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Fernando Gomes Perri

Diretor da Conexão Operações Comerciais

Op-AA-08

Precisamos investir em planejamento estratégico

O assunto formação de estoques tem sido muito discutido no momento, principalmente em decorrência dos problemas enfrentados no abastecimento desta safra, dos preços e do acordo com o governo. Entretanto, acreditamos que o problema setorial nasce antes do estoque estratégico, que poderá ser uma das ferramentas de gestão e não uma solução por si só.

Neste momento, o setor sucroalcooleiro deveria pensar em criar uma instituição que fosse capaz de realizar e gerir o Planejamento Estratégico do setor, visando maximizar os retornos setoriais de médio e longo prazo. Para que isto seja possível, seria necessário criar para o setor regras e mecanismos de gestão, que possibilitassem a realização dos mix de produção desejados e que maximizassem os retornos setoriais, transformando os produtores brasileiros em fornecedores globais e não mais em exportadores de excedentes, como somos atualmente.

Várias são as fórmulas que poderiam ser adotadas, mas temos a consciência de que não existe um sistema que vá agradar a todos, mas, com certeza, o sistema escolhido será melhor para o setor do que permanecer como estamos, com uma visão focada no curto prazo, para não dizer no dia de hoje. As leis do livre mercado são importantes, mas conhecermos nosso mercado, dimensionarmos e atendermos as expectativas, tanto da sociedade, como do governo, são pontos importantes.

Criar uma comunicação clara e objetiva, mostrando as limitações e metas a serem atingidas e o acompanhamento permanente, com correção sistemática das distorções, passa a ser um ponto fundamental. Muitos, neste ponto, diriam que isto não passa de um sonho impossível de ser implementado, mas a resposta viria de uma máxima: “Onde o impossível é o possível, que não foi tentado”. Além disto, não existe uma solução única, imediata e de fácil implantação.

O caminho é de contínuo aperfeiçoamento e melhoria, dia a dia. Também vamos ouvir que isto seria uma intervenção nas leis de livre mercado, mas não podemos esquecer que nosso setor é fragmentado, dependente do clima, com produtos para diferentes usos e mercados e com produção sazonal. Neste ponto, entra um componente importe. O álcool é um produto estratégico ou deve ser tratado como uma commodity? Estes pontos devem ser esclarecidos no planejamento e encontraremos o posicionamento correto para cada produto e de como abastecer cada mercado.

Nós, que estamos no setor há um bom tempo, sabemos os problemas enfrentados no passado e o quanto as imagens do setor e de seus produtos foram afetadas. Neste momento de recuperação, temos de saber administrar a euforia e olhar o mais distante possível, fortalecendo nossa imagem, para garantirmos um futuro melhor.

Para isto, é importante conhecer nossas capacidades produtivas e demandas e termos mecanismos para conseguirmos direcionar o setor ao cumprimento das metas planejadas. Após estas considerações, poderemos realizar algumas ponderações sobre os estoques estratégicos: Para qual dimensão de mercado estamos pensando? De quem será a responsabilidade pela formação dos estoques? Qual será o papel dos players neste mercado? Quem terá a gestão dos estoques e com que base estes estoques serão formados e liberados?

Com estas questões, podemos verificar que, sem um planejamento estratégico, o estoque de segurança poderá não ter os efeitos desejados pela cadeia produtiva. Adiantando um pouco mais nossa linha de raciocínio, poderíamos questionar sobre a efetiva responsabilidade de abastecimento de mercado. Até o presente momento, foram enfrentadas algumas dificuldades em relação a este ponto, mais em decorrência de efeitos climáticos do que efetivamente por decorrência de consumo.

Agora, começamos um novo ciclo. O flex-fuel transformou-se num sucesso comercial no Brasil e começa a se disseminar pelo mundo, trazendo uma grande perspectiva de demanda. Como fator complicador de estimativas e gestão, temos o componente de preço, que pode acelerar ou desacelerar o consumo, mas com a instabilidade dos preços de petróleo e a sazonalidade de produção de nosso setor, administrar demandas pontuais passa a ser importante.

Por outro lado, a demanda de açúcar também cresce e tivemos a limitação de exportação da EU e alguns países produtores de açúcar também irão redirecionar suas produções para o álcool, principalmente na América Central, visando o mercado Americano, que está em franca expansão. Apesar de todas estas considerações, para pensarmos em formar estoques, o primeiro passo é conseguirmos o crescimento necessário para o abastecimento dos mercados e geração de excedentes.

O crescimento também tem de ser administrado e a questão logística analisada, pois grande parte do aumento da produção deverá ser direcionada para o mercado internacional. A falta de regras do setor poderá gerar antagonismo entre os produtores devido ao crescimento, fato que numa indústria fragmentada como a nossa pode representar um risco, ainda mais com estoques elevados.

Após o exposto, duas coisas mostram-se importantes. Em primeiro lugar, precisamos equacionar todas as oportunidades e riscos que envolvem o setor e dar a este um direcionamento, e em segundo lugar, faz-se necessário termos as ferramentas de gestão, que possibilitem o correto direcionamento do setor. Temos de administrar este bom momento, garantir mercados e buscar um crescimento sustentado. O Planejamento Estratégico é a grande ferramenta que dispomos para definirmos o futuro. Vamos investir neste sentido.