Diretor de Vendas e Mercado Nacional da Volkswagen
Op-AA-04
Quando lançou a tecnologia dos motores bicombustíveis em 2003, a Volkswagen nomeou um novo regulador para a demanda da produção de álcool combustível no Brasil: o consumidor. A decisão, que hoje prova a plena aceitação do mercado, deu novo sentido ao jogo de forças que se alternou à frente do Proálcool, desde 1975. Problemas relacionados ao subsídio, à pressão dos produtores, à oscilação do mercado externo e até a definição de uma política tributária diferenciada, por pouco não lançaram o programa na vala comum do descrédito público.
Os números do mercado de carros a álcool funcionam como um termômetro fiel dos erros e acertos do programa. O que sempre preocupou as montadoras, especialmente a Volkswagen, era o risco de o consumidor perder a confiança no carro a álcool, o que quase aconteceu de fato. Basta confrontar os resultados de 1985, quando mais de 90% dos carros de passeio vendidos no Brasil eram equipados com motores a álcool, com o ano de 1990, época em que foram os preferidos por pouco mais de 10% dos compradores de carros novos.
O desempenho anêmico das vendas de carros daí para frente quase determinou o fim do sonho do combustível genuinamente brasileiro e de um carro mais barato, de melhor desempenho e com menores índices de emissões. Naquele ano e nos anos que se seguiram, os fabricantes de veículos, além de terem pouco a fazer com seus estoques de peças para carros a álcool, viram-se diante do desafio de reabilitar rapidamente a produção de unidades a gasolina, para atender a um chamado uníssono dos consumidores.
Já naquela época, alertávamos o governo, os produtores e a sociedade para a urgência de se levar em conta que nós havíamos criado um mercado e que ele precisava ser atendido a qualquer preço. E assim fizemos. Ao longo de todo esse tempo a Volkswagen foi a única montadora a manter o carro a álcool em sua linha de produtos, apesar da contínua baixa demanda.
A tecnologia Total Flex representou a evolução técnica dos modelos a álcool e, em certa medida, ajudou a reconstruir a demanda interna do álcool carburante. Como fiel da balança, o consumidor pode hoje escolher a cada abastecimento se prefere rodar com álcool ou gasolina, conforme preço, qualidade, características de desempenho, consumo ou mesmo disponibilidade.
De novo são os números que mostram que estamos no caminho certo: 16,4% de todos os carros vendidos no mercado brasileiro, desde a entrada do Gol Total Flex, em março de 2003 até março de 2005, são modelos bicombustíveis. Isso é a média. Se tomarmos apenas o último mês de março, quando a oferta das montadoras se tornou mais consistente em vários segmentos, os bicombustíveis responderam por 35,7% dos carros novos emplacados no País.
Na Volkswagen, que também foi a pioneira na introdução do Total Flex para os motores 1.0, os bicombustíveis já representam 80% do total de carros produzidos. A tendência é de um crescimento acelerado e contundente para os próximos anos e não apenas no Brasil. Nos últimos dois anos, cresceu consideravelmente o interesse mundial pela tecnologia da combustão a álcool, o que pode ser medido pelo número de delegações de vários países que têm visitado a Volkswagen em busca de conhecimento e informação.
O que estes nossos parceiros buscam é uma alternativa ao petróleo, basicamente por questões econômicas e ambientais, já que os signatários do Protocolo de Kyoto têm muito pouco tempo para se adequarem aos limites de emissões estabelecidos, especialmente, no tocante ao CO2. O novo ambiente coloca a indústria automobilística e o setor sucroalcooleiro numa situação bastante confortável em termos globais.
Somos respeitados nos fóruns internacionais, simplesmente porque saímos na dianteira e revolucionamos o nosso mercado de carros. Parece-me bastante razoável que num primeiro momento países como Japão, Austrália, Tailândia, China, Índia e até os europeus, preocupem-se apenas em aumentar o nível de adição de álcool à gasolina e muitos teriam como dar conta dessa demanda.
A médio prazo, no entanto, será necessário lançar mão de novas tecnologias e é provável que eles se inspirem no modelo brasileiro, não só importando o nosso know-how e até produtos manufaturados, como também venham buscar aqui, junto ao maior produtor de álcool do mundo, os volumes para abastecer seus mercados.
É necessário discutir profundamente todas as questões que envolvem a cadeia produtiva do álcool, definindo claramente o seu papel na matriz energética brasileira, para estancar qualquer possibilidade de dúvida quanto à seriedade dos propósitos envolvidos. Uma vez assumido o compromisso internacional, tomamos um caminho sem volta para tornar um combustível mais limpo e renovável em produto de aplicação mundial.