Presidente do Sistema Faesp/Senar-AR/SP
Op-AA-05
No Brasil, cerca de 4,5 milhões de hectares são cultivados com cana-de-açúcar, produzindo aproximadamente 14 bilhões de litros de álcool combustível, além de fazer com que o País detenha o título de maior produtor mundial de açúcar e desenvolva tecnologia de cogeração de energia elétrica e adubos orgânicos e organominerais, utilizando-se dos subprodutos da cana.
No estado de São Paulo, esta cultura representa algo como 35% do PIB do agronegócio, influenciando a economia de mais da metade de seus municípios. Na agricultura, a cana é a cultura que mais emprega mão-de-obra. Em muitas regiões do Brasil, a utilização de mão-de-obra no corte de cana foi, é, e continuará a ser feita, levando em consideração o relevo, que em muitas regiões é fator limitante para a colheita mecanizada.
Para se dimensionar a importância desta especialidade para o setor sucroalcooleiro, vale lembrar que, na colheita, está 90% do contingente total da mão-de-obra do setor. No estado de São Paulo se emprega nesta tarefa 700 mil pessoas, número que, embora expressivo, ainda é pequeno para atender à demanda das usinas, nas quais 80% do corte da planta é realizado manualmente, já que a colheita mecanizada, além de deixar no campo uma quantidade significativa da planta, também acaba por diminuir a longevidade da produção, que não ultrapassa, por este sistema, cinco anos, enquanto pela manual pode chegar até 10 anos.
Atento às necessidades de formação e desenvolvimento profissional dos trabalhadores rurais, o Senar/SP desenvolveu o Programa Cana Limpa, assumindo um importante papel na capacitação dos profissionais deste importante segmento, e vem acompanhando a contínua evolução de melhoramentos nesta área. E esses resultados levou à transformação de cortadores de cana, em profissionais do corte.
Isso acontece, porque o Programa Cana Limpa proporciona aos profissionais do corte de cana condições de desempenhar um bom trabalho, com qualidade, produtividade e segurança. Neste final de ano, já estaremos contabilizando mais de 70 mil cortadores de cana treinados, para atender à demanda de 32 usinas de cana, entre as 152 existentes, em apenas um ano de trabalho, enquanto em 2004, foram atendidos 15 mil trabalhadores, de 11 usinas.
Os pedidos para ampliação do projeto já ultrapassam as fronteiras do estado de São Paulo. O treinamento destes profissionais procura mostrar a sua importância dentro deste representativo setor para a economia do país. E, ao sentirem-se valorizados, antes de tudo como seres humanos e como trabalhadores, a sua visão de mundo amplia-se. Eles passam a dar o melhor de si no seu trabalho, resgatam noções básicas de cidadania e, daí em diante, mudam a sua postura como indivíduos.
O corte manual de cana, realizado sem a queima prévia da palhada, tem se intensificado nos últimos anos, devido à legislação ambiental vigente. Esta é uma das etapas mais importantes dentro do setor sucroalcooleiro, no qual o cortador é responsável por manter uma das fases desse processo, cada vez mais fortalecida, por meio de um trabalho com qualidade e rendimento operacional satisfatório.
Mas para que esses resultados sejam convincentes é importante que o trabalhador conheça a planta, para saber corretamente as partes a serem cortadas e porque devem ser cortadas nos locais indicados. O Programa Cana Limpa está sendo desenvolvido de maneira a contribuir para o desenvolvimento do homem, como cidadão e como trabalhador, numa perspectiva de crescimento e de bem estar social.
Para a equipe técnica do Senar, o resultado do Programa Cana Limpa pode ser aferido pela mudança de comportamento dos profissionais treinados. Quando os cortadores iniciam o treinamento, muitas vezes sentem vergonha do que fazem, pois não se sentem importantes dentro da cadeia produtiva. Os profissionais treinados, que aperfeiçoam o seu trabalho, sentem-se também recompensados, porque conseguem, por intermédio das informações recebidas, melhorar a sua produtividade e, por conseqüência, a sua rentabilidade, aumentando sua eficiência de corte de 6 para 8, ou até 10 toneladas de cana por dia.
O Senar-AR/SP iniciou suas atividades do Programa Cana Limpa com a profissionalização dos trabalhadores envolvidos na área de colheita da cana-de-açúcar, mas deve estender, gradativamente, suas ações, para outros segmentos do setor sucroalcooleiro. Após as realizações dos treinamentos, verificamos que os resultados obtidos pelos parceiros (fornecedores e usinas) e, principalmente, com os trabalhadores envolvidos, superaram qualquer expectativa inicial.
Citamos: redução de acidentes dos trabalhadores do corte da cana, decorrente da conscientização do uso do EPIs; o trabalhador está mais cuidadoso com os seus EPIs, diminuindo a reposição dos equipamentos e ferramentas; diminuição das perdas, relacionadas ao corte de base e desponte; redução de impurezas; maior eficiência no corte; melhora da qualidade da matéria prima; longevidade das soqueiras; ambiente de trabalho mais limpo; comprometimento com o trabalho; valorização profissional; resgate da cidadania. E, finalmente, a capacitação destes profissionais treinados os conduz a uma maior interação com todos os integrantes da cadeia produtiva, gerando benefícios para todo o setor.