Coordenador Geral do Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio Salvo Brito
Op-AA-12
Há alguns anos, em uma entrevista, falando sobre tendências da cultura brasileira, o atual Ministro Gilberto Gil disse uma frase importante: “às vezes, ser moderno é olhar para trás”. Esta frase aplica-se de forma bem adequada à tendência de evolução das fontes de energia no século XXI: partimos de um mundo renovável e estamos necessitando retornar a ele.
As primeiras fontes de energia utilizadas pelo homem foram renováveis: biomassa, eólica, solar, hidráulica (lenha, moinhos de vento, secadores de grãos, rodas d’água). Com o advento da máquina a vapor, da revolução industrial, da descoberta de petróleo farto e barato, a lógica da energia passou a ser gerida por recursos não renováveis.
Este fato tem, inclusive, enormes conseqüências geopolíticas: o petróleo está disponível em apenas algumas regiões do planeta e numa economia global, baseada em recursos fósseis, ele é necessário em todo o planeta. Além da questão geopolítica, a questão ambiental torna-se um dado importante, quando se fala em energia: as emissões resultantes da queima de combustível fóssil ameaçam fortemente o meio ambiente. Uma última questão: recursos não renováveis esgotam-se por definição.
Com uma urgência cada vez maior, a questão energética deve, necessariamente, lidar com as fontes renováveis de energia, menos agressivas ao meio ambiente, mais bem distribuídas ao redor do mundo e inesgotáveis. Isto sem abrir mão da eficiência energética e do combate ao desperdício. O século XXI, portanto, deverá “olhar para trás”, para o tempo do suprimento de energia renovável, quando refletir sobre seu futuro energético. Evidentemente, grandes progressos tecnológicos foram feitos nos últimos anos, no aproveitamento dos diferentes recursos renováveis. Geradores eólicos de grande porte, novos painéis fotovoltaicos, centrais térmicas de biomassa mais eficientes, são alguns exemplos.
O Brasil é um país dotado de grandes recursos renováveis, já em exploração ou ainda a serem explorados. O suprimento de energia elétrica, por exemplo, é, em quase oitenta por cento, feito através de hidrelétricas. A tendência, entretanto, é de diminuição de custos das alternativas e acréscimos nos da hidráulica, com aumento de competitividade das “novas” renováveis.
A participação da energia eólica na matriz energética nacional é apenas um leve traço (0,13%), gerado por uma potência instalada de quase 230 MW, muito pouco se comparado ao nosso potencial eólico, reconhecidamente dos maiores do mundo. Só a Alemanha tem cerca de 20 GW instalados, seguida pela Espanha e Estados Unidos, empatados com 11,6 GW cada. A potência total instalada, em nível global, é de 74,2 GW.
Apenas entre 2005 e 2006, foram instalados no mundo 15,2 GW. Políticas de incentivo, desenvolvimento tecnológico, queda de custos por economia de escala, além de busca por fontes de menor impacto ambiental, foram os principais fatores responsáveis por este crescimento mundial. Espera-se, para os próximos anos, a manutenção desta tendência.
Os números brasileiros são tímidos, em potência instalada, se comparados com o que acontece no mundo. Mas, a implantação, em 2006, dos primeiros parques eólicos do Proinfa, os Parques de Osório - RS e Rio do Fogo, RN, num total de quase 200 MW, vem pavimentar um caminho, na direção da maior participação de uma poderosa fonte de energia, como o vento.
Dificuldades para um crescimento sustentável do uso desta fonte existem, são conhecidas e, mais do que isto, estão em vias de serem solucionadas. A questão do índice de nacionalização, dificuldades de obter equipamentos no mercado e aumento temporário do custo, devido à demanda aquecida, podem ser citados como entraves de curto prazo ao desenvolvimento da energia eólica no Brasil, mas nada que impeça seu desenvolvimento no médio prazo.
Não devemos perder de vista que, em energia eólica, saímos, em pouco tempo, de algumas dezenas de MWs, para a escala de centenas, e com perspectiva de atingir, no médio prazo, outras ordens de grandeza. Não precisamos mais recorrer a exemplos internacionais para mostrar que a energia eólica é uma opção viável, pois nossos parques em operação são uma prova inequívoca. Esta fonte energética incorpora-se definitivamente no planejamento energético brasileiro.
Dentre os atrativos para o uso da energia eólica na geração, encontra-se a diversificação das fontes de suprimento no parque gerador e o curto prazo entre o projeto inicial e a instalação. Entre 6 e 12 meses é possível instalar uma fazenda eólica de algumas dezenas de MWs. Várias empresas têm-se mostrado interessadas na produção de equipamentos para exploração de energia eólica no Brasil, tanto para atender ao mercado interno, quanto para exportação.
A Woben Enercon, de capital alemão, já possui duas fábricas de aerogeradores no Brasil, para citar um exemplo de produção de equipamentos de grande porte. Fábricas brasileiras produzem partes de equipamentos que são exportados e montados em diversos países do mundo, incluindo os EUA. Fábricas de aerogeradores de pequeno porte (da ordem de kWs) também existem no Brasil, produzindo equipamentos de boa qualidade, mas necessitando de apoio para consolidar seu mercado.
Certamente, muito trabalho é o que espera os que atuam em diferentes áreas nas energias renováveis, energia eólica com papel de destaque entre elas. O último relatório da ONU sobre mudanças climáticas coloca as energias renováveis no centro do palco. O Brasil, com suas múltiplas opções renováveis, para uso próprio e com potencial excedente para ajudar a suprir o mundo, deve aproveitar o momento e dar sua contribuição.