescimento expressivo.
A cada dia abrem-se novas oportunidades favoráveis aos investidores do segmento de produção. Por sua vez, os investidores estrangeiros, atraídos pela evolução do setor, vêm ampliando sua participação, aproximando o mercado doméstico ao mercado internacional e possibilitando a atração e viabilização de novos investimentos.
Atenta a esses fatos, a Petrobras, na condição de empresa internacional de energia, busca se estruturar para atuar de forma integrada na comercialização desse energético no mercado externo, utilizando seus escritórios e sua infra-estrutura logística no país e no exterior, os quais já possibilitam a exportação de cerca de 2 milhões de m³ por ano, capacidade que deverá ser multiplicada nos próximos anos.